Especial Onde investir em 2024

Embarcar no dólar exigirá duas características e uma recomendação — ter boas informações, ter paciência e ter uma cesta com outros investimentos. Tudo porque a volatilidade desse tipo de aplicação costuma ser elevada no curto prazo (até um ano). Assim, antes de pensar na moeda americana, vale se fazer duas perguntas: ‘o que eu busco’ e ‘em quanto tempo’. Ambas as respostas serão decisivas.

De toda forma, uma coisa é certa. Por ser a moeda mais estável e de maior liquidez no mundo, ela é indefectível para quem pensa num colchão de longo prazo contra riscos de todos os tipos. Em resumo, se você tem tempo, o retorno virá.

Há um passo basilar, no entanto, e não importa qual seja seu perfil. Para todos os que embarcam nas aplicações cambiais, o denominador comum é reduzir a assimetria de informações, o que significa entender os movimentos que o dólar deverá ter em 2024. E aqui o bicho pega.

Faz valer um recado insuperável e perspicaz do economista John Kenneth Galbraith (1980-2006): “A única função da previsão econômica é fazer com que a astrologia pareça respeitável”.

Aviso dado, vamos às projeções. Segundo o último Relatório Focus de 2023, publicado na terça-feira (2 de janeiro), haverá leve valorização da moeda americana. Negociada a R$ 4,88 na abertura dos mercados de 2024, na terça-feira (2), a previsão é que feche em dezembro a R$ 5. Dá 2,4% de alta. Mas ao colocar na conta a inflação projetada (3,9%) o ganho nominal vai embora. Outro agravante é que o Focus não se mostrou bom termômetro para o câmbio nas expectativas do ano passado. Pela análise do mercado, a moeda mal oscilaria — encerrou a R$ 5,28 (2022) e a previsão era que fechasse a R$ 5,27 (2023). Terminou em R$ 4,84 (forte desvalorização de -8,3%).

Fundos cambiais, BDR e ETF estão entre os caminhos para aplicar na moeda americana

BANCOS

Os quatro maiores bancos privados brasileiros não fazem coro à atual previsão de R$ 5 do Focus. O Itaú projeta o dólar a R$ 4,90. Para o Bradesco, ficará entre R$ 4,80 e R$ 4,70. O BTG também vê o câmbio a R$ 4,80. O Santander foi o único entre eles que prevê a moeda muito acima da projeção do Focus, fechando a R$ 5,25. Os investidores devem também jogar nessa equação IPCA e Selic.

Pelo Focus, o IPCA será de 3,9%, mesma projeção que faz o Santander. Já Bradesco e Itaú cravam abaixo (3,6%). E o BTG aposta acima (4,1%).

Quanto ao juro, no Focus a Selic será de 9%, mesma expectativa do Itaú. Os outros três vão daí pra cima:
• Bradesco (9,25%),
• Santander (9,50%),
• BTG (9,75%).

Se esses indicadores todos ficarem próximos das projeções, será difícil a um investidor não profissional ganhar com câmbio mais do que ganharia com Títulos do Tesouro.

Traduzindo: só será caminho agressivo para quem atuar no Mercado Futuro — algo como jogar na NBA. Terreno espinhoso e para quem traz duas coisas raras: alto volume de grana + alta velocidade de negociação. Investidores calejados.

Aqueles que pegarão brechas pontuais para realizar lucros com fortes movimentos de compra-venda ou venda-compra. Claro que comprar dólar em espécie não é a única forma de apostar na moeda. Por isso, aos mortais comuns resta investir no ativo por outros caminhos.

O mais acessível são os Fundos Cambiais. Uma opção sensível. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a maioria tomou surra em 2023.

De 66 fundos cambiais elencados pela entidade que tinham patrimônios líquidos no fim de dezembro de 2023, 60 deles perderam dinheiro no ano.

Outros dois não tinham dados atualizados e somente quatro deram algum ganho — mas três deles performaram com rentabilidade superior a 20%: BNY-XP Trend Short Dolar FI Cambial (+27,15%), Votorantim BV Alocação USD Short Cambial FI (+25,57%) e Votorantim BV USD Short Cambial FC (+24,12%). Desconte taxa de administração e inflação e os ganhos continuam muito fortes.

Outras vias de buscar o dólar são:
• BDRs (Brazilian Depositary Receipts) — títulos que representam ações de estrangeiras, mas são negociados no Brasil;

• ETFs (Exchange Traded Funds) — que acompanham algum indicador externo, como o S&P 500, que monitora as ações das principais corporações americanas.

Mesmo com eles, porém, os ganhos sempre serão maiores se a aposta for no médio ou longo prazo. Chame de dólar. O mercado chama de experiência & paciência.