Sem forçar muito a minha memória, lembro que durante toda a infância meus pais condicionavam viagens de férias e presentes de fim de ano ao meu desempenho escolar. Boas notas, bons presentes. Se me comportasse bem, ainda poderia ser premiado com algumas semanas na casa dos meus primos e avós, no interior de São Paulo. Em princípio, a troca parecia injusta: um ano inteiro de esforço para poucos dias de descontração. Mas o argumento deles, que parecia convincente, era sempre o mesmo. Queriam me ver, no futuro, formado por grandes instituições de ensino, como a USP, a PUC, o Mackenzie ou alguma universidade federal, sempre reconhecidas como as que oferecem a melhor qualidade de ensino. 

 

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O que meus pais provavelmente não imaginavam – e que surpreendeu a muitos na última semana – é que o nível acadêmico de vários cursos destas instituições está distante da reputação de seus nomes. Quatro universidades federais e duas das mais conceituadas universidades paulistas, Mackenzie e Pontifícia Universidade Católica (PUC), entraram para a lista negra do Ministério da Educação, com notas consideradas insatisfatórias pelo MEC. No Mackenzie, a tradicional e valorizada graduação em arquitetura e urbanismo ficou com nota 2, em uma escala de 0 a 5. Na PUC-SP, foram história e geografia que receberam nota 1. 

 

Todas as notas abaixo de 3 disparam o alarme do MEC por serem consideradas um risco à trajetória profissional dos alunos. O episódio mancha o currículo de tradicionais instituições de ensino, mas revela duas novas realidades. A primeira, de que as universidades não poderão mais manter-se em evidência apenas pela tradição – glórias passadas não asseguram o desempenho presente. Terão de mostrar, na prática, a excelência de seu ensino. A segunda, talvez a mais relevante de todas, é que o MEC despertou para a urgência de fiscalizar de vez a qualidade da educação no País, que não pode contentar-se apenas com a massificação da distribuição de diplomas. 

 

Apesar das más notas da PUC, do Mackenzie e das federais acenderem o sinal de alerta na educação, uma série de boas notícias colocou em evidência, nos últimos meses, a importância da sala de aula para o futuro do País. O destaque vai para o aumento de 11,9% no orçamento da educação pública em 2013, algo próximo a R$ 117 bilhões. A verba já havia subido 33,8% no ano passado. Além disso, o MEC definiu reajuste de 7,97% no piso salarial dos professores da rede pública. Passou de R$ 1.451 para R$ 1.567, abrangendo a educação infantil e de nível médio. 

 

Muitos podem concluir que é pouco diante dos 22% aplicados no ano passado, mas não é. Com uma inflação de 5,84%, o aumento real representa mais de 2%, num ano em que a economia praticamente não cresceu. A PUC e o Mackenzie, em resposta à ação do MEC, prometeram analisar os cursos reprovados. É tarde. O estrago está feito. A partir de agora, o critério de escolha da universidade dará um peso menor à tradição e mais importância à real qualidade do ensino. Provavelmente, se pudessem voltar no tempo, meus pais teriam sido menos rigorosos e teriam planejado minha formatura de maneira diferente: mais preocupados com o que aprendi do que onde estudei.