O PT precisa deixar mais claro internamente e para possíveis aliados que vai usar as eleições deste ano para fazer dois movimentos distintos e simultâneos. O primeiro e mais importante é a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. O segundo é eleitoral. A avaliação é do prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT). Abaixo, os principais trechos da entrevista do petista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo:

Qual a sua avaliação sobre a tática do PT de manter a candidatura do ex-presidente até o fim?

Penso que não há outro caminho do que o PT usar, de forma pensada e dialogada internamente, com os aliados e com a sociedade, a campanha eleitoral como o momento ímpar de defesa do legado Lula, que é maior do que o próprio Lula. Isso não é um erro, mas tem que ficar muito claro para os aliados e a sociedade.

Está havendo esse diálogo?

Estou muito afastado da direção, mas nas oportunidades que tive de diálogo vi que começa a clarear a percepção de que isso deve ser feito abertamente. Significa que o PT estará abrindo mão de ganhar as eleições? Não. Ganhar as eleições é importante para a retomada de um projeto nacional, mas não pode ser omitido que o momento é especial para a defesa do legado do Lula. O PT não está errado se escolher este caminho, mas isso não pode contaminar o movimento maior que o PT tem de participar, ter a capacidade de aglutinar forças políticas partidárias e uma articulação mais ampla do que os próprios partidos.

O PT deve priorizar a defesa de Lula no processo eleitoral?

Não tenho nenhuma dúvida. Mas penso que este movimento tem de ser racional e debatido com a sociedade. O PT vai manter a candidatura do Lula porque é a única forma de fazer a defesa dele e do legado dele. Dizer ‘olha, nós vamos usar as eleições para que este debate seja feito’ não está errado, mas tem de ser feito de forma muito clara: o PT quer ganhar as eleições, mas quer usar as eleições para fazer este debate. O que me preocupa? Temos que ser capazes de fazer um movimento maior do que o eleitoral, sem que uma coisa contamine a outra.

Este movimento atrapalha a relação com os aliados?

Tem contaminações. Várias turbulências podem ser evitadas se isso for debatido de forma mais clara.

Por exemplo?

Não há porque ficarmos criando atritos com Ciro Gomes (pré-candidato do PDT). É um personagem importante para este movimento mais amplo e, se nós dialogarmos sobre qual o papel que o PT vai cumprir neste processo eleitoral, tenho certeza que ele vai compreender, assim como o Guilherme Boulos (PSOL) e a Manuela (D’Ávila, do PCdoB). Vão entender que o PT vai utilizar as eleições para fazer a defesa do Lula. Não vai haver falsas polêmicas, falsos embates, se dissermos a eles que no momento certo estaremos juntos na disputa, mas queremos construir com eles algo mais amplo.

Essa estratégia não prejudica o PT?

O PT não pode ir para o isolamento. Por isso, entendo que precisamos construir um campo maior do que o processo eleitoral. Isso definitivamente nos tira do isolamento e deixa claro para a sociedade, para os governadores qual é o papel das eleições para nós neste momento. Deixar claro porque é tão importante para o PT tratar como centro do debate a defesa do Lula. E que vamos tentar construir uma vitória eleitoral que, se não for nossa, seja de algum aliado.

O sr. considera certa a forma como o PT se relacionou com grandes doadores?

Penso que depois de quatro anos precisamos pensar na retomada da estabilidade política e nas reformas que precisam ser feitas, principalmente a eleitoral. O erro que o PT cometeu foi ter reproduzido o mesmo sistema eleitoral que todos os outros partidos. Fica estranho aos olhos da sociedade a subjetividade na interpretação da lei. Isso enfraquece o Judiciário.

O sr. é alvo de processo criminal na Lava Jato. Teme essa “subjetividade”?

Tudo que sofri de acusação foi de quando ocupei o cargo de tesoureiro da campanha (de Dilma Rousseff em 2014). Nunca participei de reunião envolvendo a Petrobrás. Então, se a acusação contra o (Geraldo) Alckmin (PSDB) é eleitoral, a minha é muito mais. Só que a dele está na Justiça Eleitoral e a minha está na Criminal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.