04/05/2020 - 4:03
Quarenta anos após sua morte, o legado de Josip Broz Tito, líder da ex-Iugoslávia, continua sendo motivo de debate entre os que apontam o unificador do país e os que denunciam um autocrata sedento de poder.
Nenhuma cerimônia foi programada em memória do carismático e polêmico líder da Iugoslávia comunista, que deixou de existir como federação de sete repúblicas em 1992. Hoje as sete repúblicas são países soberanos.
Depois de expulsar as forças de ocupação nazistas durante a II Guerra Mundial, Tito, nascido em Kumrovec (Croácia) em 1892, governou a Iugoslávia com mão de ferro durante mais de 40 anos, até sua morte em 4 de maio de 1980 em Liubliana, na Eslovênia.
O mosaico de etnias e religiões que constituíam a Federação Iugoslava não resistiu unido após a morte do autoritário marechal Tito.
Uma década após seu falecimento, a região foi cenário de uma série, com um balanço de mais de 130.000 vítimas fatais.
Tito deixa lembranças diferentes nos países que formaram a ex-Iugoslávia. Sua popularidade caiu na Croácia e na Sérvia.
– “Iugonostalgia” –
Mas a “Iugonostalgia” não desapareceu em uma região com a economia estagnada. Algumas pessoas sentem falta da ‘era de ouro’ socialista, quando o emprego e a educação estavam ao alcance de todos.
“Eu era criança na época de Tito, mas lembro de uma época agradável, das férias em família na costa”, afirma Dragana Krstic, de 46 anos, funcionária de um banco em Belgrado.
A Iugoslávia “estava bem organizada, era respeitada e eu associo isto a Tito” concorda Aleksandra, uma montenegrina de 48 anos. “Nos últimos 30 anos vivemos uma regressão econômica, social, cultural”.
Tito era um homem de contrastes.
Filho de mãe eslovena e de pai croata, ele desejava ser a encarnação da “fraternidade” entre os povos. Sua terceira esposa era uma sérvia da Croácia.
Tito gostava de festas extravagantes, charutos cubanos e iates luxuosos.
Autorizava liberdades impensáveis para outros ditadores comunistas, nas áreas artística ou cultural. Os iugoslavos eram autorizados a atravessar livremente as fronteiras.
“Não era um democrata, mas para o cidadão comum oferecia uma vida muito mais livre que em outros países comunistas da Europa”, afirma em Zagreb Vedran, economista de 57 anos.
– Opositores na prisão –
A liberdade, no entanto, não incluía o direito à crítica. Os adversários de Tito o detestam por ter enviado milhares de opositores políticos à prisão – muitos deles faleceram em centros de detenção.
Gordana, aposentada de 77 anos de Belgrado, afirma que nunca simpatizou com Tito e “seus comunistas. “O regime confiscou nossa propriedade privada e prendeu os que pensavam de forma diferente”.
A imagem de Tito, acusado de alimentar um culto à personalidade, estava onipresente. Em cada uma das seis Repúblicas e duas províncias, uma cidade tinha seu nome.
Centenas de ruas e praças foram rebatizadas e vários monumentos erguidos em sua homenagem foram destruídos.
Nas escolas, os livros de história, que já foram bajuladores, agora adotam um tom neutro para descrever os aspectos positivos e negativos do reinado de Tito.