01/06/2020 - 13:03
A morte de George Floyd os levou às ruas para expressar sua raiva, às vezes com violência. Mas quem são esses manifestantes? O presidente Donald Trump os considera esquerdistas radicais violentos, mas vários especialistas alertam que as coisas não são tão simples.
Dezenas de carros de polícia destruídos, alguns queimados, agentes feridos, uma delegacia em chamas, protestos violentos em frente à Casa Branca… Há três dias, essas são as imagens dos Estados Unidos que circulam pelo mundo inteiro.
As cenas de violência se multiplicam por todo país. Começaram em Minneapolis, epicentro do movimento, onde George Floyd, um homem negro de 46 anos, morreu após ser preso e imobilizado por um policial branco que pressionou os joelhos em seu pescoço, impedindo-o de respirar.
Para Trump, são grupos organizados, principalmente do movimento de extrema esquerda Antifa, o qual ele incluirá na lista de organizações terroristas, conforme anunciou.
“Do ponto de vista factual, não é verdade que a maioria das pessoas envolvidas nesses protestos, ou em atos de destruição de propriedade, se identifiquem como Antifa, ou antifascistas. Não há evidências para sustentar isso”, disse Mark Bray, autor do livro “O antifascismo”.
“Me parece bastante óbvio que é um esforço da direita para deslegitimar o movimento de protesto”, acrescentou.
Embora parte dos confrontos mais sérios, especialmente em Nova York, tenha ocorrido à noite, após grandes manifestações onde as pessoas gritavam “Não consigo respirar!” – as últimas palavras de Floyd -, também houve embates em plena luz do dia em algumas cidades.
“A maioria das pessoas que protestam não quebra nada, mas o percentual daqueles que participam, ou são simpatizantes, com [depredações] parece ser mais alta do que o normal”, estimou Bray.
– Um país “em chamas” –
Várias autoridades eleitas, desde Trump até a prefeita democrata de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, denunciaram a presença de manifestantes vindos de outras cidades com o objetivo de semear o caos.
Segundo diversos jornalistas que consultaram os arquivos policiais, a proporção seria na realidade inversa.
O contexto é importante: tudo isso ocorre em meio ao maior confinamento do século, com grande parte da população em isolamento há mais de dois meses.
“Há muitas coisas que fazem com que os EUA estejam em chamas neste momento”, destacou a escritora Michelle Goldberg em uma coluna no jornal “The New York Times”.
“O desemprego em massa, uma pandemia que expôs desigualdades mortais no acesso à saúde e no plano econômico”, enumerou.
“Adolescentes sem muita ocupação, violência policial, extremistas de direita que sonham com uma segunda guerra civil e um presidente sempre pronto para jogar mais lenha na fogueira”, completou Michelle.
Em seus inúmeros tuítes, Trump mencionou as manifestações apenas para denunciar a violência e acusar governantes locais de “pegarem leve”, nunca para reconhecer a amplitude do movimento, em sua maior parte pacífico.
“Estou cansada, estou farta, já basta”, confessa Chavon Allen, uma mãe negra que protestou no centro de Houston.