A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou neste sábado, 22, que o mundo avançou na discussão climática, “ainda que modestamente”. Em discurso no final da plenária da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), Marina foi ovacionada pelos delegados de outros países e se emocionou.

“Progredimos, ainda que modestamente”, disse. Durante sua fala, a ministra fez um paralelo com a Rio 92. Para ela, se os negociadores voltassem no tempo e se encontrassem com os líderes que participaram daquela reunião, ouviriam que os resultados estão aquém do esperado.

“Certamente nos diriam, antes de tudo, que sonhávamos com muito mais resultados, esperávamos que a virada ambiental seria mais rápida, a ciência seria suficiente para mover decisões, a urgência falaria mais alto do que qualquer outro interesse”, refletiu a ministra.

Marina voltou a falar da necessidade da definição de roteiros para o afastamento de combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento. Ambos objetivos ficaram de fora da decisão da COP30, mas serão apresentados posteriormente pela presidência da conferência.

“Em que pese ainda não ter sido possível o consenso para que esse fundamental chamado entrasse nas decisões desta COP30, tenho certeza de que o apoio que recebeu de muitas Partes e da sociedade fortalece o compromisso da atual Presidência de se dedicar para elaborar dois mapas do caminho”, disse Marina.

Durante sua fala, Marina celebrou alguns avanços obtidos na COP30, como o reconhecimento do papel dos povos indígenas e comunidades tradicionais. “Nos instrumentos globais para adaptação, também tivemos progresso. Embora haja desafios, pela primeira vez temos um rol de indicadores globais de adaptação que certamente precisam ser aperfeiçoados e ampliados”, lembrou a ministra.

A COP30 definiu uma lista de indicadores que serão utilizados para medir a maneira como as nações têm se adaptado à mudança do clima. Os parâmetros incluem assuntos que vão de saúde à cultura. A lista inicial trazia 100 indicadores, que foram reduzidos para cerca de 60, o que desagradou parte dos países. O tema continuará sendo discutido no ano que vem nas reuniões preparatórias para a COP-31, em Bonn, na Alemanha.

Por fim, Marina agradeceu aos países que vieram à COP30, em Belém, e fez um mea-culpa.

“Talvez não os tenhamos recebido como vocês merecem, mas recebemos da forma como achamos que é o nosso gesto de amor à humanidade e ao equilíbrio do planeta”, disse.

A COP30 enfrentou diversos problemas de estrutura, que acabaram gerando forte reação da Organização das Nações Unidas (ONU). No episódio mais traumático, uma parte do pavilhão dos países, na zona azul, onde ocorriam as negociações, pegou fogo.

Antes mesmo do início da COP30, a crise dos altos preços para acomodação acabou levando um grupo de países a pedir a mudança da sede.

O secretário executivo da UNFCCC, braço de clima da ONU, Simon Stiell, afirmou que a “COP da verdade” está reagindo, mas que isso significa que também é preciso ser realista.

“Muitos países queriam avançar mais rápido nos combustíveis fósseis, no financiamento e na resposta aos desastres climáticos crescentes. Entendo as frustrações – e compartilho muitas delas. Mas não vamos ignorar o quanto esta COP nos fez avançar”, disse.

Até o final da COP, 122 países apresentaram suas metas de redução de emissões dos gases de efeito estufa (NDC, na sigla em inglês), entre 198 partes que compõem o Acordo de Paris.

Stiell mencionou indiretamente a ausência dos Estados Unidos na COP30. Neste ano, o presidente americano Donald Trump retirou o País do Acordo de Paris. Os EUA também não enviaram delegados para a COP de Belém.

“Este ano, muita atenção foi dada para um país que recuou. Mas, em meio aos ventos políticos de força máxima, 194 países permaneceram firmes em solidariedade – inabaláveis no apoio à cooperação climática”, disse, em referência aos países que participaram da COP30.