06/06/2014 - 20:00
Poucos animais correram mais o risco de extinção do que o mico-leão-dourado, espécie típica da Mata Atlântica brasileira. Mas ele não está sozinho nessa batalha pela sobrevivência. Há outro “bicho” que briga para não desaparecer. Ele faz parte do primeiro estágio da evolução do homo tecnologicus. Trata-se do arcaico telefone fixo, inventado pelo escocês Alexander Graham Bell na segunda metade do século 19. Nos Estados Unidos, o aparelho caminha celeremente para ser substituído por outras tecnologias.
Lá, as operadoras AT&T e Verizon querem que os clientes utilizem banda larga, telefone celular e convencional através de caixa semelhante a um roteador, que envia sinais para uma torre de celular, substituindo suas antigas redes de cobre por outras baseadas em fibra óptica e baseada no protocolo da internet. Só a AT&T, por exemplo, está investindo US$ 6 bilhões para substituir parte de sua rede de cobre por fibra óptica, que até 2020 será toda digital. “As linhas residenciais estão desaparecendo muito rapidamente nos Estados Unidos”, afirma Craig Moffett, analista e cofundador da consultoria de telecomunicações americana Moffett Nathanson Research, para quem o mercado empresarial ainda é filão a ser explorado pelas operadoras de telecomunicações.
“Em uma pesquisa que fizemos, descobrimos que quase a totalidade dos americanos com menos de 30 anos acha a linha fixa residencial uma coisa arcaica”, diz Moffett. “Eles não veem nenhum motivo para ter um número fixo.” No Brasil, 32,2 milhões de residências (51,3%) já dispensam o telefone fixo e usam apenas o celular, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2012, divulgada no ano passado. As linhas convencionais, por sua vez, apresentam crescimento vegetativo. Elas passaram de 42 milhões, em 2010, para 44,8 milhões, em 2013.
No mesmo período, o número de linhas móveis saltou de 202,9 milhões para 271 milhões. “O uso do telefone fixo, em minutos, caiu muito”, disse Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco, sem especificar números. “Só as empresas com táticas competitivas estão crescendo no mercado.” O que garante a sobrevida da telefonia fixa no Brasil? Em poucas palavras: a disputa pelos pacotes convergentes, que incluem tevê por assinatura, banda larga e telefonia fixa. Quem consegue oferecer uma boa combinação de tecnologias com preços atraentes está ganhando mercado. É o caso da Embratel e da GVT.
A primeira ultrapassou a Telefônica/Vivo e tornou-se a segunda maior em telefonia fixa no Brasil. A participação de mercado da empresa da mexicana América Móvil avançou mais de sete pontos percentuais desde 2010. A operadora do grupo espanhol, por sua vez, perdeu mais de dois pontos percentuais. Nada se compara à erosão dos clientes da Oi. Ela, que ainda mantém a liderança, viu seus usuários fixos minguarem. Há quatros anos, ela detinha 47,6%. No ano passado, uma fatia de 38,1%.
A companhia que mais avançou na área fixa foi a GVT, do grupo francês Vivendi, que praticamente dobrou sua participação em quatro anos, para os 10% atuais. “Trabalhávamos em um mercado estagnado e tínhamos que descobrir maneiras de ganhar espaço nesse quadro”, afirma Daniel Neiva, vice-presidente de marketing e vendas da GVT. “O fixo ainda tem o seu lugar.” A estratégia da GVT empregou o celular como aliado – a curiosidade é que a companhia não tem uma operação móvel. Através de um aplicativo, os donos de telefones fixos podiam usar seus minutos do pacote do telefone fixo para falar no smartphone.