Vacilante e rouco, presidente dos EUA faz duelo tenso com adversário republicano no primeiro de dois embates na TV antes da eleição de novembro. Desempenho de Biden gera pânico entre democratas.O presidente dos EUA, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump se enfrentaram na noite desta quinta-feira (27/06) no primeiro de dois debates antes da eleição presidencial de novembro, em um duelo marcado por troca de ataques pessoais, no qual o atual presidente teve um desempenho pouco convincente, enquanto Trump se destacou por um discurso carregado de mentiras.

Ambos tinham como objetivo usar o embate de 90 minutos para conquistar eleitores indecisos, mas o desempenho de Biden, classificado como “doloroso” e “desanimador”, depois que ele se esforçou várias vezes para dar respostas coerentes, provocou ondas de choque em seu Partido Democrata, segundo analistas.

Um rouco Biden gaguejou várias vezes, teve que se corrigir repetidamente e, em alguns momentos, pareceu mais tímido e menos concentrado que seu rival.

A equipe de Biden expressou horror com o desempenho do candidato de 81 anos, que, acima de tudo, tinha que provar estar mental e fisicamente apto o suficiente para outro mandato.

Já Trump usou a aparição diante de uma audiência de milhões de pessoas no horário nobre de TV dos EUA para acusar seu adversário de arruinar os EUA. Ele disparou uma série de afirmações falsas e acusou Biden de ser um líder fraco que tem culpa pelas guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Ambos os candidatos se acusaram mutuamente,com termos como mentiroso, criminoso e de ser “o pior presidente de todos os tempos”.

Houve também alguns momentos curiosos. Em um deles, Trump se gabou de que conseguia acertar uma bola de golfe mais longe do que o democrata. Biden então o desafiou para uma partida, mas sob a condição de que Trump carregasse sua própria bolsa. “Não vamos nos comportar como crianças”, rebateu o republicano.

Pânico entre democratas

Durante o duelo, o gabinete presidencial explicou que Biden estava resfriado. Mas logo após o fim do debate, cada vez mais vozes diziam que os democratas não podiam mais suprimir a discussão sobre se Biden é mesmo o candidato certo.

Abrindo uma mesa-redonda pós-debate, o apresentador da CNN John King disse haver agora “um pânico profundo, amplo e muito agressivo no Partido Democrata” após o desempenho “desanimador” de Biden.

Como resultado, alguns membros do partido estariam “conversando sobre possivelmente pedir a Biden para se afastar”, disse King.

A âncora da CNN Abby Phillip acrescentou: “O problema para Biden foi que Trump foi capaz de pegar algumas falsidades, às vezes incríveis, e transformá-las em algum tipo de argumento, enquanto as respostas de Biden, em muitos casos, não eram coerentes”.

O comentarista político da CNN Van Jones, que foi conselheiro especial do ex-presidente Barack Obama, chamou o desempenho de Biden de “doloroso”.

“Ele está fazendo o melhor que pode. Mas ele tinha um teste a cumprir esta noite para restaurar a confiança do país e de sua base. E ele não conseguiu fazer isso”, disse Jones.

Biden e Trump discutiram uma série de tópicos, incluindo direito ao aborto, migração, clima e a guerra na Ucrânia. O democrata prometeu restaurar a histórica decisão Roe vs Wade da Suprema Corte dos EUA de 1973, que impediu a proibição do direito da mulher de fazer um aborto.

Em junho de 2022, a Suprema Corte dos EUA anulou a Roe vs Wade. Desde então, os estados dos EUA puderam decidir de forma independente sobre as regras relativas ao aborto. O presidente enfatizou a necessidade de abortos em alguns casos. “Há muitas mulheres jovens que são estupradas por seus sogros, por seus cônjuges, irmãos e irmãs”, disse ele, parecendo ter se expressado mal.

Trump afirmou haver um imenso desejo público de deixar os estados decidirem individualmente sobre o direito ao aborto. “Acredito nas exceções para estupro, incesto e a vida da mãe”, disse Trump, alegando falsamente que os democratas de Biden são a favor de abortos “após o nascimento”.

Ao responder a uma pergunta sobre os termos do presidente russo, Vladimir Putin, para acabar com a guerra na Ucrânia, Trump disse que eles eram “inaceitáveis”.

Trump afirmou novamente ser capaz de “resolver” a guerra se reeleito, mesmo antes de 20 de janeiro, quando ele seria empossado se ganhasse a presidência. Ele não disse, entretanto, como conseguiria isso.

O ex-presidente também afirmou que Putin “nunca teria invadido a Ucrânia” se os Estados Unidos “tivessem um presidente de verdade”, acrescentando sobre seu oponente: “Ele não está preparado para ser presidente. Ele é, sem dúvida, o pior presidente, a pior presidência da história de nosso país”.

Biden disse que Trump tem “a moral de um gato de rua”, ao mesmo tempo em que o chamou de “otário” e “perdedor”.

Revanche de 2020

A disputa foi uma revanche de 2020, quando o mundo estava nas profundezas da pandemia de covid-19. Quatro anos depois, os EUA estão agitados por debates amargos sobre a política de imigração, o direito ao aborto, a dor da inflação e a miríade de casos criminais contra Trump, incluindo sobre sua tentativa de anular a vitória de Biden na última eleição presidencial.

Muitos na Europa estão alarmados com a perspectiva de Trump voltar à Casa Branca, principalmente devido a dúvidas se os EUA continuariam a apoiar a luta da Ucrânia contra a invasão da Rússia e sua promessa de reescrever fundamentalmente o relacionamento de 75 anos de Washington com a Otan.

Essa foi a terceira vez que Biden e Trump se enfrentaram em um debate.

Pairavam sobre o confronto preocupações a respeito de idade, temperamento e aptidão mental de ambos. Biden, o atual presidente democrata, tem 81 anos. Trump, seu antecessor republicano, tem 78, o que faz deles os dois candidatos mais velhos a disputarem a presidência dos EUA.

As pesquisas mostram que a maioria dos americanos já decidiu há muito tempo em quem votará, o que praticamente torna improvável que o debate mude drasticamente essa acirrada disputa.

No entanto, as recentes eleições nos EUA foram ganhas e perdidas graças a um número relativamente pequeno de eleitores em um pequeno número de estados que podem pender tanto para um lado como para outro. Biden e Trump precisam ganhar o apoio dos politicamente independentes e daqueles atentos à cobertura jornalística gerada pelo debate de quinta-feira.

Um segundo debate presidencial está programado para 10 de setembro, depois que Biden e Trump aceitarem formalmente as indicações de seus partidos nas convenções partidárias em julho e agosto.

Ainda não está claro se e quando haverá um debate na TV entre os candidatos a vice-presidente. Biden está mais uma vez entrando na disputa com Kamala Harris ao seu lado; Trump ainda não nomeou um companheiro de chapa.

md/le (Reuters, DPA)