Comprar pode ser muito mais do que suprir uma necessidade prática, um gesto de afeto ou um impulso de auto satisfação. Comprar (ou não comprar) pode ser um ato de cidadania, e até mesmo uma manifestação política, basta que o consumidor exerça com consciência sua liberdade de escolha.

Você vai dizer que em um país em crise, com inflação e desemprego crescentes, comprar é uma questão de melhor preço. Ponto. Será? Todas as pesquisas recentes mostram que, se de um lado o consumidor brasileiro preza ofertas, de outro busca cada vez mais informações sobre os produtos que compra.

Quanto maior o poder aquisitivo, menos preponderante é o custo do produto na decisão de compra e outros atributos ganham relevância, como a qualidade e a procedência das matérias-primas, a saudabilidade ou a identidade da marca com valores ou estilos de vida. 

Na medida em que têm acesso à informação, mais consumidores tornam-se conscientes do poder de suas escolhas no Brasil, assim como já acontece em outros países do mundo.

Afinal, com tantas marcas de roupa disponíveis por que não evitar aquelas condenadas por trabalho escravo ou infantil em sua cadeia de fornecedores? Com tantas marcas de carros porque não valorizar aquelas que se preocupam com a segurança ou o nível de emissões? Ou por que não dar preferência para as embalagens inteligentes, recicláveis, sem excessos, que demonstram uma preocupação com o impacto ambiental?

Esse nível de atenção ao consumo individual (ou de sua família) expressa quais causas você estimula, o que você deseja para a sociedade do presente e do futuro. É, portanto, uma tomada de posição de um cidadão consciente.

Às vésperas de uma Black Friday, tradicional liquidação que ocorre nos Estados Unidos no dia seguinte ao de Ação de Graças e que foi importada pelos varejistas brasileiros, vale lembrar de algumas empresas protagonistas que têm se preocupado em alinhar-se e incentivar esse novo nível de consciência dos consumidores.

A mais célebre foi a marca de roupas de esportes de aventura Patagonia, que no dia de Ação de Graças de 2011 publicou um anúncio de página inteira no New York Times com o slogan: “Não compre essa jaqueta”. E com isso destacava suas iniciativas de reuso, reciclagem, redução de consumo e até reparo de produtos. As vendas da Patagonia não param de crescer desde então.

Neste ano, a rede norte-americana varejista de produtos outdoor REI decidiu ir no mesmo caminho e anunciou que vai fechar suas 143 lojas nesta Black Friday. Segundo o CEO Jerry Stritzke, o motivo é fazer com que funcionários e clientes usufruam do feriado com a família em passeios ao ar livre, coerente com o slogan #OptOutside.

No Brasil, a pioneira em adotar o conceito de consumo consciente foi a marca Sou, da Natura, que lançou o slogan: “Pra que você precisa do que não precisa?” Com essa chamada, procura enfatizar o cuidado em não gerar excessos em todos os aspectos do produto. Sou é um dos principais lançamentos da companhia nos últimos dois anos e ainda está em fase de ascensão. Assim como a quantidade de consumidores conscientes do poder de suas escolhas.