Depois de fazer o máximo possível de marola para cima da independência do Banco Central (BC) e de ser extremamente sem modos com Roberto Campos Neto, o presidente da instituição – atitudes, aliás, que serviram para nada –, Lula III mira sua artilharia para as próprias forças aliadas na queda de braço sobre a desoneração dos combustíveis, tema que tomará a agenda econômica da semana. Paga o preço de não ter seguido as recomendações do Ministério da Fazenda, que desejava começar o ano com isso resolvido. Se tivesse seguido a técnica, em vez de seu instinto, a maior parte da mudança já teria sido ‘preficicada’ na inflação do primeiro trimestre e a receita em tributos para estados e União estaria mais gorda. Lula III esqueceu a regra de ouro de Maquiavel: faça o mal de uma vez e o bem aos poucos. E agora, está entre uma decisão ruim e outra pior. O preço da gasolina virou batalha digna de Velho Oeste.

Caso faça valer sua atual fase de ignorância macroeconômica, ele provavelmente vai manter a desoneração. Brigará nisso para que não haja ainda mais contaminação dos preços. Estima-se, dependendo do especialista ouvido, que entre 0,5 e 0,7 ponto porcentual será acrescido ao IPCA caso a desoneração termine. A inflação acumulada em 12 meses está em 5,63% – e em 1,31% no acumulado de 2023 (janeiro cheio + fevereiro IPCA-15). O medo de Lula é de que parte da opinião pública caia para cima dele descendo a lenha. Temor besta. Subsidiar combustível é transferir renda para a população remediada (classe média baixa) para cima. Traduzindo, para um belo naco da população que, pelas pesquisas na eleição, já o odeia. O argumento de que vai contaminar o preço dos alimentos (atingindo a base mais pobre/miserável e volumosa de nossa pirâmide) é quase discutível porque o vaivém de commodities se dá essencialmente a diesel, o que continua desonerado. Por fim, mas não menos importante, abrir mão de receita num caixa estourado como o da União significa aumentar o endividamento. Leia-se: jogar Selic pra cima – no mundo real, o juro para um ano está em 13,27% e a inflação implícita, em 6,52%, segundo a Anbima.

PT ataca propostas de Haddad, que pode sofrer novo revés

Lula III pode também esperar trabalhar outra saída. Manter temporariamente a desoneração até que a Petrobras refaça sua política de preços. Para isso é preciso duas coisas. Uma nova diretoria empossada e um plano. Não há coisa nem outra. No começo do mês de fevereiro, Jean Paul Prates, o presidente da estatal, nomeou os primeiros cinco de oito diretores, cujos nomes devem ser validados. Ainda faltam as escolhas para outras quatro diretorias – uma (Transição Energética) que deve ser criada. Quanto ao tal plano é difícil de resolver porque há atores internacionais demais numa equação altamente complexa determinando o preço do petróleo. Uma cadeia que não depende da Petrobras e na qual ela tem atuação mais passiva que ativa. Se a estatal fizer isso na marra e controlar no mercado nacional um preço internacional Lula III ironicamente (e tragicamente) estará fazendo exatamente como pensa e fez Jair Messias Bolsonaro.

Isso tudo, porém, é o cenário com cara de cortina de fumaça da verdadeira questão. Mais que a desoneração ou não dos combustíveis, o mercado vai olhar para o quanto balança a cadeira de Fernando Haddad. É essa a real decisão de quarta-feira.