Tallis Gomes fundou a Easy Taxi, criou a plataforma Singu, definida como o “Uber da beleza”, e atualmente é presidente e sócio da G4 Educação, empresa que faturou R$ 200 milhões em 2023. Mas não foi esse currículo que deixou o empresário famoso, e sim um post no Instagram que rapidamente viralizou. Nele, o empresário dizia que os homens não deveriam ter relacionamentos duradouros com mulheres CEOs de grandes empresas.

Tudo começou quando um usuário perguntou: “Se sua mulher fosse CEO de uma grande companhia, vocês estariam noivos?” Esta foi a primeira resposta:

“Deus me livre de mulher CEO. Salvo raras exceções, (eu particularmente só conheço 2); essa mulher vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo planos.

Na sucessão de textos que veio em seguida, o empresário continuou argumentado, dizendo que uma pessoa na posição de CEO, como ele, passa por muito estresse e pressão e que, fisicamente, o profissional fica muito abalado. “Psicologicamente, você precisa ser muito, mas muito cascudo para suportar”.

Na sequencia, o empresário ainda criticou o feminismo e adotou um discurso sexista. “Homem que tem condição de bancar a sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família.”

O posicionamento de Tallis viralizou e recebeu diversas críticas, incluindo de Luiza Trajano, que atuou como CEO da rede de lojas Magazine Luiza, atualmente presidente do Conselho de Administração. A empresária postou no Linkedin que não concorda com o posicionamento do fundador da Easy Taxi. A empresa contratou a G4 Educação para um curso, segundo eles, “pontual” para o marketplace.

“Criei três filhos trabalhando muito, inclusive como CEO do Magalu. Soube cuidar deles e dos idosos da família. Tenho amigas íntimas que optaram por ficar em casa para criar seus filhos mais de perto. Simplesmente escolheram outro estilo de vida, e nunca as critiquei. Tanto os meus filhos quanto os delas são felizes, comprometidos e legais. Sempre digo: não há receita para criar uma família”, afirmou.

 

Ao perceber a repercussão do post, Tallis voltou ao Instagram para fazer uma réplica.

“Minha posição não tem nada a ver com o meu juízo de valor sobre a capacidade ou não de uma mulher ser CEO de uma grande empresa. Eu falei sobre quem eu quero a meu lado como minha mulher. (…) Minha empresa vai fazer R$ 100 milhões de Ebitda esse ano e a minha CFO é uma mulher. Se eu não acreditasse na capacidade de entrega de uma mulher, eu deixaria o caixa da minha empresa na mão de uma?”

Depois, lançou um desafio para os usuários da rede social. Pediu para que encontrassem 1.000 empresas com mais que R$ 100 milhões de Ebitda que tenham uma CFO mulher. “Se você achar, pode me mandar que o primeiro que mandar e comprovar, leva um pix de R$ 100k”, disse.

A tentativa de esclarecimento inicial não surtiu efeito. Outras grandes empresárias fizeram publicações de repúdio à Tallis Gomes. A Cofundadora do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), Ana Beatriz Gomes disse em sua conta do Linkedin: “Deus me livre é trabalhar com um CEO que pensa isso!”.

Ana Beatriz está pedindo ajuda dos usuários da rede social para levantar nomes de empreendedoras brasileiras de sucesso tanto na carreira quanto na vida familiar para enviar ao presidente da G4 Educação. “Vamos ajudá-lo a expandir seu repertório?”, postou em seu Linkedin.

A diretora comercial e de marketing sênior da multinacional Reckitt, Renata Vieira, disse ter acordado com mensagens em seu Whatsapp sobre as declarações de Tallis, em postagem no Linkedin.

O Instituto Caldeira cancelou a participação do empresário na Semana Caldeira 2024, realizado em Porto Alegre.

Depois das críticas recebidas, Tallis Gomes voltou às redes, dessa vez para um pedido de desculpas.

“Reconheço que minhas palavras foram mal colocadas e que os termos utilizados não refletiram meus valores pessoais nem os da minha empresa, o G4 Educação. Estou profundamente arrependido e gostaria de reiterar minhas sinceras desculpas a todos que se sentiram ofendidos.”

Não é a primeira vez que suas falas ganham repercussão. Neste ano, em um podcast, ele já afirmou que não contrata “esquerdista” e que seus funcionários trabalham “80 horas por semana”.

Outro lado

Em nota divulgada pela G4 Educação, Tallis Gomes afirmou que a intenção “nunca foi desmerecer ou questionar a capacidade ou o papel das mulheres, seja no mercado de trabalho ou em qualquer outra esfera da sociedade. Ao longo da minha trajetória, tive o privilégio de trabalhar com mulheres incríveis, cuja competência e liderança foram fundamentais para o sucesso de nossas iniciativas. Em especial, destaco a minha sócia e CFO do G4 Educação, que tem um papel essencial no crescimento e desenvolvimento da nossa empresa”.

A G4, por sua vez, disse que Tallis Gomes errou num texto publicado no Instagram sobre as mulheres executivas. “Ele entendeu o erro e pediu desculpas hoje. O G4 Educação não concorda com aquela primeira fala. Ela não representa a empresa nem sua trajetória.”

Perfil

Tallis Gomes é da cidade de Carangola, cidade do interior de Minas Gerais. Foi criado pela avó, por ausência da mãe e por conta da rotina corrida do pai como policial militar. Mudou para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. Foi então que começou a investir mais em sua carreira de empreendedor.

Um dos seus projetos, o Easy Taxi, lhe rendeu títulos Forbes Under 30 e MIT Global Innovators. A empresa foi vendida em 2019 para a espanhola Cabify. Também fundou a Singu, plataforma de serviços de beleza que foi comprada pela Natura.

Ele fundou a G4 Educação em 2019, junto com outros empreendedores do mercado. O foco da sua companhia é “transformar a realidade brasileira através do empreendedorismo”. Em quatro anos, mais de 30 mil alunos passaram pela formação que oferecem.

Em suas redes sociais, o empresário dá dicas de como ter sucesso na carreira e empreender no Brasil. Ele acumula 800 mil seguidores no Instagram.