06/08/2003 - 7:00
Antônio Francisco da Costa Lisboa, o Aleijadinho, filho de mãe escrava com entalhador português, nasceu em Minas Gerais em 29 de agosto de 1730. Tornou-se escultor, arquiteto e um dos maiores artistas da história do Brasil. Morreu em 14 de novembro de 1814, doente de hanseníase e paralisia, enterrado como indigente. No próximo dia 12, num instante raro, um lote de esculturas do gênio barroco vai a leilão no Rio de Janeiro. São sete peças. Lance mínimo do conjunto: R$ 2,05 milhões. Entre elas, há um par de anjos de presépio, avaliado em R$ 600 mil. ?Mas deverá atingir R$ 1,8 milhão?, diz Leone Gonçalves, dono da Leone Galeria de Arte. Outras duas relíquias estarão à disposição dos colecionadores: esculturas de 18 centímetros de uma Nossa Senhora da Piedade e de um São João Nepomuceno. O lance inicial de cada uma é de R$ 500 mil. Completa o pacote um anjo de sepulcro sentado nas nuvens (R$ 550 mil), uma cabeça de Cristo em tamanho natural (R$ 300 mil) e, por fim, um crucifixo (R$ 100 mil). Especialistas apontam, nesse desfile mineiro, algumas das características que construíram o mito de Aleijadinho, e por isso podem triplicar o valor final das batidas de martelo: a boca entreaberta dos personagens, os dedos colados e a cativante força expressiva dos rostos.
A coleção é resultado da obstinação
de um homem, o médico João Bosco
Vianna Gonçalves, de 87 anos.
Cunhado do falecido banqueiro Walter Moreira Salles, ele reúne peças barrocas desde os anos 30. ?Estudava em um internato em São João Del Rey, em Minas Gerais, e o único dia livre para passeio era o domingo?, lembra. ?Aproveitava para visitar igrejas da região.? Assim cresceu a paixão pela arte sacra e o extenso catálogo. ?Quero que as esculturas fiquem com alguém que cuide e preserve este patrimônio brasileiro?, diz Bosco.
A venda no Rio de Janeiro servirá como uma espécie de termômetro. Os leilões ajudam a indicar o verdadeiro valor de uma peça histórica. No início do mês passado, por exemplo, a casa de leilões Sotheby?s, na Inglaterra, vendeu um auto-retrato, de 1634, do artista holandês Rembrandt van Rijn, por US$ 11,3 milhões. Foi um dos quadros mais valiosos do artista já vendido pela casa de leilões. Como Aleijadinho, Rembrandt morreu pobre. Suas obras não valiam muito e tudo o que ele pintava era vendido para a própria sobrevivência.