14/01/2003 - 8:00
A última coisa que a Walt Disney Company precisava no momento era de uma derrota monumental nos tribunais. Não bastasse ter de amargar uma seqüência histórica de desvalorização de suas ações em Wall Street; de ver seu presidente mundial, Michael Eisner, perder prestígio a cada dia; de registrar a fuga de visitantes de seus parques temáticos e lamentar um rombo de
US$ 158 milhões em suas contas, o Reino Encantado agora se vê às voltas com o desfecho de uma longa ação judicial que pode lhe arrancar uma verdadeira mina de ouro: o Winnie The Pooh, aquele ursinho que faz a alegria de crianças do mundo todo (no Brasil, ele se chama Puff) e rende aos cofres da companhia US$ 1 bilhão ao ano, incluindo receitas com licenciamento e vendas de fitas e DVDs. Para se ter um idéia do que o peludo personagem significa para o balanço da Disney basta dizer que ele fatura o mesmo que Mickey e Minnie Mouse, Pato Donald, Pateta e Pluto juntos. Pois bem. Quem está brigando pela guarda de Pooh é Shirley Slesinger Lasswell, de 79 anos, e sua filha Pati. Alegam que a Disney não pagou, durante a última década, os royalties sobre o personagem. É necessário explicar aqui que Shirley herdou os direitos autorais de Pooh quando seu marido, Stephen Slesinger, morreu em 1953. Ele havia adquirido tal benefício em 1930 ao negociar com o criador do ursinho, o americano A. A. Milne. Com a morte do marido, Shirley repassou os direitos à Disney em troca de royalties. E agora argumenta que a companhia não honrou seus compromissos. Segundo a família, a dívida beira os US$ 4 bilhões.
Shirley e Pati também querem anular o contrato com a Disney. Assim, poderiam elas mesmas, por meio da empresa Stephen Slesinger Inc, conduzir os negócios envolvendo o Pooh. Seria um tombo gigantesco nas finanças do Reino Encantado. Por isso mesmo os executivos da Disney, sempre muito polidos no trato, mudaram os hábitos e partiram para cima dos Slesinger. Em nota oficial, dizem que Shirley ?deveria agradecer a Disney, por tê-la enriquecido ao fazer um grande trabalho com o Pooh?. Em vez disso, continua o documento, ?… ela esforça-se em mudar os termos de um antigo contrato para embolsar royalties em vários artigos, até em fita de vídeo, que nem existia em 1930?. Shirley rebate com documentos. O acordo firmado entre o marido dela e o criador do Pooh previa a utilização do personagem em rádio, televisão ou ?qualquer outra invenção criada no futuro?. Se Shirley manteve os termos do antigo contrato quando assinou com a Disney, ponto para ela.
O episódio ganhou os jornais americanos. Milhões de dólares estão sendo gastos no processo e a Corte Suprema de Los Angeles promete para breve um veredicto. A Disney está apreensiva. Comunicou recentemente a Security Exchange Comission (SEC), espécie de CVM americana, que uma derrota neste caso significaria a ?perda de milhões de dólares?. Procurada, a Disney preferiu não se manifestar. Do outro lado, é só otimismo. ?Depois de tanto tempo, estamos muito confiantes numa vitória?, diz Pati Slesinger.