06/03/2013 - 21:00
Um dos compromissos que todo presidente de companhia aberta mais abomina e tenta evitar é convocar acionistas, analistas e imprensa para informar que a última linha do balanço está tingida de vermelho. Pois foi o que aconteceu com Murilo Ferreira, presidente da Vale, na quinta-feira 28. Coube a ele anunciar o primeiro prejuízo trimestral registrado pela mineradora em dez anos. No último trimestre de 2012, a Vale amargou um prejuízo de R$ 5,6 bilhões. No mesmo período de 2011, o lucro havia sido de R$ 8,3 bilhões. Como resultado, o balanço anual da Vale recuou 74,3% no ano passado, em relação a 2011 (observe o quadro ao final da reportagem), registrando um lucro de R$ 9,7 bilhões, contra R$ 37,8 bilhões.
Prognósticos positivos: Para Murilo Ferreira, presidente da mineradora, os preços baixos do minério,
a demora na concessão de licenças ambientais e as disputas tributárias com o governo
são problemas que ficarão para trás em 2013
No entanto, apesar do vermelho rutilante do últimos três meses de 2012, que comprometeram o desempenho anual, as ações da mineradora subiram 3% na quinta-feira, a primeira alta significativa em muitos meses. Há razões para essa aparente contradição. O executivo informou que os números foram ruins, mas os prognósticos são bons. Em uma teleconferência com analistas, ele disse acreditar que os seus maiores problemas serão superados em 2013. Os preços baixos do minério, a demora na concessão de licenças ambientais e as complicadas disputas tributárias com o governo deverão ser superados nos próximos meses. “Já tivemos dez licenças ambientais concedidas neste ano”, disse Ferreira. “Vamos deixar esses problemas para trás e caminhar com as questões ambientais e tributárias mais bem resolvidas.”
Ferreira afirma que a Vale vem sendo prejudicada pela falta de regulamentação da mineração. Ele compara suas atividades com as das empresas de petróleo. “Elas têm um mercado cativo, mas nós enfrentamos concorrência internacional”, diz. A retomada da discussão com o governo sobre a criação de um novo código mineral deverá melhorar a situação, trazendo maior estabilidade legal e regulatória. Além disso, o início das operações e o aumento da capacidade de produção da mina de níquel Onça Puma, no Pará, e do projeto de extração de níquel e de cobalto em Nova Caledônia, no Pacífico Sul, previstas para este ano, devem melhorar os resultados. No lado negativo, a expansão da produção de carvão em Moçambique foi adiada por um ano devido ao desempenho logístico ruim, com sucessivos problemas no transporte ferroviário local.
Segundo Ferreira, a entrada em operação do projeto Moatize II, que estava prevista para o segundo semestre de 2014, passou para segundo semestre de 2015. Apesar da redução dos ganhos no período, o relatório do Banco do Brasil assinado pelo analista Victor Penna, considera positivo que a companhia ter conseguido elevar o volume de vendas do minério de ferro, aproveitando a recuperação no preço do insumo ao longo do trimestre. Como essa tendência de alta se manteve no início deste ano e o preço do minério no mercado à vista atingiu o maior valor desde outubro de 2011, a expectativa é de que os números da mineradora melhorem, já no primeiro trimestre de 2013, caso seu desempenho operacional não seja comprometido pelo excesso de chuvas característico do primeiro trimestre.
Os analistas Marcos Assumpção e André Pinheiro, do Itaú BBA, e Alexander Hacking e Thiago Ojea, do Citibank, também estão otimistas. Eles destacam que notam mais sinais positivos do que negativos no balanço. Assumpção e Pinheiro consideraram os resultados operacionais da companhia como sólidos e mantiveram, assim, sua recomendação de compra para os papéis da empresa. “Reiteramos nossa recomendação principalmente por conta da valorização atrativa”, afirmam, em relatório. Hacking e Ojea também indicam a compra das ações. “Os preços fortes do minério de ferro devem impulsionar os resultados daqui para a frente”, dizem.