Em julho de 2008, o banqueiro Ivo Lodo convocou uma reunião dos diretores do Banco BVA. Os executivos, reunidos em uma espaçosa sala de um edifício de escritórios de alto padrão, na zona sul de São Paulo, receberam uma orientação incomum: a ordem era parar de trabalhar. “Decidi que o banco deveria deixar de conceder empréstimos devido à deterioração da situação internacional”, diz Lodo. “Avisei os acionistas que o lucro ia cair, mas que isso seria melhor do que continuar emprestando e ter problemas para receber.” 

Dois anos depois, o resultado dessa freada de arrumação foi um crescimento exponencial do banco. Em 2007, o BVA havia lucrado R$ 500 mil. Três anos depois, a última linha do balanço exibia um resultado de quase R$ 90 milhões. Nesse período, a instituição financeira saltou da 99ª posição entre os bancos para o posto de número 48, apesar de o mercado ter ficado mais concentrado e os concorrentes maiores. Lodo explica o salto quantitativo. 

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Ivo Lodo: drible na crise financeira e parceria com os

clientes na hora de emprestar dinheiro

 

“Paramos de emprestar dinheiro e só ficamos cobrando”, diz ele. Com isso, o banco abriu mão do ganho dos financiamentos, mas, em compensação, em pouco tempo já dispunha de um enorme caixa. Alguns meses mais tarde, quando os bancos internacionais fecharam subitamente suas linhas de crédito para o Brasil e os empréstimos ficaram escassos, o BVA tinha dinheiro de sobra para emprestar e aproveitou para cativar clientes que a concorrência não conseguia mais atender. “Emprestamos para clientes que já conhecíamos, grupos como o Caoa ou o Queiroz Galvão”, diz Lodo. “Eles precisavam de dinheiro e nós fornecemos. Quando a situação se estabilizou, eles passaram a fazer muito mais negócios conosco.”

 

A estratégia explica parte do segredo do BVA, um banco de pequeno porte e pouco conhecido há até pouco tempo, que exibiu um crescimento de 640% em seus empréstimos em três anos, para R$ 2,8 bilhões. Mas não todo. O BVA também apostou em um nicho lucrativo do mercado, a montagem de sofisticadas operações de crédito para empresas. Em vez de tomar dinheiro de um investidor e repassá-lo como empréstimo a um cliente, como se faz habitualmente, o banco estrutura financiamentos que podem ser empacotados em títulos de renda fixa. 

 

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Quebra do Lehman Brothers: o BVA cresceu quando os demais bancos

restringiram o crédito durante a crise de 2008

 

Esses títulos, que pagam juros acima da média do mercado, são vendidos a fundos de investimento ou para clientes muito ricos. Com isso, o BVA não precisa esperar a hora de o cliente pagar a dívida para conceder novo empréstimo. O dinheiro volta muito mais depressa – e os lucros são muito maiores. Segundo Lodo, o BVA tem cerca de R$ 3,5 bilhões em empréstimos tradicionais e R$ 2 bilhões em operações estruturadas. 

 

Outra vantagem desse tipo de operação é que ela não está limitada ao capital do banco, mas só à sua capacidade para encontrar empresas que produzam títulos e investidores para comprá-los. Tem dado certo. “O banco tem sido muito bem-sucedido na implantação dessa nova estratégia comercial”, diz Erivelto Rodrigues, presidente da empresa de classificação de risco Austin Ratings, especializada em bancos de médio porte. 

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O BVA começou timidamente no Rio de Janeiro, dedicando-se a gerir o caixa de empresas de ônibus e a repassar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para esses clientes. Em 2007, o principal acionista José Augusto Ferreira dos Santos recrutou Lodo para comandar as operações. Egresso do Safra, onde comandou a instalação do Banco J. Safra, Lodo promoveu uma autêntica revolução interna. Reduziu a dependência do BNDES, estruturou a área comercial e transferiu o grosso das atividades do banco para São Paulo, mais perto dos novos clientes. 

 

No início de sua atuação, Lodo apostou nos empréstimos consignados, mas no ano passado o BVA resolveu abandonar essa atividade. “O consignado só nos fazia perder dinheiro”, diz ele. Não foi uma decisão fácil nem barata – encerrar a carteira representou um custo financeiro de R$ 2 milhões por mês durante quase um ano – mas Lodo defende a estratégia. “O consignado é um financiamento que custa caro para o banco, devido às comissões de comercialização”, diz. “É possível ganhar dinheiro com outros tipos de empréstimo.”

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Lodo tem um interesse muito especial nos resultados do banco. Ao chegar, adquiriu uma participação de 5% no capital do BVA, fatia que foi sendo gradualmente aumentada até os atuais 50%. Quem conhece o mercado não descarta a possibilidade de que esse percentual cresça. “Tudo leva a crer que ele vai continuar comprando ações”, diz Rodrigues, da Austin. Lodo não comenta o assunto. 

 

Diz apenas que o banco está estudando o lançamento de ações na bolsa, assim que as condições do mercado melhorarem. “Já temos porte para uma abertura de capital, mas as ações sofreram muito com a crise nos últimos meses”, afirma. Até agora, os papéis de instituições financeiras vêm apresentando um desempenho muito superior ao da média do mercado, com a óbvia exceção do PanAmericano (veja tabela abaixo). Mesmo assim, os projetos de lançar ações foram engavetados por enquanto. 

 

A meta do BVA é usar os recursos liberados do consignado para continuar crescendo no mercado de empresas médias. Como não há concorrentes à venda e avançar organicamente, pela conquista individual de novos clientes,  toma muito tempo, Lodo pensa em uma estratégia para capturar empresas menores. Vai, portanto, mirar no mercado cativo das factorings. “Há muitas empresas com faturamento inferior a R$ 1 bilhão e  que têm todas as condições de ser nossos clientes.”