05/10/2022 - 15:47
Elon Musk abriu um novo capítulo na novelesca operação de compra do Twitter, após propor seguir adiante na segunda-feira com a compra da qual quis desistir meses depois de um acordo com a direção da rede social.
As duas partes negociam agora as próximas etapas, mas muitos pontos desta gigantesca transação de 44 bilhões de dólares são um mistério.
– Como está a operação? –
Elon Musk, que em abril propôs comprar a rede social a 54,20 dólares por ação antes de desistir da aquisição, em julho, enviou ao Twitter uma carta destacando que está disposto a seguir adiante com o compromisso ao preço combinado inicialmente.
O fundador milionário da Tesla deu duas condições: que o julgamento iniciado pelo Twitter contra ele para forçá-lo a concluir a compra seja suspenso e que receba o financiamento necessário.
O Twitter foi notificado da proposta e informou que tem “a intenção” de concluir a transação.
Segundo o jornal The New York Times, a juíza encarregada do caso em Delaware convocou as partes para uma reunião confidencial na terça-feira e pediu-lhes que entrem em um acordo entre si antes de voltar ao tribunal.
Se um acordo for alcançado, isto tornaria sem efeito o julgamento que devia começar em 17 de outubro.
Depois das idas e vindas desta operação, o Twitter vai buscar garantias de que a compra seguirá adiante, por exemplo, com o depósito de uma quantia de dinheiro para apoiá-la, segundo Adam Badawi, professor de Direito Comercial na Universidade de Berkeley.
Também poderia buscar que a concretização da compra seja supervisionada por um magistrado.
Os advogados do Twitter não responderam às perguntas da AFP por enquanto.
– Por que esta mudança? –
Elon Musk é um habitué de polêmicas, das promessas não cumpridas e dos julgamentos. Mas, inclusive para o homem mais rico do mundo, os valores em jogo são importantes.
Determinar as motivações por trás de sua última jogada por enquanto é uma especulação.
Muitos juristas sustentam que ele simplesmente se deu conta de que não venceria o julgamento porque não conseguia sustentar de forma coerente seu principal argumento para anular o acordo: a presença maior que a apontada pela rede social de contas falsas e automáticas no Twitter.
Para Carl Tobias, professor de Direito na Universidade de Richmond, também é possível que Musk tenha se incomodado com a difusão, no âmbito do processo judicial, de mensagens com outras personalidades do mundo dos negócios e tenha preferido evitar a publicação de outras comunicações.
O fato de que não tenha feito uma verificação do estado da empresa antes de sua oferta inicial, como ocorre em geral neste tipo de acordos, também o afeta, avalia Tobias.
“Acho que dos dois lados, a situação se tornou embaraçosa, reveladora e não muito construtiva”, ressaltou.
– Como está o Twitter? –
A ação do Twitter subiu 22% na terça-feira, depois de divulgada a mudança de parecer de Musk.
Mas a empresa não está em seu melhor momento.
Sofre, assim como outros gigantes do setor, de uma redução dos gastos publicitários em um contexto de resfriamento da economia, e sua imagem foi afetada pelas turbulências e a incerteza em torno do interesse de Musk em comprá-la.
O grupo registrou uma queda em seu faturamento de 1% no segundo trimestre e o ânimo dos funcionários não é o melhor.
Acusações recentes de seu ex-chefe de segurança demitido em janeiro, Peiter Zatko, corroeram sua reputação. O ex-funcionário critica a direção do Twitter por não levar em conta suficientemente graves falhas de segurança.
“É bastante irônico que, para Musk, a parte mais fácil deste acordo fosse comprar o Twitter”, refletiu Dan Ives, analista da Wedbush Securities. “A parte mais difícil será tratar os problemas vinculados à monetização e ao compromisso dos assinantes”, acrescentou.
– Como seria o Twitter com Musk no comando?
Musk se apresenta como um defensor fervoroso da liberdade de expressão e já afirmou que pretende deixar os internautas se expressarem como acharem conveniente, desde que não infrinjam a lei.
Também se disse partidário a cancelar a suspensão da conta do ex-presidente americano Donald Trump no Twitter, decidida pela empresa depois da invasão ao Capitólio, em janeiro de 2021.