21/08/2025 - 15:37
Casa Branca pressiona europeus a destacarem soldados para garantir eventual acordo em relação à Ucrânia. Reino Unido e França já rascunharam plano, enquanto Polônia rechaça possibilidade.Após a cúpula sobre a guerra na Ucrânia realizada na Casa Branca, autoridades dos Estados Unidos e de países da Europa estão trabalhando sob pressão para definir os detalhes de quais garantias de segurança confiáveis seriam oferecidos a Kiev no caso de um acordo com o Kremlin para um cessar-fogo ou acordo de paz.
Há questões importantes em aberto, por exemplo:
Como garantir a efetividade de um possível cessar-fogo ao longo da linha de frente de mais de mil quilômetros no leste da Ucrânia?
Quais países estariam dispostos a enviar soldados para assegurar o cumprimento de um eventual acordo?
Qual seria o tamanho dessa missão e qual organização seria responsável?
Até agora, esta é a situação:
EUA: Sem tropas terrestres, mas com apoio aéreo
O presidente dos EUA, Donald Trump, expressou que seu país participaria das garantias de segurança para a Ucrânia. No entanto, deixou em aberto como exatamente isso se daria. Ele já descartou categoricamente o envio de tropas terrestres dos EUA para essa finalidade.
Trump assume que Alemanha, França e Reino Unido estariam dispostos a enviar soldados ao país para garantir um possível acordo de paz – foi o que ele disse em entrevista à emissora americana Fox News um dia após a cúpula na Casa Branca.
No entanto, os EUA estão preparados para apoiar seus aliados, por exemplo, do ar, afirmou Trump.
Alemanha: Incertezas sobre garantias de segurança
O governo alemão não está tão avançado em sua decisão sobre o tema como Trump gostaria. “Ainda não foi definido qual será a contribuição alemã para as garantias de segurança, e isso terá que ser decidido política e militarmente”, disse o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
Falta clareza, por exemplo, sobre a evolução das negociações e a possível contribuição dos EUA e de outros aliados. “Isso terá que ser discutido cuidadosamente. E essas discussões estão ocorrendo atualmente”, disse o ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul, em entrevista à DW.
No entanto, até agora não faltou vontade da Alemanha de assumir responsabilidade neste conflito, afirmou.
Ainda não está claro sob qual mandato tal força internacional de manutenção da paz poderia ser estabelecida. A bancada do partido de oposição A Esquerda no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) defende uma missão de capacetes azuis da ONU em vez de uma missão liderada pela Otan, a fim de evitar um confronto direto entre a Otan e a Rússia.
Parte dos membros do Partido Social-Democrata (SPD), que integra a coalizão de governo, também se opõe ao envio de uma missão da Otan para a Ucrânia.
Reino Unido: Planos concretos já definidos?
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, mostrou-se, em princípio, aberto ao envio de tropas britânicas de manutenção da paz para a Ucrânia – mas apenas após um possível fim da guerra.
Londres estaria então preparada para assumir um papel de liderança na aplicação de garantias de segurança, disse Starmer. Isso poderia incluir o envio de tropas, por exemplo, para monitorar um cessar-fogo.
Em fevereiro, o jornal britânico The Telegraph noticiou que o governo de Londres já havia elaborado um plano concreto. Segundo a reportagem, ele envolve o envio de até 30 mil soldados de todos os países europeus que desejam se envolver na Ucrânia.
Os soldados europeus ficariam estacionados em cidades, portos e perto de infraestruturas particularmente críticas, como usinas nucleares – longe da linha de frente. Além disso, a missão dependeria fortemente da vigilância técnica, como drones, satélites, aeronaves de reconhecimento e patrulhas navais no Mar Negro.
De acordo com Starmer, representantes da chamada “coalizão dos dispostos”, composta por cerca de 30 países que se comprometeram a fortalecer a Ucrânia na sua defesa contra a Rússia, devem se reunir com autoridades dos EUA nesta semana para finalizar as garantias de segurança para Kiev. É possível que os planos existentes sejam discutidos e elaborados mais detalhadamente.
França: Forças para garantia da segurança
O presidente francês, Emmanuel Macron, se opôs recentemente contra o açodamento em assinar um tratado de paz sem salvaguardas de segurança para Ucrânia. “Esta paz não deve ser apressada e deve ser assegurada por garantias sólidas, caso contrário voltaremos à estaca zero”, disse ele à emissora TF1/LCI.
Macron já havia declarado em várias ocasiões que não descartaria o envio de tropas terrestres francesas à Ucrânia. Ele falou em “forças para garantia da segurança”, semelhantes aos possíveis planos de Starmer.
Em março, o presidente francês já havia apresentado um plano segundo o qual apenas “alguns milhares de soldados por nação” seriam estacionados em locais estratégicos como Kiev, Odessa e Lviv. A missão seria de natureza defensiva, não destinada a operações de combate direto, e serviria principalmente para dissuadir, treinar e estabilizar.
No passado, a França já realizou manobras em condições realistas simulando uma mobilização na Ucrânia – embora em solo francês. Nos exercícios, os soldados treinaram para cenários como um ataque russo a partir de Belarus. Eles também praticaram estratégias de defesa contra drones, guerra eletrônica e coordenação tática.
Polônia descarta enviar soldados; Itália evita assumir compromissos
De modo geral, o panorama na Europa é variado no que diz respeito à participação em uma possível força de manutenção da paz na Ucrânia. Dinamarca, Suécia, Holanda, Espanha, Portugal, Estônia, Letônia e Lituânia sinalizaram disposição em participar.
Outros países europeus, no entanto, têm sido muito mais cautelosos. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, rejeitou claramente o envio de soldados poloneses. Isso seria extremamente impopular entre sua população. De acordo com pesquisas, mais de 85% dos poloneses rejeitam o envio de seus próprios soldados – mesmo para uma missão de manutenção da paz.
A Hungria e a Eslováquia também se opõem claramente ao envio de tropas europeias. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, descreveu o possível envio de tropas de países do Ocidente como “belicista”.
A Áustria e a Itália também expressaram reservas. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, em particular, mostrou-se cética em relação ao envio de tropas da Otan. Ela prefere uma missão liderada pela ONU e, até agora, evitou assumir compromissos claros.
Nada funcionaria sem a Rússia
De qualquer forma, nada pode ser feito sem um acordo prévio com Moscou, que rejeita categoricamente o envio de uma missão dos países da Otan para a Ucrânia.
Até agora, o Kremlin não deu sinais de que essa postura possa mudar em breve – embora haja sinais de que o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, possam se encontrar pessoalmente em breve.
O ministro do Exterior alemão também buscou reduzir as expectativas: “Aconselho que primeiro esperemos para ver se haverá alguma conversa”, disse Johann Wadephul. “E, em segundo lugar, se houver conversas, se haverá um acordo confiável. E nisso todos nós estamos esperando pela Rússia.”