30/11/2020 - 17:00
Certa vez me perguntaram se todos os meus projetos haviam dado certo. Cenas de dois filmes passaram em minha cabeça diante da pergunta. O primeiro relata a história do garoto que começou a aprender inglês aos 12 anos, o jovem que foi aos Estados Unidos aos 17 anos com 100 dólares no bolso, o rapaz que passou dois anos em Portugal em missão religiosa, o apaixonado que se casou aos 22 anos ganhando um salário mínimo, o sonhador que teve a felicidade de encontrar pessoas iluminadas que indicaram o caminho a percorrer para ir estudar em universidade americana, o estudante que durante seu curso, recebeu convite para atuar como professor de português em um dos maiores centros de ensino de línguas do mundo em Utah.
As cenas desse filme continuaram após regressar ao Brasil, quando o professor Carlos dava aulas de inglês em casa para complementar a renda. Embora sem experiência em linguística, pedagogia e educação, teve a ousadia de criar um método inovador e revolucionário. Mais tarde resolveu abrir uma escola de inglês e, tamanha era sua confiança, colocou a marca da empresa em seu nome civil. Teve a intuição de expandir seu negócio pelo sistema de franquia, e assim transformou seu projeto na maior rede de ensino de idiomas do planeta. Sim, todas essas memórias vieram à minha mente.
O que poucos sabem é que minha trajetória também contou com cenas de um filme de terror. Por exemplo, na adolescência eu era um péssimo aluno. Minhas notas eram mais vermelhas do que azuis. Repeti duas séries escolares. Me formei no ensino médio apenas aos 22 anos. Entrei na faculdade aos 26 anos e depois do primeiro semestre, resolvi desistir. Graças ao apoio de minha esposa, me formei aos 30 anos, consegui o primeiro emprego e após alguns meses fui demitido. Naquele momento, qualquer pessoa que analisasse meu currículo, poderia com certeza afirmar: “Eis um rapaz que nasceu para fracassar.”
Pois, enquanto eu tentava seguir meus instintos de empreendedor, tive uma lista de empreendimentos malogrados. Após meu casamento, montei uma lanchonete em Curitiba, não foi para frente. Mais tarde tentei uma sorveteria, precisei fechar. Enquanto tentava sobreviver com minhas aulinhas de inglês, tive uma agência de locação de veículos. Faliu. Mais tarde abri uma agência de viagens, e só perdi dinheiro. Na década de 90 lancei uma franquia de informática para crianças. Não foi para frente. Montei uma escola de inglês em Orlando, foi um prejuízo total. Mais tarde tentei ensinar inglês na China, deu em nada. Criei um site de ofertas coletivas, prejuízo total. Por dois anos desenvolvi um material didático para redes de ensino. Nunca saiu da gaveta.
No entanto, ao avaliar todos esses fracassos, há três características em meu temperamento que me protegem emocionalmente dos insucessos. Primeiro, costumo afirmar que na vida empresarial, ou vencemos ou aprendemos. Segundo, para alguém vencer financeiramente é preciso zerar seu passado negativo. Pessoas que vivem presas a erros do passado não progridem. Pois consomem seu talento, seus dons, sua energia e capacidade se remoendo com situações negativas que aconteceram muito tempo atrás. Finalmente, em vez de sofrer, eu avalio e me questiono: que lição esse empreendimento frustrado me trouxe? O que posso fazer diferente da próxima vez? E assim valorizo a capacidade de mudar, virar a página e seguir adiante. Concluo dizendo que o erro faz parte do acerto. Só não erra quem não tenta.