15/04/2015 - 16:53
Mais um homem-bomba ameaça o Partido dos Trabalhadores (PT). O tesoureiro nacional da legenda, João Vaccari Neto, foi preso nesta quarta-feira 15 pela Polícia Federal, em uma nova fase da Operação Lava Jato. Homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, Vaccari Neto é acusado, por delatores da Lava Jato, de ser o operador do PT no esquema de corrupção descoberto na Petrobras.
Vaccari Neto é paranaense, mas se mudou, ainda na infância, para São Paulo. Com cerca de 20 anos, já atuava no movimento sindical, tornando-se um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em agosto de 1983. Nos anos 90, presidiu o Sindicato dos Bancários. Antes de ser envolvido na Operação Lava Jato, a passagem mais polêmica em sua vida foi a presidência da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), entre 2004 e 2010. Na época, foi acusado formalmente de desviar recursos para diretores da instituição e para o PT. A cooperativa encerrou suas atividades, deixando 3 mil apartamentos sem conclusão – o que rendeu inúmeros processos de mutuários lesados.
Conhecido por sua discrição, mesmo entre os companheiros de legenda, Vaccari Neto foi nomeado tesoureiro do PT em 2010. Desde então, construiu fama de ser um bom arrecadador de recursos. Somente para as eleições de 2014, o partido levantou R$ 66,4 milhões, segundo dados do Superior Tribunal Eleitoral.
O segredo do cofre
Sua vida como responsável pelo cofre petista, porém, não tem sido fácil. Pelo menos dois presos na Lava Jato declararam, em suas delações premiadas, que Vaccari Neto estaria envolvido nos desvios de recursos da Petrobras: o doleiro Alberto Yousseff e o ex-gerente de Serviços da estatal, Pedro Barusco. Este último chegou a estimar em R$ 200 milhões, o total recebido, pelo tesoureiro, do esquema.
Em sua defesa, Vaccari Neto sempre alegou que se tornou tesoureiro do PT em 2010, não sendo responsável pelas finanças do partido, no período em que o esquema estaria em ação. Afirma, ainda, que todas as doações recebidas foram legais e declaradas às autoridades.
Os procuradores e policiais que trabalham na Lava Jato, porém, suspeitam que Vaccari Neto tenha criado um esquema para “legalizar” as propinas de empreiteiras que monopolizavam os contratos de obras e serviços da petroleira.
A constância com que foi citado pelos delatores levou o juiz Sérgio Moro, que coordena as investigações, a determinar a condução coercitiva de Vaccari Neto, no início de fevereiro, para depor na Polícia Federal. Ou seja: foi obrigado, por decisão legal, a comparecer. Pouco depois, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, incluiu seu nome na já famosa lista de políticos que o Supremo Tribunal Federal autorizou serem investigados. Na ocasião, Janot afirmou que Vaccari Neto era um dos operadores do esquema.
A pressão sobre o tesoureiro aumentou no início de abril, quando foi convocado a depor na CPI da Petrobras, instalada na Câmara dos Deputados. Em uma tumultuada sessão de mais de oito horas, Vaccari Neto foi confrontado por parlamentares da oposição e defendido por petistas. Em diversas ocasiões, respondeu que “os termos das delações premiadas”, no que se referia a ele, “não são verdadeiros”.
Dúvida cruel
O tesoureiro do PT cometeu, pelo menos, um escorregão grave, durante a sessão: admitiu que esteve no escritório do doleiro Alberto Yousseff. Pressionado por deputados a explicar o porquê, demonstrou impaciência e foi evasivo. Afirmou que fora convidado por Yousseff para um encontro sem data. No dia em que foi, o doleiro não estaria no local e ele voltou. “A mesma dúvida que o senhor tem, eu também tenho”, afirmou Vaccari Neto a um parlamentar, na CPI, ao ser questionado sobre o que o doleiro queria com ele.
Com o cerco se apertando, parte do PT já defende, publicamente, que Vaccari Neto deixe a tesouraria. Um exemplo é a corrente interna liderada pelo ex-governador gaúcho e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, que prega abertamente a saída do ex-bancário. Sua manutenção no posto, porém, é sustentada pela corrente majoritária, Construindo Um Novo Brasil, encabeçada, entre outros, por Lula, José Dirceu e José Genoino. Para a CNB, a renúncia ou remoção de Vaccari Neto significaria uma confissão de culpa e fortaleceria a oposição.
Enquanto isso, seus familiares também se envolvem cada vez mais com a Justiça. Sua esposa, Giselda Rosie de Lima, foi interrogada nesta quarta-feira 5 sobre um depósito suspeito em sua conta. Em 2008, Giselda teria recebido R$ 400 mil de uma empresa do ex-deputado federal José Janene, (PP-PR), um dos nomes centrais da Lava Jato. Sua cunhada, Marice Correa de Lima, também teve a prisão decretada hoje, mas ainda não foi localizada. Ela é acusada de receber dinheiro de Yousseff.
Sempre lembrado pelos petistas por sua fidelidade, Vaccari Neto sofrerá, agora, uma pressão imensa para contar tudo o que sabe (se é que as acusações são verdadeiras), em troca de perdão ou abrandamento de possíveis penas. Depois de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Pedro Barusco e Yousseff, que envolveram o PT em suas delações premiadas, a prisão de Vaccari Neto teria potencial para pulverizar o partido, se as denúncias forem comprovadas e ele decidir falar. A pergunta, agora, é: a quem ele é fiel?