19/07/2013 - 21:00
Poucos períodos foram tão desafiadores para o investidor, aqui e lá fora. Em horas como essa, só consultando os especialistas. No caso, os analistas da gestora de origem americana BlackRock, maior administradora de fundos de ações dos Estados Unidos, com um patrimônio de US$ 3,9 trilhões. Com investimentos em 30 países, a BlackRock realiza, duas vezes por ano, um estudo das expectativas dos investidores em todo o mundo. DINHEIRO obteve, com exclusividade, acesso a essa análise. E já antecipa a conclusão: na floresta dos investimentos há oportunidades excelentes para quem tiver paciência – e o Brasil está no topo da lista. A seguir, os principais pontos da pesquisa:
EUA – A incógnita Bernanke
Situação: Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, teve de enfrentar um período de grave turbulência financeira. Para impedir a débâcle generalizada da economia americana, o Fed injetou mais de US$ 3 trilhões nos últimos cinco anos no sistema financeiro e reduziu os juros a praticamente zero a partir de 2009. Agora, é hora de reduzir essa dosagem maciça de medicamentos para permitir que as empresas e os bancos andem sozinhos. “Os trilhões de dólares inseridos na economia suavizaram a crise, mas não estimularam o crescimento nem o crédito”, afirma o americano Russ Koesterich, chefe global de estratégia de investimentos da BlackRock. O ritmo da retirada dos pacotes de ajuda é a grande incógnita. “Será algo definido pelos indicadores econômicos, que vão mostrar com que velocidade o Fed pode parar de ajudar”, diz. Sua avaliação é que a economia americana vai crescer devagar. Melhoras mais nítidas só no fim do ano.
O que observar: o desemprego. Em 2009, esse indicador estava em elevados 10%, tendo recuado para 7,5% no segundo trimestre deste ano. Para os especialistas, quando a taxa recuar para 7%, o fluxo de recursos públicos para o mercado vai estancar, derrubando as ações nos Estados Unidos e reduzindo ainda mais o fluxo de recursos para outros países.
Europa – A ameaça dos bancos
Situação: A divisão do continente europeu está mais profunda. Há uma distância maior entre os países do Norte em boa situação, como Alemanha e Holanda, e os países do Sul com problemas mais sérios, como Grécia, Portugal e, em menor escala, Espanha e Itália. Não se esperam grandes mudanças no curto prazo, devido às eleições alemãs, marcadas para setembro. Até lá, é pouco provável que Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), consiga resolver a situação dos bancos. Segundo Koesterich, a crise bancária cipriota de abril passado é uma prova da fragilidade da situação. “Se um país pequeno como Chipre é capaz de afetar os papéis de bancos alemães, problemas na Grécia ou em Portugal serão muito sérios.” No entanto, diz ele, há empresas alemãs, francesas e holandesas menos expostas aos solavancos das economias de seus países e podem ser boas alternativas no mercado acionário.
O que observar: a classificação de risco de países como Espanha e Itália, que pode ser rebaixada a qualquer momento. Um rebaixamento deverá provocar uma confusão momentânea nos mercados, criando boas oportunidades de compra
Ásia – A síndrome da China
Situação: China e Japão, as duas principais economias asiáticas, enfrentam situações díspares. A China deverá reduzir seu crescimento, neste ano, para 7,5%. Esse desempenho modesto – para os padrões chineses, claro – não implica apenas uma desaceleração das vendas de commodities. Ele também traz a ameaça de uma crise bancária chinesa. “Os bancos na China são pouco transparentes e, por isso, é difícil saber ao certo quais estão saudáveis e quais têm problemas”, diz o executivo da BlackRock. Como o crescimento da economia por lá tem sido baseado no consumo e depende do aumento do crédito, um soluço dos bancos vai afetar toda a economia. Já o caso japonês é radicalmente diferente. Depois de três décadas de tentativas frustradas, o governo de Tóquio conseguiu colocar em prática as reformas estruturais necessárias para estimular a economia, o que proporciona boas oportunidades para os investidores, desde que com um horizonte de longo prazo.
O que observar: a situação no Oriente Médio. A troca de governo no Egito e as manifestações na Turquia podem elevar os preços do petróleo.
Brasil e países emergentes – Preços de ocasião
Situação: Os países emergentes, o Brasil entre eles, têm apresentado um desempenho ruim nos últimos meses. A causa principal é a incerteza com relação à economia americana, além de alguns problemas pontuais. “As manifestações no Brasil deixaram os investidores desconfortáveis”, diz Koesterich. “Embora não se espere nenhuma mudança drástica ou ruptura, nenhum investidor gosta de ver gente protestando na rua.” Mesmo assim, diz ele, há excelentes oportunidades no mercado para quem tiver paciência. Segundo Koesterich, a questão a ser resolvida no Brasil é a retomada do crescimento econômico, a cargo de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (BC). Quando a economia recuperar seu ritmo, algo cujo momento ele não se arrisca a prever, as ações devem subir bastante. “Há excelentes empresas que estão muito baratas quando comparadas a seus pares de países desenvolvidos”, afirma. O investidor que estiver disposto a ignorar os solavancos pontuais e mantiver os papéis em carteira por pelo menos dois anos não terá do que reclamar.
O que observar: o ritmo do crescimento econômico nos países emergentes e o comportamento do Federal Reserve nos Estados Unidos.