16/01/2015 - 20:00
Os postos de combustível dos Estados Unidos deram início à remarcação de preços da gasolina. Com a queda acentuada do barril de petróleo, que baixou de cerca de US$ 100 em julho de 2014 para menos de US$ 45 na semana passada (o menor valor em seis anos), os consumidores serão beneficiados. Já é possível pagar o equivalente a R$ 1,5 por litro, pouco mais da metade do valor cobrado no Brasil. A queda é de mais de 30% no preço da bomba, em seis meses. Em pleno inverno, quando a demanda pelo óleo negro aumenta, o americano sente um alívio no bolso.
O brasileiro, ao contrário, não verá a gasolina baixar no curto prazo. É o resultado dos preços artificialmente mantidos nos últimos anos. Utilizada como instrumento de política econômica no governo Dilma I, a Petrobras foi impedida de repassar para o consumidor as altas do mercado internacional, como forma de evitar a disparada da inflação. Entre 2011 e 2013, o preço médio do barril de petróleo foi de US$ 110, enquanto os praticados pela Petrobras ficaram em torno de US$ 90. A diferença para o mercado externo chegou a ser de 25%.
Numa visão simplista, é como se a empresa estatal tivesse financiado parte do combustível do seu automóvel nos últimos anos. Independentemente desse passado questionável, especialistas do setor de óleo e gás defendem uma adequação imediata com o mercado externo. O principal argumento é que, com o valor atual da gasolina, a vantagem da Petrobras está próxima de 70%. Portanto, o preço justo da gasolina deveria ser de R$ 1 na bomba. A posição é controversa. Os analistas do mercado financeiro dizem que há um grande déficit a ser tapado, por conta da defasagem.
A lógica é que, se a empresa prestou uma ajuda pública, nada mais justo que receba uma dose de paciência e consiga recompor seu combalido caixa operacional. Faz sentido. Mas até quando? Cedo ou tarde, essa prática terá de ser abolida. Com o barril a US$ 45, a Petrobras vê seu mais importante projeto balançar sobre uma linha tênue. Embora técnicos da companhia garantam que a exploração do pré-sal continua viável com esse valor, pesquisadores calculam que o preço mínimo do sucesso é de US$ 65, justamente porque os custos para extração são mais altos nas reservas no meio do oceano do que nos campos tradicionais.
Pelo plano de negócios da companhia, o barril oscilaria entre US$ 100 e US$ 105, até 2017. Mas os principais xeiques do mundo árabe apostam que o petróleo dificilmente voltará aos três dígitos. Pouco antes do estouro da crise financeira, em 2008, o barril bateu em US$ 143,95 e os relatórios dos principais bancos arriscavam que não tardaria a chegar a US$ 200. Não chegou. Agora, a briga é para saber quem acerta o menor preço. Os potentados do Oriente Médio, que dominaram o mercado durante anos, não querem perder espaço para os EUA, que promoveram uma superoferta de seu gás de xisto.
Enquanto durar essa briga, a produção global continuará em alta. Petróleo barato é benéfico para a saúde da economia mundial, mas não necessariamente para a Petrobras. Se os últimos anos tivessem sido normais, sem a intervenção do governo no preço da gasolina, a empresa, agora, não precisaria fazer contas para recompor o prejuízo. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, propõe soltar essas amarras e permitir que a Petrobras faça suas decisões de preço, como toda empresa faz. É como se ela recebesse a carta branca para voltar ao jogo e a liberdade de dizer que o petróleo voltou a ser nosso.