07/07/2001 - 7:00
Desde o sucesso da série de tevê O Homem de Seis Milhões de Dólares, nos anos 80, a substituição de órgãos debilitados e partes do corpo por aparelhos artificiais tem feito parte do imaginário coletivo. Hoje, com o primeiro implante de coração artificial (o Abiocor), realizado nos Estados Unidos no início do mês, o surgimento de um Cyborg no mundo real parece mais próximo do que nunca. Equipamentos que permitem a visão a cegos e implantes que devolvem a audição já são uma realidade na vida de muitos deficientes. E com o auxílio de computadores, as próteses
mecânicas de braços e pernas também estão ficando cada
vez mais inteligentes.
Não há números consolidados sobre o tamanho do mercado para a criação de ?homens artificiais?, mas uma simples conta aritmética permite uma idéia. Há nos Estados Unidos 100 mil pessoas na fila de transplante de coração e cada Abiocor custa US$ 75 mil. Ou seja, só aí existe um mercado potencial de US$ 7,5 bilhões.
Implantado em um paciente americano no Hospital Judaico de Louisville, no Estado do Kentucky, o Abiocor, tido como o primeiro coração inteiramente mecânico de uso interno, foi desenvolvido pela empresa Abiomed e consumiu investimentos de US$ 47,7 milhões nos três últimos anos. Entretanto, num primeiro momento, ele só poderá ser usado em pacientes com expectativa de vida inferior a um mês.
Um dos maiores avanços rumo ao ?homem biônico? está na audição. Com garantia quase total de compreensão da voz falada, o ouvido artificial consiste em implantes de minúsculos dispositivos na região da cóclea (parte anterior do labirinto). O ouvido biônico já é uma realidade comercial e pode beneficiar inclusive pessoas com problemas de surdez muito severos. A exceção são os adultos que nunca tiveram capacidade auditiva.
Desde o ano passado, alguns deficientes visuais conseguiram trocar o cão de guarda pelo ?Olho de Dobelle?, que permite a uma pessoa totalmente cega adquirir uma visão de 5%. Desenvolvido pelo Instituto Dobelle em Nova York após 30 anos de pesquisa, o olho biônico consiste de uma minicâmera de televisão e um sensor ultra-sônico remoto acoplados a um par de óculos. Os sensores se conectam a um computador que fica no cinto da pessoa e que transmite impulsos a um cabo embutido dentro da cabeça e ligado à superfície do cérebro. Uma outra tecnologia, ainda em fase de desenvolvimento na Universidade do Estado da Carolina do Norte (NCSU), promete fazer ver sem a necessidade de parafernália externas. Trata-se de uma retina artificial, feita de um microchip de silicone coberto com eletrodos e células fotossensíveis. Como em um olho de verdade, as células fotossensíveis convertem luz e imagens em impulsos elétricos e enviam informações para o cérebro. ?Ela irá permitir que o deficiente tenha uma ?visão útil? que permita mobilidade e, quem sabe, até leitura?, explica Wentai Liu, professor de engenharia da NCSU e um dos responsáveis pela pesquisa.
O lado negativo é que a retina artificial não estará disponível
em menos de dez anos.
Depois de grandes avanços no pós-guerra, a indústria de próteses de braços e pernas passa por uma nova revolução. Uma equipe do hospital Princess Margaret Rose de Edimburgo, na Escócia, desenvolveu o primeiro braço biônico que permite movimentos completos a partir do ombro. Feito em fibra de carbono com pequenos motores em cada junta e forrado com uma pele de silicone, o braço completo custa US$ 13 mil. Um outro concorrente, fabricado pela empresa americana Animated Prosthetic, vem com uma tomada perto do cotovelo que se liga a um microcomputador. ?Isso permite ao usuário fazer ajustes de força e velocidade e também consultas médicas virtuais?, explica Michael Tompkins, presidente da empresa. Só o ante-braço custa de 15 a 25 mil dólares. Como se vê, nenhum dos implantes e próteses são baratos. Mas que Cyborg estava superfaturado estava.