16/08/2013 - 21:00
Os escândalos do mensalão e do cartel do Metrô e dos trens, enfeixados no simpático apelido de trensalão, apenas para citar dois casos, colocam o PT, o PSDB e outros partidos no mesmo patamar – vexaminoso, diga-se. Em sua estreia no julgamento do mensalão, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso resumiu em poucas frases o saco de farinha em que os políticos brasileiros se metem quando politizam as denúncias de corrupção. “Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção. Não há corrupção melhor ou pior. Dos ‘nossos’ ou dos ‘deles’. Não há corrupção do bem.
A corrupção é um mal em si e não deve ser politizada”, afirmou Barroso, com toda a lucidez, na quarta-feira 14, em Brasília. Por esse raciocínio, todos os partidos deveriam se unir em prol das investigações, quando surgem denúncias de corrupção, em vez de tentar jogá-las para debaixo do tapete. Essa tese vale para o mensalão, que teve a sua versão tucana em Minas Gerais, assim como para o cartel do Metrô em São Paulo, que tem ramificações em obras federais. No âmbito do Congresso Nacional, é preciso reconhecer que inúmeras Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) foram criadas nas duas últimas décadas.
É verdade que os partidos governistas de plantão sempre se esforçam para tentar barrá-las. Uma vez criada a comissão, a base aliada tenta dominar os principais cargos, em especial a relatoria, para que tudo acabe em pizza. Mas, apesar de alguns resultados pífios, as CPIs federais ao menos jogam luzes sobre os casos de corrupção, atraindo a atenção da mídia e dos eleitores. Chama a atenção, no entanto, que em São Paulo, o Estado mais poderoso do País, os pedidos de CPIs relevantes – como, por exemplo, a do Metrô – protocolados na Assembleia Legislativa nunca saem do papel. Os tucanos, que governam o Estado há 19 anos, sempre adotam a tática do rolo compressor para impedir que as investigações aconteçam no Legislativo paulista.
Para manter as comissões ocupadas, criam CPIs inúteis, como a do “Consumo Abusivo de Álcool” ou a do “Parcelamento Sem Juros”. A transparência que o PSDB defende em Brasília não é a mesma adotada em São Paulo. Ou nesse caso não deveria valer o velho ditado “Quem não deve não teme”? Na quarta-feira 14, um pequeno grupo de 100 manifestantes reivindicou em frente à Assembleia Legislativa a abertura de uma CPI dos Transportes para apurar as denúncias de cartel entre empresas, que lesou os cofres públicos em diversas obras do Metrô. Para instaurar uma investigação, os partidos de oposição tentam colher 32 assinaturas de um total de 94 deputados estaduais – mas a maioria apoia o governador Geraldo Alckmin.
No auge das denúncias, Alckmin cobrou “transparência total e absoluta” nas investigações do suposto cartel. “Sou o maior interessado nessa verdade total”, afirmou o tucano, que criou um grupo formado por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo e da Transparência Brasil, entre outras organizações da sociedade civil, para apurar o caso. Qual será o real poder dessa comissão de notáveis? A verdade é que sobrou jogo de cena e faltou coragem ao governador para autorizar publicamente sua base aliada na Assembleia Legislativa a assinar o requerimento de CPI. Sem uma enorme pressão popular, jamais chegará o dia em que o governante de plantão baterá no peito e liderará a abertura de uma CPI para investigar sua própria gestão.