05/10/2005 - 7:00
DINHEIRO ? A TAM já voa para Miami e Paris e começa Nova York em novembro. Quais os planos de crescimento?
MARCO ANTONIO BOLOGNA ? Queremos consolidar a liderança no mercado interno. Em 1998, tínhamos 20% de participação. No mês passado batemos em 44%. Temos interesse em crescer na América Latina, mas seremos seletivos nessa expansão. Queremos rotas mais rentáveis.
DINHEIRO ? A crise da Varig pode fazê-la deixar de operar rotas nos mercados nacional e internacional, entre eles Londres. Vocês teriam interesse em assumir essa brecha?
BOLOGNA ? Não consideramos essa hipótese. Só trabalhamos com a possibilidade de aumento no número de vôos, especialmente no caso da Inglaterra. Dos sete vôos diários que existem para Londres, apenas um é operado pela nossa concorrente. O ideal seria haver mais vôos. Essa é a melhor maneira de expandir a empresa.
DINHEIRO ? O que sr considera como ?rotas rentáveis??
BOLOGNA ? Hoje, no Brasil, o tráfego aéreo é ocupado por 75% de pessoas que viajam a negócios e 25% que fazem turismo. Nosso foco são os passageiros de negócios. Não pretendemos investir nas operações em destinos tipicamente turísticos.
DINHEIRO ? Essa estratégia é segura? Afinal, o brasileiro ainda usa pouco avião, se comparado a outros países.
BOLOGNA ? O Brasil é geograficamente grande e por isso é difícil viver sem avião. Somos 190 milhões de habitantes, mas em 2004 foram transportados apenas 34 milhões de passageiros. Se considerarmos que cada pessoa voa três vezes ao ano, quer dizer que apenas 12 milhões de CPFs tiveram acesso ao transporte aéreo.
DINHEIRO ? Como mudar essa realidade?
BOLOGNA ? Com melhora da renda. Só assim haverá mais procura pelo transporte aéreo. Com mais gente voando, a tendência é de queda das tarifas também.
DINHEIRO ? O preço das tarifas ainda inibe a opção pelo avião como meio de transporte?
BOLOGNA ? Tudo na vida tem um movimento pendular. Já passamos pela era do glamour mostrado no filme O Aviador, em que viajar de avião era artigo de luxo e caro. Hoje, estamos na era de O Terminal, que mostra a utilização do avião como transporte de massa, barato. Quando os vôos noturnos, os chamados corujões, entraram em operação, quem mais saiu perdendo foram as empresas de ônibus, especialmente os leitos. Mas a intenção da TAM é ficar no meio disso: queremos ter um serviço de qualidade com preço competitivo, sem necessariamente ser o mais barato.
DINHEIRO ? E isso é viável?
BOLOGNA ? É. Um exemplo é a JetBlue americana. Ela opera com conceito de custo baixo e atendimento diferenciado e vem ganhando espaço no mercado.
DINHEIRO ? Mas operar assim no Brasil não fica mais difícil com a concorrência de empresas de baixo custo como a Gol e a WebJet?
BOLOGNA ? A WebJjet entrou no mercado com um número determinado de aviões, fazendo determinado trecho, num determinado horário, vendendo tudo pela internet. Está num nicho específico. Ela só concorre com a TAM naquela rota, naquele horário. Para nos defender disso temos tarifas iguais nesses trechos e horários.
DINHEIRO ? O sr. quer dizer que empresas menores não afetam o mercado que hoje é da TAM?
BOLOGNA ? Jamais vamos desprezar as empresas menores. Hoje, Varig, TAM e Gol detêm 97% do mercado. Os outros 3% ou 4% estão divididos em 18 companhias que podem crescer. A TAM era uma regionalzinha que começou no interior de São Paulo e virou líder de mercado. Não subestimamos nenhuma concorrência.
DINHEIRO ? E a chegada da Gol? Afetou muito o mercado da TAM?
BOLOGNA ? Fizemos adaptações. A TAM hoje opera com 15 tarifas diferentes que são cobradas de acordo com cada vôo. Há diferenças nos horário de pico, nos adequamos ao novo perfil do passageiro. Também tiramos os pratos quentes (e mais caros) dos trechos mais curtos, mas sem cair no extremo da barra de cereais.
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DINHEIRO ? Isso não prejudica o selo de qualidade que sempre foi marca da TAM?
BOLOGNA ? Para nós, baixo custo não é sinônimo de baixo serviço. Queremos oferecer preços competitivos com um conceito de mais conforto e entretenimento a bordo. Trabalhamos com a estratégia de desestresse de vôo, porque aeroporto é um lugar de estresse. Por isso temos o tapete vermelho, a bala, o comandante na porta da aeronave. Tudo isso faz a diferença.
DINHEIRO ? Sua principal concorrente é a Varig ou a Gol?
BOLOGNA ? Ambas. O maior erro é subestimar seu concorrente. A Varig tem um problema de estrutura de capital e não de estrutura operacional, continua sendo concorrente direta da TAM.
DINHEIRO ? Por que o projeto de fundir as operações com a Varig não deu certo?
BOLOGNA ? Foi uma decisão conjunta tomada por motivos econômicos e financeiros. A saúde das empresas melhorou e cada uma seguiu seu caminho. O fim dessa parceria culminou em maio passado com o término do programa de code share (divisão de acentos) das duas.
DINHEIRO ? O fim do programa teve a ver com o prejuízo de R$ 24,7 milhões da TAM no último trimestre?
BOLOGNA ? Sim, mas não só da TAM. As outras duas empresas também tiveram receita menor porque o fim do code share provocou uma mini guerra de preços. Mas no acumulado do ano estamos com lucro.
DINHEIRO ? A guerra de preços tem sido muito danosa?
BOLOGNA ? Eu diria que vivemos um momento de concorrência saudável não de guerra predatória de preços.
Constantino: “A Gol nasceu em ambiente de economia estável”
DINHEIRO ? Como vocês conseguiram se recuperar da crise que afetou o setor?
BOLOGNA ? A primeira medida foi reduzir o número de aviões e aumentar o número de horas voadas. Em 2003 eram 6,5 horas por avião. Em junho de 2005 foram 12 horas voadas por avião, que virou nossa meta. Também voamos mais com mais passageiros. Em 2003 o aproveitamento era de 54%. Em agosto tivemos 70% de acentos nos vôos e esse é principal redutor de custo. O segundo corte foi no custo comercial. Acabamos com o papel e criamos o bilhete eletrônico. Em 2005 teremos uma economia de US$ 33 milhões e em 2006 outros US$ 44 milhões apenas por conta do bilhete eletrônico.
DINHEIRO ? Então foi tudo uma questão de cortar custos?
BOLOGNA ? Não só. Em junho fomos ao mercado de capitais, entramos no Nível 2 da Bovespa e captamos R$ 548 milhões. Hoje temos 21% das ações listadas na Bolsa, outros 19% estão com fundos de investimentos do CSFB e o restante está na família Amaro. Esses recursos serão usados basicamente para renovação da frota, em tecnologia e segurança.
DINHEIRO ? Mas a TAM ainda tem dívidas com aeronaves…
BOLOGNA ? Sim. Tivemos um custo de R$ 142 milhões com a devolução de aviões em 2003. Essa dívida hoje está em R$ 100 milhões e vamos amortizá-la em seis anos.
DINHEIRO ? Como o sr. explica a crise pela qual ainda passa a Varig, sua concorrente?
BOLOGNA ? A Varig foi vítima de um período de políticas macroeconômicas equivocadas. Como nós, passou por congelamentos de preços e vários planos econômicos. Nós, por exemplo, ainda temos R$ 400 milhões de defasagem tarifária para receber. A conta deles é maior.
DINHEIRO ? O sr. acha que a Varig vai fechar?
BOLOGNA ? Se isso acontecer será ruim para o mercado, mas realmente não acredito na hipótese de colapso. Todo colapso traz risco sistêmico para o resto do mercado. O caso da Varig pode ser resolvido com uma readequação financeira severa, como fizemos na TAM.
DINHEIRO ? O que explica os resultados tão positivos da Gol, outra forte concorrente da TAM?
BOLOGNA ? A Gol é uma empresa nova e por isso sofreu menos. Nasceu em 2001, já no Plano Real, com câmbio flutuante. Viveu um outro cenário macroeconômico. Nós, como a Varig, passamos por um legado de tablitas e congelamentos de preços.
DINHEIRO ? E o câmbio atual? O real valorizado ajuda a reduzir custos?
BOLOGNA ? Para nós, o câmbio tem sido uma tremenda alegria. Quanto mais o dólar cai, mais a gente comemora. Ele vem favorecendo os nossos negócios. No nosso setor, entre 50% e 60% das despesas são atreladas ao câmbio.
DINHEIRO ? Como vocês estão lidando com a alta do preço do petróleo?
BOLOGNA ? O preço em reais do querosene de aviação já subiu 42%. No Brasil, conseguimos repassar de 60% a 70% desse custo para as tarifas e usar hedge financeiro para compensar o que sobra. Tentamos nos projetar sempre com três meses de antecedência. O combustível é nosso principal custo fixo: 27% do total. A Petrobras também poderia fazer reajustes mensais e não quinzenais, como faz agora, no preço do querosene.
DINHEIRO ? Qual é o peso dos tributos no custo fixo das companhias?
BOLOGNA ? De 20% a 25% do que pagamos é ICMS. O peso do combustível varia de 25% a 30%. Nossa tarifa portuária é em média 40% mais cara também. Essa carga acaba elevando o preço da passagem. Os impostos são hoje 38% do preço pago pelo consumidor final. Nos EUA é 7% e na Europa de 17%.
DINHEIRO ? Qual são as expectativas para o setor?
BOLOGNA ? Em 2004 o mercado doméstico de aviação cresceu 12%. Neste ano já acumulamos 16% e acho que fecharemos com taxa entre 12% e 14%. Podemos crescer de 5% a 7% em média nos próximos dez anos. Tudo depende do crescimento econômico.
DINHEIRO ? Há gargalo nos aeroportos?
BOLOGNA ?
Hoje, 75% do tráfego está concentrado em 10 principais aeroportos, mas ainda não vivemos um quadro de gargalo. Não vejo risco de um colapso.