05/07/2017 - 15:51
Serginho, para os amigos, foi escolhido na noite da terça-feira, 4, para ser o relator da denúncia que corre na Câmara contra o presidente Michel Temer. Com atuação tímida na Casa, o deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) deverá sofrer pressões, inclusive de aliados, para fazer um trabalho para salvar o presidente.
No Congresso, a escolha de Zveiter trouxe apreensão a aliados do presidente Michel Temer. O entendimento é de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria articulado sua posição de relator, a fim de desidratar Temer. O jogo ainda não foi jogado, mas o entendimento dos aliados do presidente é que a partida será em território hostil.
A carreira política de Zveiter, no entanto, não tem relação com Rodrigo Maia e nem com seu pai, o ex-prefeito do Rio, César Maia. Zveiter esteve mais ligado ao PT e ao PMDB carioca, com Francisco Dornelles e Sérgio Cabral. Em 2004, ele esteve envolvido em uma tentativa de formação de chapa com Moreira Franco para a prefeitura do Rio de Janeiro.
Apesar de ter apoiado o impeachment, ninguém vê na figura de Zveiter alguém que se sacrificará para garantir a absolvição de Temer. Ao contrário, a expectativa é de um parecer mais técnico e que se aproxime das denúncias feitas pelo Procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Zveiter deve entregar seu parecer na próxima segunda-feira, 10, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), informou nesta quarta 5, o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).
Articulação
A escolha do deputado tem respaldo em sua atuação jurídica e no conselho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Pessoas próximas a ele esperam um trabalho firme, respaldado por seu histórico. “É um advogado muito inteligente, não chega a ser brilhante, mas é muito esperto. Espero que faça um trabalho correto em relação à denúncia contra Michel Temer”, diz o advogado Sérgio Bermudes, que o conhece desde criança.
Temer já colocou as peças no tabuleiro e tenta pressionar o relator. Políticos com proximidade a Zveiter, mas que são alinhados ao Planalto, estão sendo escalados para apertar o peemedebista. Jorge Picciani, ministro dos Esportes, foi um deles. O secretário-geral Moreira Franco também está no jogo para fazer a cabeça do deputado.
Em rápida entrevista coletiva concedida logo após sua nomeação como relator, o deputado disse que não tinha medo do jogo duro que está prestes a enfrentar. “Comigo não tem pressão. A única pressão que me causa às vezes perplexidade é quando eu vou ao médico tirar a pressão, para ver se estou com pressão alta ou baixa. Minha pressão é normal, graças a Deus.”
O problema é que Zveiter agora está entre a cruz e a espada. De um lado, há Rodrigo Maia, que o ajuda a conquistar capital político em um momento de transição no Congresso, cujo processo pode gerar novas lideranças. De outro, muitos aliados que sofreram inquéritos na Lava Jato, como o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, e até mesmo Moreira Franco, e que estão, neste momento, todos representados pela figura do presidente.
Histórico político
Zveiter nunca foi visto como um político do primeiro escalão. Desde que Temer assumiu a presidência, sempre que uma relatoria pudesse cair em suas mãos, surgia uma grita de deputados tentando convencer os responsáveis pelos projetos de que ele não era o mais indicado, pois nunca foi próximo do chefe do Executivo. Zveiter está muito mais ligado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a outros políticos do alto escalão do Rio de Janeiro.
Um exemplo desse “desprestígio” de Zveiter foi a Reforma da Previdência. Maia cogitou colocá-lo como relator. Aliados o demoveram da ideia. Conseguiram emplacar Arthur Maia (PPS-BA). Até o momento, não há a certeza de que isso foi bom para o Planalto, pois Arthur tem conseguido preservar no texto alguns benefícios a determinadas classes, como a política, que não estavam na conta do Ministério da Fazenda. O entendimento de deputados do centrão é que Zveiter, provavelmente, faria um trabalho ainda mais danoso.
Zveiter é filho e irmão de desembargadores, tem suas raízes ligadas ao mundo jurídico. Seu pai é Waldemar Zveiter, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ex-desembargador do Rio e ex-advogado do Grupo Globo. Seu irmão, Luiz Zveiter é desembargador do Estado e foi acusado de superfaturar obras no Tribunal de Justiça do Rio.
Quando advogado, Sérgio Zveiter conseguiu espaço dentro da OAB e passou a integrar o conselho da Ordem. Habilmente, construiu capital político e passou a ser apadrinhado de caciques fluminenses. O fiador de sua campanha de 2014, por exemplo, foi o vice-governador do Estado, Francisco Dornelles. Sérgio Cabral, que está preso em Bangu, também ajudou na captação de recursos para a campanha.
Entre seus doadores, estão as empreiteiras UTC, com R$ 400 mil, a Carioca Engenharia, com R$ 375 mil, e a Andrade Gutierrez, com R$ 294 mil, todas investigadas pela Lava Jato. Em Brasília, andava lado a lado à turma do PT, como todos do alto escalão do Rio, até a deflagração do impeachment. Logo mudou de lado.
De seu próprio bolso, colocou quase R$ 4 milhões na campanha. Recebeu ajuda de alguns políticos, como dos deputados estaduais André Ceciliano (PT-RJ) e Jorge Felippe Neto (PSD-RJ). Este último, seu apadrinhado, doou para sua campanha, como pessoa física, R$ 140 mil, um valor alto para suas condições financeiras. Na declaração de bens, Felippe Neto declara ter posses no valor de somente R$ 208 mil.