A pequena cidade de Lichtenstein, na região da Alta Saxônia, na Alemanha, tem algumas das características típicas que marcaram a história da Europa. Ela já foi um principado independente cujo nome era Schönburg, depois foi anexada à República Alemã e, por último, esteve ocupada pelos soviéticos depois do fim da 2.ª Guerra Mundial. Há uma curiosidade, contudo, que torna o lugar inusitado: o príncipe Alexander von Schönburg-Hartenstein, o mandachuva do pedaço, não tem sotaque alemão, torce para o Santos, é fã do Pelé e fica com água na boca quando vê um prato de moqueca de peixe com pirão. ?Sou meio brasileiro e meio alemão?, diz Alexander, sem um único indício do idioma de Goethe. ?O meu atual ídolo no futebol é o Ballack, da seleção alemã?, afirma. ?Afinal, ele é de uma cidade próxima a Lichtenstein?. A história desse brasileiro de 45 anos, por mais que pareça clichê, daria um filme. A família Schönburg, dona de um suntuoso castelo na região desde 1212, saiu fugida da ocupação comunista na Alemanha Oriental, em 1948, com uma mão na frente e outra atrás. Perdeu tudo. Alexander, então com cinco anos, veio com os pais para o Brasil. Estudou publicidade, fez carreira e, em 1999, recomprou a fortaleza de pedra que um dia pertenceu a sua família. ?Foi sensacional, uma emoção inexplicável, reconquistar o que era nosso?, diz Alexander.

Essa faceta nobre de Alexander é pouco conhecida no Brasil. Ele é, contudo, figura carimbada no meio publicitário. Foi vice-presidente da agência Grey no Canadá, sócio-fundador da TBWA no Brasil, teve uma agência com seis unidades na Europa e hoje é dono da Ag407, uma empresa de comunicação que, em apenas 10 meses, já alcançou faturamento de R$ 5,5 milhões. O castelo, além de fazer parte da sua história, é um hobby. ?Estou reconstruindo o lugar?, avisa. Explica-se: na época em que estava sob o domínio dos adeptos de Lênin e Stalin, o castelo havia se convertido em asilo de idosos. A construção, portanto, estava toda modificada, com mais de 50 quartos. As obras de arte as esculturas com séculos de história tinham sido pilhadas. ?Restaram somente dois quadros na parede?, diz Alexander. O que foi feito? O grande castelo de 4 mil m² pousado em uma área de 150 mil m² agora está voltando às suas origens. Em vez de 50 quartos, serão 30, além de três grandes salões, passagens subterrâneas e outras secretas, como manda o figurino das construções de sangue azul.

Esses mistérios da era medieval podem ser desvendados pelo público. O castelo recebe a visita de cerca de 60 mil pessoas por ano a um custo de 1 euro pelo ingresso. É também palco de um evento anual chamado ?A Noite dos Castelos?, em setembro. Trata-se de um festival realizado em seis edifícios seculares da região, no qual há saraus, degustações gastronômicas, peças de teatro e exposições. O retorno de Lichtenstein para as suas antigas tradições se confunde com a própria história da construção e da família Schönburg. O edifício foi destruído e reconstruído em quatro ocasiões, entre os séculos XIV e XVII. Hoje, novamente nas mãos dos Schönburg, pretende não mudar mais de cara.