28/08/2024 - 15:46
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira, 28, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicará Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central (BC), em substituição a Roberto Campos Neto. Se realmente indicado, Galípolo precisará passar por uma sabatina no Senado.
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Gabriel Muricca Galípolo ocupa no momento a posição de diretor de Política Monetária do Banco Central. Faz parte do Copom, o Comitê de Política Monetária da instituição responsável, entre outras atribuições, pela definição da taxa básica de juros da economia, a Selic. Antes do Banco Central, Galípolo atuava como secretário-executivo do ministério da Fazenda.
Antes de ir para o ministério, fez parte da equipe de transição de governo antes da posse oficial de Lula e já havia integrado a campanha presidencial de Lula.
O indicado é formado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e mestre em Economia Política na mesma instituição. Chegou a atuar como professor na PUC-SP em cursos de graduação no período de 2006 a 2012. Também deu aulas no curso MBA de PPPs e Concessões da FESP-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).
A carreira na área pública começou em 2007, quando ocupou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos, na gestão do então prefeito José Serra. Em 2008 foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado de São Paulo.
Entre 2017 a 2021 voltou à esfera privada assumir a presidência do Banco Fator, focado em parcerias público-privadas e programas de privatização. Foi ainda pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em 2022. Atuou também como conselheiro na Fiesp entre 2022 e 2023.
“Menino de Ouro”
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a declarar que Galípolo tem “todas as condições” para ser o novo presidente do Banco Central. Na avaliação de Lula, Galípolo é um “menino de ouro”, competente e honesto. “Se tem um menino de ouro, é o Galípolo. Competentíssimo, de uma honestidade ímpar”, falou o presidente em entrevista. “Obviamente que ele tem todas as condições para a presidência do BC.”
Na época, Lula afirmou nunca ter conversado com Galípolo sobre a indicação ao cargo, e que o nome a ser indicado seria o de uma pessoa digna e que “não vai brincar em serviço, vai ser sério”. “Na hora que disserem que tem que aumentar taxa de juros porque tem que aumentar, ele tem que explicar o porquê vai aumentar. Na hora que tiver que baixar, também tem que explicar o porquê tem que baixar”, comentou.
“Fantástico” trabalhar com Campos Neto
Após integrar a equipe de Política Econômica do BC, Gabriel Galípolo afirmou que trabalhar com o então presidente Roberto Campos Neto, estava sendo “fantástico”. “Ele tem uma experiência incrível”. A declaração de Galípolo se deu em meio a uma nova onda de críticas de Lula a Campos Neto e ao patamar elevado dos juros, na ocasião, em 10,5% ao ano.
Galípolo também já saiu em defesa do corpo de diretores do BC no fogo cruzado sobre as decisões de juros. “Os diálogos no Copom são sempre zero dogmáticos, com muita honestidade intelectual. Precisamos normalizar a divergência no Copom, entender que não significa outra coisa além disso”, afirmou.
O diretor já declarou ainda que nunca se sentiu constrangido ou influenciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou ao cargo.
“O presidente Lula sempre assegurou de toda maneira a liberdade e a autonomia plena para os diretores do Banco Central, mas faz parte do processo que você esteja disponível a sofrer todo tipo de crítica”. Ele afirmou que uma “fala de um líder político” pode acontecer, mas “não necessariamente influenciará a decisão que vai ser feita dentro do Banco Central”. E acrescentou que, na sua opinião, as críticas do governo têm sido feitas publicamente, o que é saudável.
Moeda única no Mercosul
Em abril de 2022, Gabriel Galípolo publicou um artigo em parceria com Fernando Haddad na Folha de S.Paulo sobre a criação de uma moeda sul-americana para acelerar a integração regional.
“Um projeto de integração que fortaleça a América do Sul, aumente o comércio e o investimento combinado é capaz de conformar um bloco econômico com maior relevância na economia global e conferir maior liberdade ao desejo democrático, à definição do destino econômico dos participantes do bloco e à ampliação da soberania monetária. A situação não é simples, dada a profunda heterogeneidade estrutural e macroeconômica dos países da região. As tentativas de fortalecer e acelerar a integração regional contaram até o momento com a criação de áreas de livre comércio e acordos no campo do crédito e da infraestrutura. No entanto, o ritmo desse processo é lento, marcado por diversos momentos de recuo. O início de um processo de integração monetária na região é capaz de inserir uma nova dinâmica à consolidação do bloco econômico, ao oferecer aos países as vantagens do acesso e gestão compartilhada de uma moeda com maior liquidez, válida para relações com economias que, juntas, representam maior peso no mercado global”, diz trecho do texto.