Três atacantes suicidas ativaram seus explosivos em 22 de março de 2016 em Bruxelas. Desde então, a investigação, vinculada ao trabalho sobre os atentados de Paris, conseguiu a prisão de nove pessoas e ainda se pergunta: quem deu a ordem de ataque?

Estes são os elementos conhecidos da investigação dos atentados reivindicados pela organização jihadista Estado Islâmico (EI) e os mistérios que ainda rondam os casos.

– Quem são os três atacantes? –

Najim Laachraoui e Ibrahim El Bakraoui se explodiram no aeropoto de Bruxelas-Zaventem, enquanto o irmão mais novo de Bakraoui, Khalid, atacou o metrô da capital belga. O três atacantes suicidas teriam crescido na Bélgica.

Laachraoui morreu aos 24 anos. Lutou na Síria e é considerado um dos responsáveis pelos ataques de Paris de 13 de novembro de 2015, após a descoberta de restos de DNA no material explosivo utilizado nesse dia. Salah Abdeslam, único sobrevivente dos comandos parisienses, trouxe Laachraoui de Budapeste para Bélgica em setembro no mesmo ano.

Ibrahim El Bakraoui (29 anos), condenado no passado por assalto a mão armada na Bélgica, foi detido em 2015 pelas autoridades turcas quando tentava entrar na Síria. Na investigação sobre os ataques se destaca pelo “testamento” que deixou em forma de arquivos de áudio em um computador.

Khalid El Bakraoui (27 anos) é considerado suspeito, assim como Laachraoui, de alugar com identidade falsa um dos esconderijos belgas utilizados pela equipe de 13 de novembro. Na investigação sobre os atentados de Paris, foi descoberta uma ordem de prisão desde 11 de dezembro de 2015.

– Por que Abrini e Krayem são importantes? –

Ambos teriam desistido na última hora em 22 de março. A polícia deteve os dois em separado em 8 de abril de 2016 no subúrbio de Bruxelas.

Mohamed Abrini, de 32 anos e conhecido como “o homem do chapéu”, aparece em uma das imagens carregando uma maleta de explosivos, junto aos dois atacantes suicidas do aeroporto. Abandonou a maleta e fugiu.

Esse amigo de infância de Salah Abdeslam aparece na investigação de 13 de novembro depois dos dois aparecerem nas imagens da câmara de segurança de um posto de gasolina quando iam para Paris, na véspera dos atentados.

Osama Krayem, de 24 anos, nasceu na Suécia de pais suíços e se escondeu em meio ao fluxo de refugiados para chegar à Europa vindo da Síria, onde estava em janeiro de 2015.

Laachraoui estava entre a dezena de homens que Abdeslam ajudou no percurso. Em seu caso, vindo da cidade alemã de Ulm no início de outubro, junto a outros dois supostos cúmplices dos atentados na capital francesa. Krayem teria passado por vários esconderijos belgas utilizados pelos comandos de Paris.

Na investigação de 22 de março, Krayem aparece nas imagens das câmaras de segurança discutindo com Khalid El Bakraoui no metrô pouco antes da explosão na estação de Maalbeek e comprando em um centro comercial as mochilas utilizadas no ataque do aeroporto.

– Quais as acusações dos outros envolvidos? –

A maioria é acusada de ajudar Abrini e Krayem, acolhendo-os em algumas ocasiões. Três foram colocados em liberdade ao longo da investigação.

Smaïl Farisi, de 32 anos, e Bilal El Makhoukhi, de 28 anos, continuam na prisão dois dos principais supostos cumplices.

O primeiro alugou um apartamento que serviu de centro logístico para o ataque do metrô e onde, em um dos banheiros, se desfez de seus explosivos. Farisi teria “limpado” depois os rastros de sua passagem.

El Makhoukhi é conhecido pela justiça belga pelo vínculo com organizações terroristas. “Abou Imran”, seu nome de guerra quando lutou na Síria em 2012, aparece em uma conversa de Ibrahim El Bakraoui, segundo um dos arquivos do laptop abandonado em uma lixeira antes dos ataques.

– Quem deu a ordem de atacar? –

Esta é um dos principais mistérios do caso. Segundo o promotor geral belga Frédéric Van Leeuw, as ordens vieram de “muito alto” na hierarquia do grupo Estado Islâmico, mas alguns dos que se encarregaram do ataque poderiam estar mortos desde os ataques contra os QGs do EI na Síria e no Iraque.

As suspeitas se fecham sobre Oussama Atar, procurado desde o último verão. Os investigadores estão convencidos de que esse belga-marroquino de 32 anos, veterano da jihad detido em prisões americanas no Iraque nos anos 2000, se esconde atrás do apelido de Abou Ahmed.

Um argelino, detido no final de 2015 na Áustria vindo da Síria e suspeito de ter participado dos atentados de 13 de novembro, identificou Abou Ahmed em uma foto que onde aparecia Oussama Atar, como a pessoa de quem recebia ordens em Raqa.

Outro mistério da investigação é a verdadeira identidade do denominado “Mahmoud”, a quem Laachraoui consulta sobre a fabricação de explosivos, segundo outro arquivo. Poderia ser a mesma pessoa que um suspeito de paradeiro desconhecido dos atentados de Paris, chamado de “Ahmad Alkhald”.

– Existiam outros planos? –

A investigação revelou, especialmente a partir de declarações de Abrini um dia depois de sua detenção, que o objetivo era fazer outro atentado na França, e não na Bélgica.

“Surpreendidos” pelo avanço da investigação, “decidiram finalmente, na pressa, atacar em Bruxelas”, dizia a promotoria federal em 10 de abril.

Nos arquivos do computador encontrado, Ibrahim El Bakraoui explica que atuou precipitadamente em 22 de março, já que temia sua prisão iminente, quatro dias depois da detenção de Abdeslam, em 18 de março, em Molenbeek.

Nas conversas entre atacantes, também foram abordados projetos de sequestro de personalidades públicas para conseguir a libertação de “irmãos” presos, como Mehdi Nemmouche, autor do massacre do museu judeu de Bruxelas em 2014, que deixou 4 mortos.