22/09/2004 - 7:00
Pergunte à empresária Mariangela Bordon por que ela vendeu sua OX Cosméticos para o grupo pecuarista Bertin e a resposta virá numa franqueza impressionante: ?Eles entraram na minha empresa comprando 27% que pertencia ao BNDES. Como não entendem do ramo e eu não estava disposta a tê-los como sócios, vendi minha parte?. Mariangela não revela o quanto embolsou com a transação, mas o que se sabe é que parte do dinheiro será usada na criação de uma nova companhia de cosméticos com a assinatura dela, do ex-presidente da Avon, Adhemar Seródio, e de um ex-executivo da Johnson&Johnson, Washington Oliveira. ?Gente do ramo?, cutuca a empresária. A nova marca, cujo nome o trio não revela de jeito nenhum, começará a operar em 2005 com uma linha completa de cosméticos e produtos de beleza. A produção será terceirizada e o investimento inicial foi estimado em US$ 10 milhões. Destes, US$ 5 milhões já foram aplicados por Mariangela, Seródio e Oliveira. ?O restante será captado no mercado. Nos próximos dias, pretendemos anunciar os demais sócios?, afirma Seródio. ?Mas posso adiantar que não serão banqueiros e nem donos de fundo de pensão. E a razão é simples: nossa idéia é levar a empresa adiante e não vendê-la na primeira boa oferta que aparecer.?
A cisma de Seródio com os bancos e os fundos de pensão vem desde os tempos em que ele deixou a Avon, onde atuou durante 37 anos e chegou até a ocupar um cargo no board em Nova York. Ao sair da empresa, o executivo se juntou a um grupo de investidores americanos e adquiriu no Brasil a Jafra, marca que pertencia à Gillette. ?Fiz um amplo processo de reestruturação na marca, multipliquei o faturamento por três e depois disso os meus sócios venderam a empresa para um grupo alemão?, conta. ?Não vou repetir o erro.? A estratégia agora é buscar investidores que, segundo Seródio, agreguem algo mais do que dinheiro ao negócio. Mariangela vai cuidar do desenvolvimento de toda a linha de produtos, Serodio será o sócio responsável pelo sistema de vendas diretas e Oliveira responderá pela distribuição. Há outro potencial investidor que poderá cair como uma luva na estratégia da nova empresa: o publicitário Nizan Guanaes. ?Talvez ele entre, talvez não. Ainda não há nenhuma definição?, esquiva-se Mariangela.
Sócios à parte, o que o trio idealizador da nova companhia quer é seguir a fórmula bem-sucedida do mercado e apostar em produtos com apelo ecológico. Haverá, assim como na Natura ou no Boticário, uma linha feita a partir de ingredientes da Amazônia. ?As companhias brasileiras que querem brigar no mercado internacional tem de aproveitar esse diferencial?, afirma Seródio. É exatamente com cosméticos, xampus e afins ecologicamente corretos que os sócios pretendem invadir a Alemanha e Portugal, num primeiro momento, e depois toda a Europa. De acordo com Oliveira, o sócio-responsável pela distribuição, faltam apenas alguns detalhes para definir os representantes internacionais da marca. Num futuro breve, a companhia de Mariangela, Serodio e Oliveira poderá até cruzar com a OX em algum país da Europa. É que os Bertin, maiores exportadores de carne do Brasil, estão aproveitando todos os contatos que têm no exterior para fazer a marca de cosméticos decolar lá fora. Deste ?ramo? ? até Mariangela Bordon tem que admitir ? eles entendem muito bem.