22/09/2021 - 10:04
Uma das principais autoridades sanitárias dos Estados Unidos, o epidemiologista Eric Feigl-Ding, membro da Federação de Cientistas Americanos, publicou uma série de posts em que argumenta sobre o risco que a delegação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) representa à cidade de Nova York. Segundo Ding, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que contraiu a Covid-19 na viagem, já representava um grande risco de propagação do vírus na 76ª Assembleia Geral da ONU.
Ding fez as publicações antes de confirmados os casos de infecção por coronavírus de vários membros da delegação brasileira que estavam junto ao presidente naquela viagem. Estão com covid, além do ministro Marcelo Queiroga, uma outra pessoa que não foi identificada e o filho do presidente Eduardo Bolsonaro.
Dois ministros foram diagnosticados com covid nesta sexta-feira (24), mesmo sem terem ido na viagem aos Estados Unidos: a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que anunciou em rede social que estava infectada, e o advogado-geral da União, Bruno Bianco, que esteve na posse de Aras no Palácio do Planalto na quinta-feira (23).
Os argumentos do epidemiologista
Ding elenca os fatos: Queiroga foi filmado mostrado o dedo médio a manifestantes em Nova York. Depois, Queiroga apertou a mão do Primeiro Ministro britânico, Boris Johnson, que se reuniu com a delegação brasileira na segunda-feira (19). Mesmo infectado, Queiroga compareceu à sede da ONU para acompanhar o discurso de Bolsonaro na terça (21).
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Queiroga foi visto em uma van com o ministro das Relações Exteriores, o diplomata e chanceler Carlos França, que foi fotografado fazendo o gesto de “arminha” com os dedos. No entanto, França reuniu-se com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Ding ainda critica a máscara de baixa qualidade e com vazamentos laterais utilizada por Queiroga na assembleia da ONU. “Todos precisamos nos testar agora. Obrigado Jair Bolsonaro e ministro Queiroga – obrigado por nada”, postou, antes de lembrar que Bolsonaro foi multado por comparecer sem máscara à motociata em São Paulo, com milhares de pessoas.
Ding ironiza ao descobrir que Queiroga havia sido o segundo membro da delegação brasileira em Nova York a contrair Covid – o primeiro foi um diplomata brasileiro. Ele denuncia que brasileiros, como o general Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, não usaram máscara no hall da assembleia da ONU.
O cientista americano ressaltou que avisou sobre o risco sanitário que a delegação bolsonarista poderia representar. Em 2020, mais de 20 pessoas da delegação brasileira testaram postivo à covid-19, o que fez o então presidente Donald Trump fazer o teste pela primeira vez.
Bolsonaro é o único líder mundial que esteve presente na ONU que alega não ter sido vacinado – foi imposto um sigilo de 100 anos sobre sua carteira de vacinação. O que mais preocupava Ding, no entanto, era o fato de a delegação brasileira estar presente no mesmo hotel que o presidente dos EUA, Joe Biden.
O Ministro Queiroga continua em Nova York, obrigado a permanecer em quarentena antes de embarcar. Nesta sexta-feira (24), após críticas de que permanecia no hotel caríssimo que abrigou a comitiva, estaria sendo transferido para outro, não tão caro.