23/09/2024 - 14:49
Por Aditya Soni e Yuvraj Malik
(Reuters) – Um possível acordo para a compra da Intel pode acelerar a diversificação da Qualcomm, mas sobrecarregará a fabricante de chips para smartphones com uma unidade de fabricação de semicondutores deficitária, que ela poderá ter dificuldades para reestruturar ou vender, disseram analistas.
Uma compra também enfrentará um duro exame por parte de autoridades de defesa da concorrência em todo o mundo, pois unirá duas grandes empresas, criando um gigante global com uma forte participação nos mercados de smartphones, computadores pessoais e servidores.
+ Intel recebeu cerca de US$ 3 bi do governo dos EUA para aumentar resiliência do setor de chips
As ações da Intel subiam 2,5% nesta tarde, após publicações da mídia na sexta-feira sobre a abordagem em estágio inicial da Qualcomm pela empresa. As ações da Qualcomm caíam 2%.
“Os rumores de um acordo entre Qualcomm e Intel são intrigantes em muitos níveis e de uma perspectiva puramente de produto fazem certo sentido, já que elas têm várias linhas de produtos complementares”, disse Bob O’Donnell, fundador da TECHnalysis Research.
“No entanto, a probabilidade de que isso realmente ocorra é muito baixa. Além disso, é improvável que a Qualcomm queira toda a Intel e tentar separar o negócio de produtos da divisão de fundição neste momento simplesmente não seria possível”, disse ele.
Outrora a força dominante na indústria de chips, a Intel, com cinco décadas de existência, está enfrentando um de seus piores períodos, à medida que as perdas aumentam na unidade de fabricação por contrato que está construindo para competir com a taiuanesa TSMC.
O valor de mercado da Intel caiu abaixo de 100 bilhões de dólares pela primeira vez em três décadas, com a empresa perdendo o boom da inteligência artificial generativa depois de deixar passar um investimento na OpenAI, criadora do chatGPT A Qualcomm, enquanto isso, tem um valor de cerca de 190 bilhões de dólares.
Considerando que a Qualcomm tinha cerca de 7,77 bilhões de dólares em caixa e equivalentes em 23 de junho, analistas esperam que um negócio entre as duas seja financiado principalmente por meio de ações. Com isso, uma transação envolvendo Qualcomm e Intel seria altamente diluidora para os investidores da Qualcomm.
A Qualcomm, que também fornece para a Apple, acelerou esforços de expansão para além de seu principal negócio de smartphones, com chips para setores como automotivo e de PCs, sob o comando do presidente-executivo Cristiano Amon. No entanto, a empresa continua muito dependente do mercado de telefonia móvel, que enfrentou dificuldades nos últimos anos devido à queda na demanda por aparelhos no pós-pandemia.
Amon está pessoalmente envolvido nas negociações com a Intel e vem examinando várias opções para um acordo com a empresa, disseram fontes à Reuters.
Essa não é a primeira vez que a Qualcomm está buscando uma grande aquisição. A empresa tentou a compra da rival NXP Semiconductors por 44 bilhões de dólares em 2016, mas abandonou a oferta dois anos depois, após não conseguir obter a aprovação dos órgãos reguladores chineses.
Enquanto a Intel projeta e fabrica seus chips que equipam computadores pessoais e data centers, a Qualcomm nunca operou uma fábrica de chips. A empresa usa fabricantes contratados, como a TSMC, e projetos e outras tecnologias fornecidas pela Arm Holdings.
De acordo com os analistas, a Qualcomm não tem a experiência necessária para impulsionar o incipiente negócio de fundição da Intel, que recentemente nomeou a Amazon.com como seu primeiro grande cliente.
“Não sabemos por que a Qualcomm seria uma proprietária melhor para esses ativos”, disse Stacy Rasgon, da Bernstein.
“Também não vemos um cenário sem esses ativos; não achamos que outra companhia queira realmente administrá-los e acreditamos que é improvável que o desmantelamento seja politicamente viável”, acrescentou.
O negócio de fundição da Intel é considerado crucial para a meta de Washington de aumentar a fabricação de chips nos EUA. A Intel garantiu cerca de 19,5 bilhões de dólares em concessões e empréstimos federais sob a Lei CHIPS para construir e expandir fábricas em quatro Estados dos EUA.
Alguns analistas disseram que a Intel preferiria investimentos externos em vez de uma venda, apontando para um movimento recente para tornar o negócio de fundição mais independente.
A Qualcomm também poderia decidir comprar partes dos negócios da Intel, em vez de toda a empresa. A Reuters informou no início deste mês que a Qualcomm tinha interesse especial na unidade de design de PCs da Intel.