Maior ícone da arquitetura brasileira, Oscar Niemeyer ultrapassou as fronteiras do País. Um dos projetos que colocaram o seu nome em destaque no exterior foi a sede da editora Mondadori, concebida em 1968 e localizada no bairro de Segrate, em Milão. A partir de 9 de novembro, a obra do arquiteto vai ganhar um novo endereço na cidade italiana, mas com outra faceta do seu trabalho, não menos relevante: a de designer de móveis. Nessa data, o número 13 da Via Pietro Maroncelli passa a abrigar a primeira galeria própria fora do Brasil da Etel, uma das principais marcas de móveis autorais do País.

Quem visitar o espaço de 150 m2 instalado no térreo de um prédio de típica arquitetura milanesa terá acesso a todo o portfólio de móveis exclusivos da empresa, com cerca de 400 peças, sem considerar as variações de detalhes e acabamentos, e preços que podem chegar até a faixa de R$ 60 mil. Além de Niemeyer (1907-2012), o catálogo traz reedições de peças assinadas por nomes emblemáticos e pioneiros no avanço do design no País, como Jorge Zalszupin, Branco & Preto e Lina Bo Bardi (1914-1992). Ao lado de coleções contemporâneas de Etel Carmona, fundadora da marca, Lia Siqueira, Claudia Moreira Salles, Isay Weinfeld e outros notórios designers. “Estamos levando a altíssima qualidade do design nacional”, diz Lissa Carmona, diretora-geral e curadora da Etel. “Queremos ser reconhecidos como um grande player global em desenho e, para isso, precisamos estar na vitrine do mundo.”

Na vitrine: as mesas de Etel Carmona (à esq.), a poltrona de Jorge Zalszupin (centro) e o bar de Isay Weinfeld integram o acervo da Etel (Crédito:Gabriel Reis)

Parte da trilha para alcançar esse status já foi percorrida. Desde 1994, quando participou da International Contemporary Furniture Fair, em Nova York, sua primeira incursão internacional, a Etel vem chamando a atenção no exterior. E não só pela qualidade dos desenhos. Com uma fábrica em Valinhos (SP), a empresa produz suas peças, todas numeradas, de maneira artesanal, e a partir de madeiras brasileiras, certificadas, um processo que diferencia a marca de boa parte de seus pares. Hoje, as obras da coleção são vendidas em mais de dez mercados, entre eles, Reino Unido, Suíça, Estados Unidos, Líbano e Cingapura. Até 2015, as exportações representavam 10% da receita da companhia. Com a Etel Milano, a projeção é chegar a uma participação de 50% em cinco anos.

A entrada no mercado italiano é um passo decisivo nesse plano. “Mais que um ponto estratégico, Milão é o centro de tudo que acontece no design”, diz Fernando Laterza, coordenador do curso de design da Faculdade Belas Artes. Além da maior proximidade com os grandes escritórios de arquitetura e os demais elos dessa cadeia, Lissa ressalta outros benefícios da chegada à cidade. Já em andamento, as parcerias para transferência de tecnologia e de processos de manufatura com grandes nomes do setor é uma das vertentes. Ao mesmo tempo, a estreia em solo estrangeiro facilita o plano de abrir mais duas galerias no exterior, no prazo de cinco anos, provavelmente, nos Estados Unidos e em outro país europeu. “E ainda estamos a meio caminho da China, da Coreia do Sul e dos países do Oriente Médio”, afirma Lissa. “Teremos tempo e condições de entender melhor esses mercados.”