29/04/2015 - 18:00
Do alto do seu escritório localizado na região da avenida Berrini, na Zona Sul de São Paulo, o francês Stephane Perard, diretor-geral da Emirates Airlines no Brasil, não vê nenhum problema no horizonte. Ao contrário. Enquanto as principais companhias aéreas Brasil e no mundo registram prejuízos atrás de prejuízos, a empresa árabe trafega em rota oposta. “Temos lucro no País desde o início das nossas operações, em 2007”, afirma Perard, sem mostrar o balanço. Os resultados na subsidiária brasileira seguem a trajetória da Emirates em âmbito mundial.
Desde quando foi criada, na metade da década de 1980, a companhia esteve no vermelho apenas nos três primeiros anos. No ano fiscal de 2014, encerrado em março do ano passado, o Grupo Emirates, controlador da companhia aérea, alcançou um faturamento de US$ 21,9 bilhões, aumento de 13,4% em relação a 2013. Seu lucro, no período, foi de US$ 900 milhões. E o Brasil tem aumentado cada vez mais a participação nesses números. Há oito anos, quando estreou em céus brasileiros, a Emirates contava apenas com a rota entre São Paulo e Dubai, seis vezes por semana.
Dez meses depois, tornou o voo diário. Em 2012, inaugurou o trecho Buenos Aires, Rio de Janeiro e Dubai. O trajeto, por sinal, se transformou em um sucesso. “Percebemos um aumento muito grande na procura por voos para a Argentina pela Emirates”, diz Pettersom Paiva, CEO da Voopter, site de comparação de passagens. “Já para Dubai, as buscas aumentaram 42%, no primeiro trimestre deste ano.” Daí a decisão de substituir, a partir de 1º de setembro, seu Boeing 777-200 pelo moderno 777-300ER, com 88 assentos a mais na classe econômica.
Haverá demanda para tantos novos passageiros? “Sim, pois voamos sempre com taxa de ocupação acima dos 80%”, diz Perard. Para o executivo, o bom desempenho da subsidiária não ocorre por acaso. Segundo ele, a Emirates, que emprega 700 funcionários do País, privilegia a qualidade dos serviços prestados, uma exigência dos controladores árabes, como o Sheik Ahmed bin Saeed Al Maktoum. Em todo voo que sai ou tem como destino o Brasil, ao menos um funcionário fala português. Mais: a companhia é a maior compradora do A380, o superjumbo da fabricante franco-alemã Airbus.
Na aeronave, que acomoda cerca de 460 passageiros, são oferecidos lounges, bares e quartos para a primeira classe, além de outros mimos, como chefs exclusivos e motoristas nos lugares de destino, para os mais abastados. “A empresa criou uma imagem de luxo acessível”, afirma Jorge Leal Medeiros, professor de aviação na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Os investimentos em marketing contribuíram para a criação da aura da Emirates. Só no ano fiscal de 2014 foram aplicados US$ 1,5 bilhão em patrocínios. Entre eles, os de eventos esportivos como a Fórmula 1, o torneio de tênis de Roland Garros, além da Copa do Mundo de futebol e de alguns dos maiores times do planeta, como o espanhol Real Madrid e o inglês Arsenal.
Um dos próximos da lista pode ser o brasileiro Corinthians. Desde o início da construção do estádio do Itaquerão, ventila-se o interesse na compra dos naming rights (direitos do nome) da arena do time paulistano por parte da Emirates. Os dirigentes do Corinthians confirmam a procura, mas a companhia aérea nega. “Podemos investir no futuro, porém não está em nosso radar no momento”, afirma Perard. Para 2015, nem a alta do dólar e o momento turbulento da economia brasileira tiram o otimismo de Perard, dono de um português impecável.
Casado com uma baiana de Salvador, o executivo quer transformar os Emirados Árabes em um local a ser cobiçado pelos brasileiros. Por isso, investirá em ações com agências de viagem por todo o País. “A intenção é que Dubai seja um destino de turismo, não só de conexão para outras partes do planeta”, diz. O aeroporto de Dubai se tornou um “hub” internacional no Oriente, por onde transitam viajantes da China, Índia e Austrália, entre outros países. No ano passado, desbancou Heathrow, em Londres, como o terminal com maior tráfego de passageiros no mundo. Cerca de 70 milhões de pessoas passaram pelo país dos Emirados Árabes, ante 68 milhões no aeroporto inglês.
O sucesso nos números, no entanto, incomodou a concorrência, sobretudo em função de um suposto apoio governamental. Em março, as americanas Delta Airlines, United e American Airlines pressionaram o governo dos Estados Unidos a investigar as companhias árabes. De acordo com a acusação, a Emirates, a Etihad Airways e a Qatar Airways receberam US$ 42 bilhões em subsídios dos seus respectivos países, inflando seus resultados. A investigação foi iniciada neste mês. “Eles devem abrir seus gastos, se não têm nada a esconder”, afirmou, em nota, Jill Zuckman, porta-voz da Open & Fair Skies, instituição criada para pressionar os árabes. A batalha pelos céus está apenas no início.