19/11/2025 - 16:23
A lista de obras obrigatórias para a Fuvest 2026 é composta 100% por livros escritos por mulheres. Estão na lista nomes como as brasileiras Conceição Evaristo, Lygia Fagundes Telles (1918-2022), Julia Lopes de Almeida (1862-1934) e Rachel de Queiroz (1910-2003); a luso-angolana Djaimilia Pereira de Almeida; a portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e a moçambicana Paulina Chiziane.
À época da divulgação da lista, em 2023, os organizadores do vestibular defenderam que muitas das escritoras selecionadas para a lista de obras obrigatórias foram invisibilizadas pelo simples fato de serem mulheres e que a escolha seria uma forma de resgatá-las do esquecimento.
A prevalência de mulheres deve durar até 2028. Somente a partir de 2029, a lista volta a ter livros escritos por homens entre as leituras obrigatórias. Os brasileiros Machado de Assis e Erico Veríssimo e o moçambicano Luís Bernardo Honwana figurarão na lista de 2029.
Processo seletivo da USP para o vestibular 2026 será realizado no dia 23 de novembro em 32 cidades da região metropolitana de São Paulo, do interior e do litoral paulista.
Confira as obras e autoras da lista de 2026
‘Opúsculo Humanitário’ – Nísia Floresta (1810-1885)
Considerada a primeira educadora e jornalista feminista do Brasil, a potiguar Nísia Floresta denunciou injustiças cometidas contra negros escravizados e contra os indígenas brasileiros. Publicada em 1853, a coletânea Opúsculo Humanitário reúne artigos da autora na forma de ensaios voltados à condição feminina e à educação das mulheres no Brasil do século 19. A obra defende que o progresso de uma sociedade depende da instrução formal e moral das mulheres, criticando o padrão educacional restrito à domesticidade e propondo reformas pedagógicas mais amplas.
Em domínio público, o livro foi publicado por várias editoras (219 páginas; a partir de R$ 35,90; R$ 1,90 o e-book)
‘Nebulosas’ – Narcisa Amália (1852-1924)
A poeta, tradutora e professora fluminense Narcisa Amália participou ativamente do cenário literário do século 19. Sua produção é marcada pela defesa da emancipação feminina e pela denúncia de desigualdades sociais. Em Nebulosas, publicado em 1872, estão poemas de tom lírico e social que exploram temas como a natureza, a condição feminina, a causa republicana e a abolição da escravidão.
Em domínio público, o livro foi publicado por várias editoras (160 págs; a partir de R$ 24,90; R$ 9,50 o e-book)
‘Memórias de Martha’ – Julia Lopes de Almeida (1862-1934)
A também fluminense Júlia Lopes de Almeida publicou contos, romances e peças de teatro, tendo como uma de suas preocupações centrais as protagonistas femininas e as tensões de gênero e de classe. Em 1899 lançou Memórias de Martha, romance que mostra as transformações sociais no Brasil no fim do século 19 ao narrar, em primeira pessoa, a trajetória da personagem-tema Martha, desde sua infância em um cortiço no Rio de Janeiro, passando pelas adversidades da juventude e o ingresso no magistério como via de ascensão social. A trama mostra ainda os dilemas de casamento por conveniência e perdas pessoais.
Em domínio público, o livro foi publicado por várias editoras (80 págs.; a partir de R$ 31,90; R$ 5 o e-book)
‘Caminho de Pedras’ – Rachel de Queiroz (1910-2003)
Primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1977, a cearense Rachel de Queiroz foi escritora, jornalista e tradutora, integrante da geração modernista de 1930. Sua obra retrata o Nordeste, as secas, o coronelismo e a condição feminina. Em Caminhos de Pedras, publicado em 1937, a autora apresenta Noemi, esposa de um ex-comunista, que mantém um casamento estável até o envolvimento com Roberto desencadear conflitos pessoais, sociais e políticos. A história ambienta-se no contexto do Brasil da Era Vargas e analisa autonomia feminina, desejo e a moral vigente.
Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 54,90; R$ 34,90 o e-book; R$ 34,99 o audiolivro)
‘O Cristo Cigano’ – Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Primeira mulher portuguesa a ganhar o Prêmio Camões, em 1999, Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma poeta reconhecida por sua voz lírica e engajamento cultural. Em 1961, sob influência e inspirada pelo brasileiro João Cabral de Mello Neto, publicou O Cristo Cigano, que aborda a figura de Cristo em diálogo com a marginalidade representada pelo cigano. Os 12 poemas reunidos na obra narram a história de um cigano que foi morto para que servisse de modelo para um artista esculpisse a imagem de Cristo crucificado.
Editora: Companhia das Letras (109 págs.; R$ 49,90; R$ 29,90 o e-book)
‘As Meninas’ – Lygia Fagundes Telles (1918-2022)
Reconhecida por seus contos e romances que exploram subjetividade, gênero, urbanidade e a condição feminina moderna, a imortal da Academia Brasileira de Letras Lygia Fagundes Telles é autora de As Meninas, de 1973. A trama do romance se desenrola em um pensionato em São Paulo, onde três jovens universitárias, Lorena, Lia e Ana Clara, constroem amizade em meio às tensões políticas dos anos 1970. A narrativa examina identidade, sexualidade e engajamento político feminino sob um regime autoritário.
Editora: Companhia das Letras (304 págs.; R$ 89,90; R$ 12,90 o e-book)
‘Balada de Amor ao Vento’ – Paulina Chiziane
Ganhadora do Prêmio Camões em 2021, Paulina Chiziane foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Suas obras exploram gênero, etnia e herança literária africana em português. Em 1990, publicou Balada de Amor ao Vento, romance que narra os amores e desilusões de Sarnau. Embora não reconhecida pela lei, a poligamia é uma prática comum em Moçambique, em especial em algumas províncias. E isso serve de pano de fundo para a história de Sarnau.
Editora: Companhia das Letras (155 págs.; R$ 79,90; R$ 39,90 o e-book; R$ 44,99 o audiolivro)
‘Canção para Ninar Menino Grande’ – Conceição Evaristo
Criadora do conceito de “Escrevivência”, que busca dar voz à experiência afro-brasileira por meio da escrita, Conceição Evaristo é uma das autoras mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Ela é autora de Canção para Ninar Menino Grande, publicado em 2018. Na obra, Conceição explora a masculinidade negra, o racismo estrutural e as relações de gênero por meio da figura de Fio Jasmim, um trabalhador ferroviário que vive relações complexas com várias mulheres e reflete-se em narrativas de dor, memória e resistência.
Editora: Pallas (124 págs.; R$ 42; R$ 28 o e-book)
‘A Visão das Plantas’ – Djaimilia Pereira de Almeida
A luso-angolana Djaimilia Pereira de Almeida é professora e ensaísta.Sua obra aborda raça, gênero e identidade no contexto da lusofonia contemporânea. Lançou, em 2019, o romance A Visão das Plantas, que conta a história do capitão Celestino, um homem de passado violento que retorna à casa da infância em Portugal, onde um jardim e as plantas tornam-se metáforas da memória, da culpa, da colonização e da possibilidade de regeneração. Leia entrevista concedida no lançamento.
Editora: Todavia (101 págs; R$ 61,90; R$ 42,90 o e-book)