20/10/2022 - 16:06
Eles são majestosos, poderosos e vivem nas colinas que cercam Los Angeles: não, não se trata de astros de Hollywood, mas dos últimos pumas da cidade, cuja sobrevivência está em risco devido à frequência maior de incêndios florestais nos Estados Unidos, induzidos pelas mudanças climáticas.
Os incêndios expõem estes grandes felinos a mais colisões com automóveis ou brigas com outros indivíduos de sua espécie.
Um estudo conduzido por Rachel Blakey, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e publicado nesta quinta-feira (20) na revista Current Biology, analisou o impacto do incêndio Woolsey de 2018, que devastou o hábitat dos pumas nas montanhas de Santa Mônica, a noroeste de Los Angeles.
“Não se trata apenas da quantidade de animais mortos neste incêndio – dois pumas neste caso. Precisamos pensar em como esta mudança na paisagem influenciará a forma como estes animais experimentam atualmente outros fatores estressantes”, disse a pesquisadora à AFP.
Originária da Austrália, Blakey estuda a vida selvagem da Califórnia há sete anos e ficou “impressionada” quando soube que uma cidade de 10 milhões de habitantes convive com uma população de pumas.
Estes predadores são uma das duas espécies de grandes felinos das Américas, juntamente com os jaguares, que vivem mais ao sul, na América Central.
Em termos gerais, a espécie está bastante saudável, explica Blakey, embora a área de distribuição destes animais tenha sido muito maior no passado, indo de costa a costa da América do Norte antes da chegada dos europeus.
Mas há áreas dentro da Califórnia em que os pumas estão cercados por centros urbanos e rodovias, o que reduz sua diversidade genética e exerce grande pressão sobre sua sobrevivência. Los Angeles é uma destas regiões.
– Consanguinidade –
Nos últimos 20 anos, o Serviço de Parques Nacionais (NPS, na sigla em inglês) tem rastreado esta população isolada, que geralmente conta com 10 a 12 indivíduos, em média.
Já tinham sido notados sinais preocupantes de endogamia, como caudas retorcidas e esperma de baixa qualidade, mas os pumas continuavam ali, apesar de tudo.
Blakey e seus colegas do NPS usaram dados de geolocalização das etiquetas dos animais para compreender o impacto do incêndio Woolsey, que consumiu 40.000 hectares de vegetação em novembro de 2018.
O que descobriram estava longe de ser animador.
Após o incêndio, estes felinos evitaram as áreas queimadas, que antes haviam utilizado para emboscar suas presas ou para se esquivar de combates com outros machos.
Também assumiram mais riscos, fazendo mais travessias, inclusive por rodovias. Sua taxa de travessia da autoestrada 101, uma rodovia concorrida com dez faixas de rolamento, passou de uma a cada dois anos para uma a cada quatro meses.
Segundo Blakey, isto se tornou “muito, muito chamativo, já que estas rodovias são uma das principais causas de morte para esta população”.
Os felinos também tiveram que se esforçar mais para garantir sua sobrevivência.
Assim, os indivíduos percorreram, em média, quase 400 km mensais – 150 km a mais do que antes do incêndio -, aumentando suas necessidades alimentares e o risco de lutas mortais com outros pumas.
– Ponte de vida selvagem –
O estudo também revela que, apesar do medo dos moradores, os pumas continuam temendo muito os humanos e passavam apenas de 4% a 5% de seu tempo em áreas urbanas tanto antes quanto depois do incêndio.
Seth Riley, coautor do estudo e pesquisador do NPS, disse à AFP que embora os pumas tenham voltado ao seu hábitat anterior com o reflorestamento, as mudanças climáticas continuam trazendo riscos.
A preocupação continua sendo enfrentar incêndios maiores e mais frequentes.
“A seca não ajuda”, disse o pesquisador, já que a Califórnia lida com este outro fenômeno climático há anos.
Cientistas e conservacionistas têm grandes esperanças na ponte de vida selvagem de Wallis Annenberg, uma passagem elevada com vegetação, em construção atualmente, que foi projetada pensando nos pumas e em outras espécies.
Obviamente, alguns animais continuarão sendo atropelados, disse Riley.
Mas a ponte vai ajudar a restabelecer a conectividade entre os pumas de Santa Mônica e outras populações do norte, o que permitiria o intercâmbio genético necessário.