19/09/2007 - 7:00
Já faz algum tempo que a palpitação dos índices inflacionários deixou de ser motivo de preocupação. A escalada sem fim dos preços, as correções diárias, o overnight… Tudo parece tão antigo, tão longe. Mas a forte alta nos preços dos alimentos em agosto, puxada pela entressafra e pela valorização de algumas commodities, fez índices como o IGP-M, IPCA e IPC darem um salto fora do esperado e deixou os analistas em alerta. O IPCA, indicador oficial de inflação, dobrou de tamanho: passou de 0,24% em julho para 0,47% no mês passado. Foi tão inesperado que até o ministro Guido Mantega (Fazenda) tentou acalmar no gogó o velho dragão da inflação. ?Não há desespero?, afirmou. Não há mesmo ? a inflação acumulada em 12 meses está em 4,18%, segundo o IPCA, e a meta do governo é de 4,5%. Porém, o momento é propício para verificar se os fundos indexados aos preços são mesmo uma boa alternativa. Alguns têm oferecido rendimentos superiores aos dos fundos DI.
No passado, a alta galopante e diária dos preços fazia com que alguns papéis superassem taxas de 10.000% anuais. ?Cheguei a fazer um CDB com taxa de 12.000% ao ano. Quando conto para os mais novos hoje, eles não acreditam?, relembra Robson Queiroz, diretor comercial da SLW Corretora de Valores. Em 2002, após um bom período de controle, a inflação deu um salto. Para se proteger, investidores apostaram em fundos indexados aos índices inflacionários. Quando os preços voltaram a cair, esses fundos minguaram. Aplicar em renda fixa era mais seguro e lucrativo. Agora, com o DI perdendo cada vez mais rentabilidade com a queda contínua da taxa de juros, os fundos indexados voltaram a ficar atrativos. Qualquer taxa de retorno acima de 15% ao ano pode seduzir os investidores em renda fixa, desde que não ofereça muitos riscos.
Os rendimentos dos seis melhores fundos indexados à inflação vão de 16,05% a 18,74% no acumulado de 12 meses, segundo a TAG Investimentos (ver tabela à página 98). Os retornos dos fundos DI, tradicional porto-seguro da renda fixa, não passam de 13,03%. Como investem em papéis cujos rendimentos são atrelados principalmente ao IPCA e ao IGP-M, os fundos de inflação surfaram a onda de alta nos últimos meses. E não era de hoje que os analistas de mercado previam a alta da inflação em 2007, conforme mostram os gráficos do relatório Focus, do Banco Central (ver abaixo). O último, publicado em seis de setembro, mostra que a expectativa de IPCA para este ano saiu de 3,44% em maio para 3,71%. A do IGP-M saiu de 3,86% para 4%. Não deu outra. O IGP-M, índice medido pela FGV, acumula 5,17% de alta nos últimos 12 meses. Só em 2007, esse aumento foi de 3,57%. ?Não estávamos esperando chegar a 4% até dezembro. Ainda é setembro e já estamos quase lá?, diz Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV.
Segundo a TAG Investimentos, o fundo de inflação mais rentável hoje é o WestLB FIX Inflation, do banco WestLB, atrelado ao IGP-M. Nos últimos 12 meses, sua rentabilidade foi de 18,72%. ?Quem aplicou em fundo de inflação não deve fazer resgates até que o mercado se estabilize novamente. O investidor que permanecer ainda pode ter bons ganhos pontuais?, recomenda Aristides Campos Jannini, diretor do Banco WestLB.
Os riscos dos fundos de inflação são maiores que nos fundos de renda fixa. ?Eles têm uma volatilidade superior a um fundo de renda fixa tradicional. A longo prazo, essa oscilação compensa?, diz Marcelo Bonini, superintendente de Produtos da Caixa Econômica Federal. O fundo Caixa FIC Capital RF Longo Prazo possui a segunda maior carteira atrelada a índice de preços, com R$ 240 milhões aplicados e nove mil cotistas. A maior fatia fica com o fundo BB RF LP Índice de Preço, do Banco do Brasil: R$ 303 milhões e 2.995 cotistas. O fundo da Caixa rendeu 13,25% nos últimos 12 meses e o do Banco do Brasil, 15,52%.