Caso de homem que foi o único sobrevivente de queda de avião na Índia chamou a atenção para a posição do seu assento. Mas o que dizem estudos estatísticos de acidentes aéreos que identificam padrões de sobrevivência?Embora a aviação comercial continue sendo um dos meios de transporte mais seguros do mundo, a sensação de vulnerabilidade ao estar suspenso a milhares de metros de altura desperta em muitos passageiros uma certa percepção de risco. Essa aparente fragilidade – de estar em pleno ar – gera uma inquietação natural que vai além das estatísticas da segurança aérea.

Não é surpresa, então, que muitas pessoas sintam ansiedade ao pensar em voar, principalmente após a cobertura da mídia sobre acidentes aéreos. Diante desse medo, muitos viajantes já devem ter se perguntado: existe algum assento que ofereça maior proteção na aeronave em caso de emergência?

Na semana passada, o passageiro Vishwas Kumar Ramesh, de 40 anos, que sobreviveu à queda de um voo na Índia estava sentado na poltrona 11A, na parte da frente da aeronave. No acidente que envolveu um Boeing 787, morreram 241 pessoas que estavam a bordo. Ramesh foi o único sobrevivente do voo, e surpreendeu ao sair andando da carcaça destruída.

Oficialmente, as autoridades aeronáuticas afirmam que não há posições definitivamente mais seguras, pois cada incidente é único. Porém, estudos e análises de especialistas revelam certos padrões estatísticos que podem ser considerados na escolha de um lugar.

Estatísticas de segurança a bordo tranquilizam

Antes de entrarmos em detalhes, é importante contextualizar: o avião continua sendo um dos meios de transporte mais seguros. De acordo com um estudo publicado em 2024 no Journal of Air Transport Management, a probabilidade de morrer em um voo comercial nos Estados Unidos é de 1 em 13,7 milhões.

Para comparar, uma análise do jornal Washington Post revela que, para cada bilhão de milhas percorridas, ocorrem 7,28 mortes em acidentes de carro, contra apenas 0,07 de avião.

O dado mais tranquilizador é que, em 94% dos acidentes graves com aeronaves de passageiros entre 2001 e 2017, não houve sequer uma morte, de acordo com o National Transportation Safety Board (NTSB) dos EUA.

Qual é o assento mais seguro?

Embora não exista oficialmente um “assento de ouro” que garanta a sobrevivência, estudos e análises de acidentes revelam alguns padrões interessantes.

“Tudo depende da dinâmica do acidente”, disse ao Live Science Daniel Kwasi Adjekum, pesquisador de segurança de aviação da Universidade de Dakota do Norte, nos EUA.

Paradoxalmente, Vishwas Kumar Ramesh, o sobrevivente da queda do Boeing na índia não estava num lugar “mais seguro”, de acordo com estudos.

De acordo com o portal Live Science, se o acidente não resultar em uma catástrofe total e o avião atingir o solo em um ângulo baixo ou sair da pista, por exemplo, a parte dianteira absorve a maior parte do impacto. Isso sugere que estar posicionado na parte traseira pode oferecer melhores chances de sobrevivência.

Uma análise de 2015 dos dados de acidentes da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), citada pela revista Time, reforçou essa teoria, mostrando que os passageiros sentados no terço traseiro do avião teriam as menores taxas de mortalidade.

Na verdade, quando o NTSB investigou 20 acidentes aéreos desde 1971 (com vítimas fatais e sobreviventes), descobriu que quem estava na parte traseira do avião tinha 69% de chance de sobreviver, enquanto os passageiros da frente tinham 49%. Os sentados próximos às asas tinham 56% de chance.

Janela, meio ou corredor?

Curiosamente, não é apenas onde você se senta no avião que importa, mas também qual assento na fileira.

Segundo a análise da Time com base nos dados de acidentes aéreos da FAA de 1985 a 2000, as pessoas sentadas nos assentos do meio, na parte traseira do avião, tiveram uma taxa de mortalidade de 28%, enquanto os assentos menos seguros foram os assentos do corredor, na parte central da cabine, com uma taxa de mortalidade de 44%.

Como aponta uma análise citada pela revista Forbes, os assentos do meio oferecem maior proteção porque os passageiros são protegidos pelas pessoas sentadas em ambos os lados.

Outras vantagens do assento do meio

Cheng-Lung Wu, professor da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, destaca que a parte central do avião, perto das asas, tem vantagens adicionais: é estruturalmente mais reforçada e geralmente fica mais próxima das saídas de emergência. Essa proximidade pode reduzir segundos no tempo de evacuação, o que pode significar a diferença entre escapar ou não.

Por outro lado, esses mesmos assentos estão localizados sobre os tanques de combustível. “Embora os aviões esvaziem esses tanques antes do pouso, eles ainda podem liberar fumaça ou pegar fogo em caso de acidente”, alerta Adjekum. Nesses casos, a evacuação rápida se torna ainda mais crucial.

Acrescente-se a tudo isso uma dose de acaso. A realidade é que a sobrevivência depende muito do tipo de acidente. Por exemplo, na queda do voo 232 da United Airlines em Sioux City, no estado americano de Iowa, em 1989, as 184 pessoas que sobreviveram (de 269) estavam sentadas na parte mais à frente do avião, contrariando a regra geral.

Além do assento: preparação pessoal

A segurança na aeronave não é apenas uma questão de localização do assento, mas também de atenção e preparação. Por isso, especialistas recomendam uma série de medidas preventivas para aumentar as chances de sobrevivência em uma eventual emergência aérea.

Por exemplo, é essencial verificar as saídas de emergência mais próximas e contar mentalmente as fileiras até elas, informações que podem ser vitais se a visibilidade for obstruída por fumaça durante uma evacuação.

Também é importante ouvir atentamente as instruções da tripulação, que vão além da simples cortesia: essas pessoas são especificamente treinadas para lidar com situações de emergência e suas instruções podem ser decisivas.

Durante o voo, o uso correto do cinto de segurança em todos os momentos, especialmente durante turbulências, previne lesões que, de outra forma, seriam evitáveis. Além disso, as roupas desempenham um papel importante; escolher roupas que permitam movimentos fáceis pode fazer a diferença em uma evacuação rápida.

Além disso, limitar o consumo de álcool durante o voo ajuda a manter a clareza mental necessária em caso de emergência. E talvez o mais crucial seja que, durante uma evacuação, é essencial sair do avião imediatamente, sem tentar recuperar a bagagem, uma distração que, segundo especialistas em segurança da aviação, já custou vidas em incidentes anteriores.

Veredito final

Afinal, existe um assento mais seguro na aeronave? As evidências indicam que sim: em geral, a parte traseira do avião — especialmente os assentos do meio — oferece uma ligeira vantagem. Mas a diferença não é drástica o suficiente para causar ansiedade se você não conseguir esse lugar.

O mais importante é saber que voar é extremamente seguro, e a sua reação em uma emergência provavelmente tem mais impacto do que a localização do seu assento.

Portanto, na próxima vez que pegar um voo, preste atenção às instruções de segurança e tenha em mente um ponto essencial: as probabilidades estão claramente a seu favor.