Os dez vencedores do edital da Iniciativa Incluir 2017, projeto conjunto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), foram divulgados hoje (22), no Rio de Janeiro, e incluem projetos de impacto social de várias regiões do país, alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

A ideia inovadora Carborroz, do Rio Grande do Sul, por exemplo, transforma resíduo da queima da casca do arroz em carvão ativado de baixo custo para tratamento de água e esgoto, e o negócio com solução de impacto ambiental Vianatus, de São Paulo, implanta hortas em telhados e em paredes com um sistema de irrigação automatizado, cuja manutenção é feita por um grupo de mulheres em situação de vulnerabilidade, incluindo refugiadas.

Foram selecionados também negócios: de impacto social (Firgun, de São Paulo, que viabiliza o microcrédito, sem juros, para microempreendedores das classes C, D e E, com renda familiar ‘per capita’, isto é, por pessoa, de até R$ 750); de impacto em escala (Smartmei, de São Paulo, serviço gratuito de contabilidade para microempreendedor individual); de impacto rural (Adapta, do Rio de Janeiro e Bahia, que propõe solução para aumento da produção de leite na Caatinga); negócio inclusivo na cadeia de valor (Saladorama, de Pernambuco, cuja missão é democratizar o acesso à alimentação saudável e de qualidade em comunidades de baixa renda).

O edital reconheceu ainda os projetos Moradigna, na categoria juventude de impacto, Muda Meu Mundo (mulheres de impacto), Construção de Tecnologias Sociais Agroecológicas no Interior do Maranhão (integração dos ODS) e MatureJobs (soluções para melhor idade).

Objetivos

“A gente está mapeando as iniciativas, premiando, e o nosso objetivo é fazer com que esses casos sejam considerados exemplares e, com isso, a gente possa disseminar a ideia pelo país de negócios com impacto social e ambiental”, disse à Agência Brasil a diretora técnica do Sebrae Nacional, Heloísa Menezes. O Brasil, segundo Heloísa, tem um volume significativo de negócios com esse viés, estimado em cerca de 22 mil negócios sociais e inclusivos, que visam o lucro.

É um lucro com propósito, porque está solucionando uma questão social ou ambiental crítica no país ou no mundo. A diretora do Sebrae observou que as próprias desigualdades econômicas e regionais do Brasil acabam funcionando como um insumo para esses negócios de impacto, porque visam atender as necessidades da base da pirâmide. “Em países em desenvolvimento como o Brasil e Índia, há muito a ser feito ainda para atender as demandas das classes mais baixas”.

Heloísa destacou que muitas dessas soluções são buscadas pelos próprios empreendedores das comunidades. Há também negócios de impacto que são feitos para a base da pirâmide, visando não só ganhar dinheiro, mas dar resposta para problemas sociais e ambientais. “Hoje, a gente está vendo muita startup (empresa nascente) com essa pegada, com esse objetivo de atender a um propósito social para mudar a realidade. Tem um campo fértil de trabalho para as empresas de impacto”.

Afirmou que a divulgação dessas boas práticas faz com que elas sirvam de exemplo para o surgimento de iniciativas similares. Destacou que há uma sinergia grande entre os negócios de impacto social com a superação dos entraves que são preconizados pelos ODS da ONU, que prevêem erradicação da pobreza, estímulo à economia local, equidade de gênero e melhoria do acesso à alimentação, educação e manejo sustentável do meio ambiente, entre outras metas.

PNUD

O edital recebeu um número recorde de inscrições (857) de todas as regiões brasileiras. A gerente de Parcerias para o Setor Privado do PNUD Brasil, Luciana Aguiar, ressaltou que o edital mostra uma nova tendência de negócios de impacto social no Brasil, porque traz muitos negócios que começam a integrar a dimensão social com a dimensão ambiental. “Mostra que os negócios podem não só ser lucrativos, mas também trazer soluções para as questões do desenvolvimento sustentável. O interessante dessa chamada é essa integração.”

Observou também a grande distribuição geográfica que a chamada pública teve no Brasil. Quase todos os estados foram representados nos casos inscritos, embora o maior peso estivesse no Sudeste e Sul, “mas já mostrando uma tendência forte de atuação no Norte e Nordeste. Os negócios têm uma visão de compartilhar valor com a sociedade.

A gerente do PNUD Brasil informou que a partir de agora, representantes do PNUD e do Sebrae vão se reunir com aceleradoras (empresas que apoiam o desenvolvimento de startups) e potenciais investidores de impacto. Esse conjunto de parceiros vai analisar os casos e disponibilizar um apoio ao processo de aceleração ou aplicar recursos, disse Luciana. Não há um volume definido. O suporte financeiro será anunciado no dia 5 de outubro, em Brasília, durante solenidade de premiação dos negócios de impacto social, organizada pelo Sebrae Nacional e PNUD. Outro edital com esse mesmo recorte deve ser lançado em parceria pelas duas entidades, em 2018.