30/03/2001 - 7:00
As bolsas de valores têm sido implacáveis com as companhias de tecnologia. Poucas, porém, sofrem tanto com o ceticismo dos acionistas quanto o provedor corporativo PSINet. A empresa, que surgiu nos Estados Unidos em 1989, tinha como meta se destacar como a única capaz de oferecer serviços de Internet para clientes em escala mundial. O objetivo nada modesto era estar entre os três provedores líderes nos 20 maiores mercados de Internet. Para isto, 65 companhias foram arrematadas num ritmo alucinante em todo o mundo. No Brasil, a PSINet levou 11 corporações e se firmou entre os cinco maiores provedores, com um carteira de 13 mil clientes corporativos. Mas, hoje, a situação da companhia guarda pouco em comum com toda esta pujança. As ações, que há um ano foram cotadas a US$ 51, caíram 74% em um único dia e chegaram a míseros US$ 0,19. Motivo: em carta divulgada à imprensa há poucos dias, a empresa afirmou que está negociando uma dívida com acionistas e credores no valor de US$ 3,6 bilhões ? uma conta difícil de ser paga já que a PSINet perde US$ 100 milhões por mês e tinha, no início de março, US$ 300 milhões em dinheiro. As soluções apontadas na carta são uma possível fusão ou a venda para outra companhia. E o texto continua: ?Não há garantias de que a companhia terá sucesso na reestruturação de suas obrigações ou conclua uma dessas alternativas estratégicas. O Wall Street Journal, mais conceituado jornal econômico americano, escreveu que a PSINet deve decretar a falência em breve, o que fatalmente repercutiria nas suas unidades espalhadas pelo planeta. ?Todas as empresas de tecnologia estão sendo afetadas. Mas o nosso negócio continuará crescendo?, acredita José Peyon, diretor de marketing no Brasil. O faturamento no ano passado foi de US$ 48 milhões, o dobro do registrado no período anterior. Mas a situação mundial deixa dúvidas sobre o futuro. ?Estamos em um momento de transição?, diz Peyon.
A história da PSINet começou no Brasil há dois anos, quando a auto-intitulada ?gigante? comprou o provedor paulistano STI. Seguindo a filosofia de que quanto maior, melhor, a empresa adquiriu companhias em Salvador, Campinas, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. Mas com a curva da Nasdaq ? bolsa americana que negocia papéis de tecnologia ? apontando para baixo, seu principal executivo William Schrader, considerado então um visionário, passou a ser chamado de aventureiro, principalmente pelo valor pago em outras empresas. ?Quem estiver disposto a nos comprar é melhor colocar o preço certo na mesa?, disse ele uma vez. ?Ou nós vamos comê-lo.? A bagatela de aquisições consumiu mais de US$ 1,7 bilhão, uma hemorragia aos olhos dos tímidos investidores de hoje.
Com a ladeira financeira, a PSINet também ficou mais cautelosa na hora de abrir a carteira. Dos quatro datacenters planejados, só dois foram construídos, um em São Paulo e outro no Rio. Os 160 mil assinantes domésticos que vieram com os 11 provedores não devem ser atingidos. Eles passaram para as mãos da Inter.net, um provedor que saiu de dentro da PSINet e trabalha com independência quase total desde o início de março (sua antiga dona tem uma parcela minoritária das ações). Para os que compraram os papéis da PSINet só resta torcer para que o banco de investimento americano Goldman Sachs, contratado em novembro, encontre um interessado na sua aquisição. Com a falência, a possibilidade de ganhar dividendos é quase nula. Até porque a dívida de US$ 3,6 bilhões supera o valor de mercado da empresa, abaixo dos US$ 3 bilhões.