Juros em queda, inflação controlada, desemprego em baixa e balança comercial em níveis recordes. Para surpresa de grande parte do mercado financeiro, a conjuntura econômica brasileira está melhorando. O mais recente Relatório Focus, do Banco Central, mostra que os economistas de mais de 100 instituições financeiras elevaram a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 de 1,52% para 1,59%. No mesmo sentido, a projeção para a Selic é de fechar o ano em 9%, enquanto a projeção de inflação recuou de 3,93%, em dezembro, para os atuais 3,90%. O superávit da balança comercial, antes projetada em algo próximo a US$ 75 bilhões, fechou 2023 em US$ 98,8 bilhões e deve repetir a performance em torno de US$ 100 bilhões.

Toda essa mudança nos palpites parece pequena, mas sinaliza uma trajetória importante: a de que o humor e a percepção de melhora do ambiente macroeconômico estão em alta. Embora ninguém tenha ousado prever indicadores melhores do que os do ano passado, há uma sensação generalizada de que 2024 não deve representar uma freada brusca.

Entre os mais otimistas está o Safra. Para os economistas do banco, entre eles o ex-presidente do BC Joaquim Levy, a combinação de inflação baixa, mercado de trabalho estável e expansão de crédito deve fazer o PIB crescer 2,5% neste ano.

“A grande safra agrícola e a diminuição da inflação internacional se traduziram em um crescimento do PIB brasileiro dobrado em 2023, em um mercado de trabalho estável e na aceleração da convergência da inflação para a meta”, disse Levy, em artigo publicado na Interesse Nacional. “Esses fatores deram tranquilidade aos mercados e fôlego ao governo em um ambiente político complexo. Apesar da questão fiscal, projeta-se que a dinâmica econômica benigna criada ao longo de 2023 pode facilitar a expansão da atividade econômica em 2024, especialmente na medida em que o setor externo continuar robusto.”

1,59%
É a nova projeção do mercado para a alta do PIB

3,9%
é a previsão de inflação para 2024, dentro da meta do BC

Grande parte desse aumento discreto do otimismo com 2024 se explica pelo efeito positivo que o corte da Selic deve gerar sobre diversos setores produtivos. Entre eles, a construção civil. Pelos cálculos do Sincomavi, um dos principais sindicatos que representam o comércio varejista de material de construção, o PIB do setor deve puxar a economia para cima em um cenário que combina aumento do crédito imobiliário por causa dos juros mais baixos, redução do endividamento das famílias e expansão dos programas habitacionais do governo federal, como o Minha Casa Minha Vida (MCMV).

“A perspectiva do setor, da indústria ao varejo, para uma retomada de maior dinâmica de resultados se baseia, principalmente, nos impactos esperados de uma redução contínua da Selic em 2024”, disse o economista da entidade, Jaime Vasconcelos.

Com superávit de quase US$ 100 bilhões em 2023, a balança comercial brasileira deve ajudar a puxar o PIB para cima este ano (Crédito:Mario Tama)

O mercado, na avaliação de Vasconcelos, se mostrou apreensivo em 2023 com a demora da vigência das novas regras do programa MCMV, que só começaram a valer na segunda metade do ano.

Considerando a meta do próprio Governo Federal de contratar 2 milhões de novas moradias até 2026, a expectativa é de um ritmo melhor do programa ao longo de 2024. “Se concretizado, deve ser um relevante indutor de novos negócios.”

AMBIENTE FAVORÁVEL

Outro fator que alimenta a melhora das projeções para o ano são as medidas fiscais aprovadas pelo Congresso. Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, o cenário mais positivo para o governo abre espaço para que o BC mantenha o ritmo de corte dos juros e derrube os juros reais (Selic, descontada a inflação) para próximo de 5% ao ano.

“Isso reduz as preocupações em relação aos rumos da economia em 2024 e, junto de um cenário global mais favorável, cria um uma perspectiva mais positiva para o crescimento”, disse.

Além dos fatores internos, Costa avalia que o horizonte de mais otimismo para as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, vai contribuir com a expansão do PIB brasileiro. “Com as medidas do governo e o cenário favorável, o PIB tem potencial para crescer até 4,5%”, afirmou.