19/12/2007 - 8:00
Todo o mês de dezembro, Abilio Diniz, o homem à frente do grupo Pão de Açúcar, reúne alguns empregados para falar sobre o futuro da rede. Desta vez, o que não faltou foi assunto. Para os três mil funcionários que lotavam, na terça-feira 11, as cadeiras do Credicard Hall, em São Paulo, Abilio abriu o jogo. A portas fechadas, ele falou sobre a saída de Cassio Casseb da presidência do grupo. Elogiou Casseb ao citá-lo como uma ?pessoa vibrante? que ?merece todo o respeito? e demonstrou otimismo com a nova fase da companhia. O afastamento de Casseb foi decidido na quintafeira, 6. Para seu lugar foi escolhido o consultor Claudio Galeazzi, o ?conserta-empresas?, que já atuou em reestruturações de grupos como Cecrisa, Lojas Americanas, Artex e Daslu. Ao lado de Abilio, Galeazzi foi protocolar: que veio para ?somar? e está ansioso pelo desafio. Galeazzi vai ficar dois anos na presidência. Ocupará a função temporariamente, e uma de suas principais tarefas será encontrar um nome definitivo para o cargo. A solução provavelmente será caseira.
Um dos mais cotados para ocupar o posto é o diretor Hugo Jordão Bethlem 49. Com seis anos de casa, tem feito um trabalho elogiado dentro e fora do Pão de Açúcar. Foi o responsável pela repaginação da rede CompreBem e se envolveu diretamente, assim como Galeazzi, na reestruturação do Sendas, o supermercado carioca que teimava em não sair do vermelho até este ano. Ex-Carrefour e ex-DiCicco, Bethlem ganhou atribuições em pouco tempo. Correndo lado a lado está José Roberto Coimbra Tambasco 51, um dos executivos mais antigos do grupo (está desde 79 na companhia) e sobrevivente da série de demissões promovida nos últimos anos. Hoje é diretor da bandeira Pão de Açúcar, a unidade que reformulou sua política comercial para ampliar as vendas e perder a fama de careira. Dentro da empresa, o assunto corre à boca pequena, mas uma pergunta está sempre presente: seria possível aparecer um novo nome, alguém correndo por fora? O de Enéas Pestana, diretor financeiro, seria uma terceira possibilidade.
Mas o fato é que ninguém está pronto. Basta dar uma olhada na turma de confiança de Abilio. ?Seria irresponsabilidade promover qualquer um. Provavelmente nenhum está preparado?, disse Abílio na sexta-feira 14, para analistas de mercado. ?Tenho valores e quero transferi-los com humildade. Quero formar ?o? sucessor.? Uma tarefa que poderia estar concluída. ?A empresa não desenvolveu nos últimos anos um líder de destaque?, diz um analista de mercado. ?Um líder nato não aparece de um ano para outro. Ele nasce assim?. E há espaço para uma liderança de peso surgir no Pão de Açúcar com a figura ainda tão presente de Abílio? Aí que está a tarefa de Galeazzi.
?Considero isso algo relativamente fácil?, defendeu Galeazzi, ao lado de Abilio, na reunião com analistas na sexta- feira. A seleção ocorrerá enquanto ele comanda o atual processo de reestruturação. Segundo nota da empresa, o consultor terá de ampliar as vendas das chamadas ?mesmas lojas?, reduzir despesas, ampliar os ganhos de eficiência e melhorar o retorno sobre capital investido da rede. Tudo isso vem sendo feito nos últimos dois anos, mas o problema resiste: os resultados não aparecem na velocidade que exige o conselho. Foi por isso que Casseb caiu. E foi por isso que Galeazzi entrou. Resta saber se será nesse cenário, ou num mais tranqüilo, que o novo presidente vai sentar na cadeira dos Diniz.