DINHEIRO – A chegada de uma Oi fortalecida pela compra da Brasil Telecom chega a incomodar a TIM?
MARIO CESAR PEREIRA DE ARAUJOQuanto maior a competição, melhor para o cliente. A gente não pode ser contra a competição. Acredito que essa operadora que está chegando forte terá que apresentar alguma estratégia diferente. Isso porque, até hoje, e fez muito bem, usou uma estratégia utilizando o braço fixo como suporte da sua estratégia móvel. Agora, vai entrar em São Paulo sem esse suporte. Então, terá de atuar com outras táticas. Isso não nos incomoda porque nós não sabemos até onde essa empresa vai chegar.

DINHEIRO – O sr. acredita numa ofensiva para “roubar” clientes?
ARAUJOA nova operadora Oi deverá explorar um nicho de Entrevista / Mario Cesar Pereira de Araujo mercado pré-pago, de baixo custo. Acredito que ela utilizará o modelo de negócio que a Gol usou quando entrou no mercado de aviação. Mas, evidentemente, é preciso saber, no mercado de São Paulo, que é sofisticado e onde há muitas opções, qual é a parcela da população que vai aderir a uma solução mesmo mais barata, mas com algumas dificuldades e limitações, seja de cobertura, seja de facilide de serviços.

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DINHEIRO – A TIM não pretende lançar nenhum contra-ataque?
ARAUJOA partir do momento que a TIM decidiu não adquirir a Brasil Telecom, nós ficamos com uma telefonia móvel pura. Nós tivemos que adotar uma nova estratégia para esse mercado convergente. Passamos a adquirir a licença fixa, fizemos alguns investimentos a mais, porque, quando você coloca o serviço fixo, você precisa aumentar os pontos de acesso e isso aumenta muito mais a infra-estrutura de rede. Essa foi nossa estratégia.

DINHEIRO – Mas os investimentos não se reverteram em aumento do faturamento.
ARAUJOAs receitas ainda não estão vindo como deveriam, mas vão vir. O mais importante é que a empresa é hoje estruturalmente e tecnicamente preparada. E, na verdade, apesar dos reveses financeiros nos últimos balanços, já mostramos que a empresa vai crescer. Costumo dizer que quem chega no rio primeiro bebe a água limpa. E nós queremos chegar no rio primeiro. Por isso, estamos preparados para esse novo modelo, esse novo mercado. Que venha a Oi.

DINHEIRO – A TIM teme repartir clientes com as rivais, diante do acirramento da concorrência?
ARAUJOO mais importante é identificar que tipo de cliente se tem na base, não apenas o número de clientes. Todos sabem que qualidade não é quantidade. Somos líderes em receita por cliente, que mede o gasto mensal por linha habilitada. Temos clientes melhores, que falam mais. Aí entra, evidentemente, o segmento corporativo, ainda pouco explorado. Até agora, a maioria dos serviços oferece apenas serviços para se comunicarem, sem alternativas para utilizar em seus próprios negócios. Está mudando. A TIM começa a dar mais mobilidade ao escritório. Começamos e entrar numa receita que era praticamente monopólio das fixas.

DINHEIRO – Além da chegada da Oi, a Claro já encostou na TIM em número de clientes. Qual será a reação?
ARAUJOComo disse, quantidade não é qualidade. A TIM tem hoje fatia de mercado superior a 25% e sempre procurou crescer com rentabilidade. Nunca nos preocupamos em ter a liderança de participação de mercado e não estamos preocupados com uma outra operadora que possa chegar ao número que temos. O que nós mostramos sempre ao mercado é que nosso valor em receita de serviços é o melhor. Costumo dizer que é o “colesterol bom”, porque, quando se coloca a receita total, se coloca a receita de produtos. Então, você mede realmente o crescimento sadio da empresa através da receita líquida de serviços. É o nosso caso. Nós somos líderes no mercado corporativo aqui em São Paulo e somos líderes no mercado jovem. Isso é muito bom para nossa imagem.

DINHEIRO – Qual será a estratégia da TIM no mercado 3G?
ARAUJO A meta da TIM sempre foi oferecer serviços integrados. Em setembro do ano passado, nós entramos com modem, o TIM Web, sem falar em 3G. Falamos sempre em GPRS. Esse modem já estava predisposto a operar em 3G. Assim que nós colocássemos no ar a freqüência, ele iria captar e o cliente não precisaria fazer nada. Saímos na frente. A mesma coisa fizemos com os chips. Todos já estavam preparados, para não necessitar de recall. Nos antecipamos de novo. Então, quando nós entramos com o 3G aqui, o cliente sentiu a mudança. Também, antes de lançarmos o sistema 3G, nós já tínhamos muitos aparelhos 3G vendidos sem o cliente saber que era 3G. Fizemos uma antecipação do lançamento.

DINHEIRO – Por que a TIM demorou em divulgar a nova tecnologia? ARAUJO Tivemos alguma demora na autorização da Anatel, o que atrasou um pouco os nossos planos de conquista rápida do mercado. Enxergamos no 3G um grande potencial, já que havia uma baixa penetração na banda larga. O apelo era oferecer velocidades compatíveis com as que eram oferecidas pela telefonia fixa com a vantagem da portabilidade e da mobilidade. Nesse segmento, nosso crescimento foi um estrondo. Em três meses, nós dobramos a base de venda de dados.

DINHEIRO – E o iPhone?
ARAUJONós estamos negociando. Vamos fechar o contrato com a Apple, provavelmente junto com todas as operadoras, num lançamento conjunto em toda a América Latina. Então, todas as empresas que tiverem o contrato vão participar, por volta de setembro. O lançamento será em novembro. Essa é uma coqueluche, uma forma diferente de navegação por celular e é realmente uma grife. Muitas empresas já estão desenvolvendo sistemas de navegação semelhantes. Nós já encontramos no mercado produtos similares ao iPhone e que certamente virão com preços menores. Mas nós temos certeza de que o iPhone será a coqueluche entre os celulares no Natal.

DINHEIRO – A portabilidade vai prejudicar os planos da TIM?
ARAUJO – Não será um problema, mas uma grande oportunidade. A portabilidade é um processo que a gente já viu acontecer no mundo inteiro. Muitas vezes o cliente não está satisfeito com a operadora, mas não troca porque aquele telefone é o contato que tem com sua família ou com clientes que podem um dia procurá-lo. Então, ele fica refém. Enxergo a decisão da Anatel como uma liberdade a mais para o cliente. E as operadoras vão fazer um trabalho de mais qualidade, de atenção aos clientes, para reter a base, e de tentativa de conquista de outras operadoras.

DINHEIRO – A venda de parte da Telecom Italia para a Telefônica afetará os negócios no Brasil?
ARAUJO Não. A decisão de a Telefônica entrar foi uma decisão italiana. O capital da Telecom Italia continua em grupo italiano. Na hora que a Telefônica entrou lá, entrou com uma parcela menor, não como acionista para decidir nem mesmo dentro da própria Itália. Dos 16 conselheiros do grupo, apenas dois são espanhóis. Eles, da Telefônica, entraram com a expertise de operações, para ganhos de sinergias, compras conjuntas e serviços convergentes para clientes de ambas as empresas. No entanto, ficou claro desde o início que, na TIM Brasil, a Telefônica não teria nenhuma participação. Tanto que no conselho de administração os dois membros espanhóis não participam das decisões da TIM Brasil. Não existe intenção de juntar as operações. Até porque teriam dificuldades se colocassem a Vivo e a TIM juntas. No Norte, por exemplo, chegaria a 90% de market share. E haveria uma concentração muito grande.

DINHEIRO – Como o sr. vê a decisão do governo de autorizar a criação de uma gigante no setor de telecomunicações?
ARAUJO Essa é uma decisão política do governo, de ter uma empresa de capital nacional. E é justo ter essa aspiração política. Para isso, ele teve de alterar algumas regras e algumas leis. E, na verdade, não cria concentração. Cria uma empresa forte. Porque elas, a Oi e a Brasil Telecom, têm áreas de atuação complementares. Mas é verdade que cria um desequilíbrio competitivo no mercado. Mas a própria Anatel está se preocupando em criar uma isonomia competitiva porque tem que defender os interesses dela, os políticos, mas, ao mesmo tempo, tem que se preocupar em incentivar que venham capitais estrangeiros para o Brasil. Afinal, após a privatização, ninguém pode negar que houve um “boom” de investimentos e de oferta de serviços, que hoje deixa o Brasil num status de qualidade mundial.

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DINHEIRO – Como o sr. avalia a pressão por liberação de informações de clientes, os grampos?
ARAUJOAs regras são claras. Quando um juiz solicita à TIM informações de um cliente ou pede uma interceptação, há um órgão específico da TIM que trabalha só com isso, em total segredo. Eu mesmo, como presidente da empresa, não tenho conhecimento sobre quem está sendo grampeado. Tem um caminho direto que chega lá.

DINHEIRO – É um excesso?
ARAUJOSe é excesso ou não é excesso, não cabe à TIM analisar. Se analisarmos o nosso número de pedidos de grampos aqui, concluímos que é muito maior que nossos pedidos no Exterior. Não sei se é porque é mais fácil no Brasil. Porque no Exterior as operadoras cobram para fazer. Talvez seja por isso que não haja tanta proliferação como aqui. É claro que, se é para salvar uma vida ou diminuir a corrupção, a gente está disposto a dobrar os grampos e bancar o aumento dos custos. Mas, que fique claro: não como uma decisão da TIM, mas como uma decisão dos juízes.

DINHEIRO – Como ficará o mercado a partir de 2009, com novas regras e novas tecnologias?
ARAUJOEntre 2008 e 2010, nós prevemos gastar R$ 7,2 bilhões. Aí se inclui o valor da licença da terceira geração, que foi de R$ 1,4 bilhão. Com o aumento da competição, os preços têm caído. Não só os dos serviços prestados como também os dos aparelhos. Isso tem permitido que uma camada menos favorecida da população tenha acesso a serviços. Então, a gente vê que está alargando o uso do telefone. O mercado continuará crescendo, a TIM sempre estará no topo dessa liderança.