09/12/2014 - 0:00
Em movimento contrário ao de outras grandes feiras internacionais, a Art Basel Miami Beach continua a expandir. Enquanto a Frieze (Londres e NY) e a Armory Show (NY) promovem cortes de galerias participantes em favor da qualidade da exposição, a 13ª edição da Miami Basel manteve sua composição robusta, com 267 galerias de 31 países, 24 a mais que na edição anterior, projetando também um crescimento de público e de vendas, que em 2013 chegou a US$ 3 bilhões.
A julgar pelo fato das vendas de oito dígitos serem norma por aqui – o móbile “Rouge Triomphant” (1959), de Alexander Calder, estava à venda por US$ 35 milhões na Helly Nahmad Gallery – o saldo final facilmente superará o recorde do ano passado. Com esses números, a primeira semana de dezembro no balneário da Flórida é certamente a mais quente do ano para o mercado latino-americano. Não só para o mercado de arte, mas também para os setores bancário, imobiliário e de hotelaria. O Faena – empreendimento imobiliário de Buenos Aires, que conta com projeto cultural e espaço expositivo – planeja abrir o Faena District Miami durante a Art Basel Miami Beach em 2015, em edifício com projeto de Rem Koolhaas.
Vinte e quatro galerias brasileiras se transferiram para Miami nesta primeira semana de dezembro, se distribuindo entre a feira máster (17) e as feiras satélites, como Untitled, Pinta e Context Art Miami.
Em Art Basel, a representação brasileira se estendeu do núcleo histórico – na nova seção Survey, dedicada a projetos curatoriais com artistas históricos – até a arte contemporânea emergente e experimental – no setor Positions.
Da Survey participou a Galeria Bergamin, de São Paulo, que estreou em Miami com uma seleção de telas de Alfredo Volpi. Na mesma seção esteve a galeria nova-iorquina Cecília de Torres Ld, que trouxe um conjunto de obras raríssimas do uruguaio Torres García, que teve a maior parte de sua obra destruída em incêndio no MAM RJ, em data tal.
Do setor Nova, orientado para projetos novíssimos, realizados nos últimos três anos e preferencialmente inéditos, integraram a galeria carioca Anita Schwartz, a Galeria Leme, a Mendes Wood DM e a Silvia Cintra + Box 4 – estas duas últimas ganharam destaque no guia do periódico Le Quotidien de L’Art. Dos 20 artistas destacados pelo guia, 4 são brasileiros: Paulo Bruscky (Nara Roesler, SP), Pedro Motta (Silvia Cintra + Box 4, RJ), Ivan Serpa (Galerie 1900-2000, Paris) e Patricia Leite (Mendes Wood DM).
É surpreendente, no entanto, que o corpo de críticos e curadores colaboradores do jornal tenha podido discernir o trabalho da artista Patricia Leite no contexto do stand da galeria Mendes Wood DM. A mineira Patricia Leite, que estudou com Amilcar de Castro e inscreveu sua pesquisa plástica no campo do neoconcretismo e da abstração geométrica, teve sua pintura devorada pela parafernália iconográfica kitsch da performance de Cibelle Cavalli Bastos, que por sua vez foi resgatada da carreira musical – onde desenvolveu um transcendente trabalho no campo da música eletrônica brasileira nos anos 1990-2000 – para o elenco de artistas representados pela galeria.
Independente da performance musical ou artística de Cibelle e da ambiguidade intrigante das paisagens de Patricia, a galeria Mendes Wood DM deu seu próprio show, reunindo em 20 metros quadrados de stand todos os clichês de brasilidade: o Brasil primitivo, o Brasil carnaval, o Brasil putaria, o Brasil pra inglês ver, escrachando ou apenas confirmando o mito de exotismo que reverbera da pintura de Beatriz Milhazes. Esta, em retrospectiva a alguns quilômetros dali, no Perez Art Museum Miami (PAAM), até janeiro de 2015.
O setor Film, também ampliado nesta edição da feira, contou com o brasileiro Wagner Malta Tavares (Marilia Razuk, SP), entre os 80 filmes de artistas consagrados e emergentes de todo o mundo, selecionados pela curadoria de David Gryn, diretor do Artprojx de Londres. Por sorte, a presença dos vídeos não se resumiu ao programa e algumas galerias brasileiras, contrariando a tendência da presença minguante de vídeos nos estandes de feiras de arte, apresentaram trabalhos importantes. A Millan (SP) apresentou os vídeos recentes de Berna Reale, e a Central (SP) trouxe Nino Cais.
Entre as feiras paralelas, sete brasileiras se concentraram no setor dedicado ao Brasil contemporâneo da Pinta Miami, com curadoria de Moacir dos Anjos, entre elas, Blau Project com Bruno Moreschi, e Zipper com Camila Soato. A colombiana Sketch também aderiu e apresentou um trabalho realizado por Rodolpho Parigi em residência em Bogotá.
Mas o destaque ficou mesmo com a Galeria Pilar, única brasileira selecionada entre as 125 galerias da Untitled Art, posicionada estrategicamente sobre as areias da praia, e que nos últimos anos se consagrou como uma “curated fair”. Entre galerias americanas, europeias e latino-americanas, a Pilar se sobressaiu com seu panorama de três gerações de artistas brasileiros: Montez Magno (anos 1970), Antonio Malta (anos 1980) e Alberto Casari (anos 2000).
No penúltimo dia da semana de feiras de Miami, a julgar pela fraca frequência de público especializado da Pinta Miami, dirigida pelo argentino Diego Costa Peuser e focada na América Latina, a opinião generalizada demolia o modelo de feiras regionalistas. O mundo está mesmo globalizado e mais vale aprender algumas palavras em polonês, em russo ou em chinês para chegar a Roma.
* Paula Alzugaray não viajou a convite de instituições, mas para promover a edição 21 da revista seLecT, que participou do núcleo editorial da feira Art Basel Miami Beach