O Conselho de Administração da Petrobras se reuniu nesta quinta-feira (26) e aprovou por unanimidade o nome do senador Jean Paul Prates (PT-RN) como o novo CEO da empresa. Ele assume o lugar de Caio Paes de Andrade. 

Prates é senador pelo Rio Grande do Norte desde 2018, quando a titular, Fátima Bezerra, se tornou governadora do estado. Com vivência dentro dos setores de petróleo, gás natural, biocombustíveis e energia renovável, Prates terá um grande desafio frente à estatal, que agora tem um tamanho menor e uma política de preços diferente da última gestão petista. 

+PT e Centrão brigam por órgãos federais com orçamento robusto

Política de preços em xeque

Desde 2016, a Petrobras adota o preço de paridade de importação (PPI). Isso significa que a volatilidade de preços no mercado internacional afeta o preço para o consumidor local. Setores da esquerda sempre criticaram essa política, já os liberais consideram a medida essencial para a recuperação financeira da empresa.  

O mercado ainda olha com desconfianças sobre como o novo CEO vai conseguir colocar as suas ideias na empresa a partir de agora, mas há expectativas de que o PPI seja alterado. 

“O novo CEO já sinalizou que haverá mudanças no modelo de gestão, mas não dá para cravar se ele fará tudo e quando o fará. A princípio, ele pode estudar alguma modelagem para o preço dos combustíveis, talvez uma remodelação do PPI. Outro ponto pode ser mudanças nos desinvestimentos que a Petrobras estava seguindo”, explicou Pedro Galdi, Analista de Investimento da Mirae Asset Corretora.

Para o analista da Levante Investimentos Flavio Conde, a postura do novo governo frente ao PPI só será conhecida daqui a um mês e meio, se o barril do petróleo estiver muito acima dos US$86 atuais e a defasagem do preço da gasolina e do diesel estiver perto dos 10%. 

“Se o governo não reajustar o preço daqui a quarenta e cinco dias, supondo que seja necessário, aí a gente vai descobrir que a política mudou”, afirmou.

Tamanho menor

Apesar do processo de privatização da empresa não ter andado no governo Jair Bolsonaro, a empresa está menor. Desde 2016, há um grande programa de desinvestimento para que a empresa diminua o seu endividamento.

De acordo com dados divulgados pela Petrobras, o endividamento da empresa no fim do governo Dilma Rousseff, em 2016, era de US$123,9 bilhões e a expectativa de investimento era de US$19 bilhões no ano. No último balanço divulgado, a empresa apontou um endividamento de US$54,3 bilhões e expectativa de investimento de US$15,6 bilhões.     

O novo governo já sinalizou que vai interromper as vendas de ativos. O coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, celebrou a nomeação de Prates dizendo que ela representa “o início de uma nova era em direção ao crescimento e à retomada do papel da empresa como indutora do desenvolvimento econômico e social do país”.

Transição energética

A economia de baixo carbono é uma preocupação cada vez maior das empresas petrolíferas no mundo. Por conta da pressão internacional, a gestão de Prates deve ser cobrada por um investimento maior da empresa em fontes renováveis. 

Uma das novidades nesse sentido é a criação da diretoria executiva de transição energética e descarbonização, que deverá ser ocupada por Maurício Tolmasquim, ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). 

Ainda como senador, Prates foi autor do projeto de lei 576/2021, que regulamenta o funcionamento das eólicas no mar, conhecidas como offshore. 

“No plano de investimentos da Petrobras, que será apresentado, é esperado um aumento significativo em fontes de energia renováveis, uma coisa que é uma coisa que a administração passada não estava investindo, focando mais em exploração e produção”, explicou Conde. 

Preço das ações pode cair

No final do ano passado, após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial, as ações da Petrobras sofreram uma variação entre 7,32%, nas ações ordinárias, e 8,75%, referente às ações presenciais. A empresa perdeu R$ 34,2 bilhões em valor de mercado no dia 31 de outubro, um dia depois da vitória do petista. 

Conde explica que esse movimento já pode ter precificado uma queda mais brusca no longo prazo, mas acredita que se a política de preços tiver uma alteração muito grande, as ações podem cair ainda mais. “O desafio mais importante é a política de preços porque ela envolve receita e lucro. Essa parte pode não estar totalmente precificada” concluiu.