O empresário  americano Travis Kalanick, de 38 anos, foi escolhido como o inimigo público número 1 de taxistas de governos ao redor do mundo. Fundador do Uber, a companhia que transforma qualquer carro em um táxi e é uma das startups mais valiosas do mundo, Kalanick está envolvidas em diversas polêmicas.

Mas quem é Kalanick, que muitos consideram o CEO mais odiado do mundo? O empreendedor tem fama de desafiar o status quo desde muito cedo. No final dos anos 1990, Kalanick abandonou a faculdade para ir de encontro a indústria cinematográfica. Ele ajudou a criar o Scour, uma espécie jurássico dos torrents. Concorrendo com o Napster à época, o programa era um pouco mais avançado por permitir encontrar e baixar fotos e vídeos. As associações das indústrias cinematográficas e fonográficas não quiserem nem saber e soltaram a coleira dos seus departamentos jurídicos. Sob a ameaça de levar mordidas fortes na Justiça, o Scour fechou.

Esse primeiro fracasso não intimidou Kalanick. Com o fim da bolha e o aumento exponencial de serviços de trocas de arquivos – Emule, Kazaa, iMesh, Soulseek, entre outros são dessa época -, Kalanick fez uma segunda tentativa. Fundou a Red Swoosh em 2001, que tinha tecnologia proprietária de troca de arquivos. Com a indústria fonográfica já sem fôlego para sair bombardeando cada serviço P2P (peer-to-peer, de usuário para usuário) que surgia no front, o Red Swoosh não conseguiu lá muito destaque no segmento, vindo a ser vendido por cerca de US$ 15 milhões em 2007. A compradora foi a empresa de infraestrutura e armazenamento de dados americana Akamai.

Dois anos depois, Kalanick fundaria uma empresa que viria a atingir US$ 40 bilhões em avaliação, mais de 2.666 vezes mais que seu negócio anterior. As polêmicas cresceram na mesma proporção. O Uber, que se insere dentro da lógica de “economia compartilhada”. Empresas desse transformam pessoas comuns com bens ociosos em fornecedores. O Airbnb, por exemplo, oferece intermedeia hospedagem na casa das pessoas que tem algum espaço subutilizado.
 
O aplicativo do Uber cumpre basicamente três funções:
1.    Encontrar passageiros para os motoristas e vice-versa;
2.    Fazer as vezes de taxímetro;
3.    Intermediar os pagamentos – os clientes devem cadastrar seu cartão de crédito antes de começar a usar o serviço.
 
Esses recursos fazem com que muitos analistas vejam uma ameaça a indústria automotiva – os consumidores poderiam deixar de desejar um veículo próprio se pudessem ter acesso a meios de transporte mais baratos. Ou seja, coloque as montadoras na lista de desafetos de Kalanick, que não parece ver os limites das possibilidades de seu software. “Sentimos que ainda não compreendemos todo o potencial do Uber, não sabemos onde vai parar”, disse Kalanick à revista Wired.
 
Essa perspectiva atraiu investimentos vultuosos. O último deles, de US$ 1,2 bilhão parcialmente financiado pelo Baidu, o Google da China, fez a empresa ser avaliada em US$ 40 bilhões, mais do que muitos fabricantes de carros. A Forbes estima que Kalanick tenha um patrimônio de US$ 3 bilhões. O dinheiro é usado para expandir a área de atuação da empresa. Hoje ela está em 52 países e parece não dar bola para o fato de ser considerada ilegal em muitos deles, inclusive no Brasil.
 
Por aqui a empresa opera em quatro cidades: Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. A secretaria de transporte dessa última afirma entender que o Uber atua como táxi ilegalmente e, por isso, estaria infringindo ao menos quatro leis. Ao menos quatro veículos já foram apreendidos. Cada teve de pagar ao menos R$ 2.300 somando-se multa, taxa de estadia mínima e remoção do pátio de carros apreendidos. Se houver reincidência, o valor pode dobrar.
 
Um motorista que faz corridas com o Uber disse à DINHEIRO que esses custos, relacionados à ilegalidade do serviço, são pagos pela empresa. A rede de televisão americana NBC fez denúncia similar. A assessoria de imprensa do Uber, no entanto, nega tal prática. Fato é que o bolso de Kalanick é fundo o suficiente para lidar com essas autuações, um percalço em seus ousados planos.