Jeffrey Katzenberg, o mago das produções animadas, saiu da Disney em 1994. Deixou sua assinatura em megassucessos de bilheteria como o Rei Leão, A pequena Sereia e A Bela e a Fera. Deixou também poucos amigos na ex- empresa e chegou a levá-la aos tribunais. Agora, num campo que ele conhece muito bem, Katzenberg apresenta sua maior vingança: um fantástico filme que promete, se não bater, pelo menos encostar no Rei Leão, recordista em bilheteria. Somente no mercado americano, o Rei Leão fez US$ 319 milhões em 20 semanas de exibição. Shrek é o nome da criação de Katzenberg e de seus sócios Steven Spielberg e David Geffen na empresa DreamWorks. O filme, que tem como protagonista um ogro com pele verde, QI de ameba, mau hálito e maus hábitos, vem conquistando fãs em todo o mundo. Nos EUA, registrou US$ 240 milhões em bilheteria em oito semanas, arrancando aplausos de críticos e até dos executivos da Disney. ?É uma grande produção?, reconhece Eduardo Rosemback, gerente-geral da Disney do Brasil. Por aqui, Shrek estreou no dia 22 de junho e deve ficar em cartaz por 10 semanas. Espera-se 2 milhões de espectadores, algo como R$ 12 milhões nos caixas.

Neste momento, a Disney está em cartaz nos EUA e Brasil com o desenho Atlantis: o reino perdido. No mercado americano, o filme rendeu, até agora, em seis semanas, US$ 100 milhões em bilheteria. Shrek, no mesmo período, abocanhou quase o dobro. ?Shrek fez muito barulho, mas hoje em dia é preciso ter uma estrutura por trás das produções?, diz Rosemback, da Disney Brasil. ?O grande feito de um filme é agradar nas telas e sobreviver no mercado depois de sair de cartaz?. Em alguns países, como o Brasil, a DreamWorks sequer tem uma empresa para cuidar do licenciamento dos produtos. Tentou um acordo com a ISL, mas foi em vão. Do outro lado, a Disney esnoba estrutura. Tem acordos com grandes varejistas e vários fabricantes locais. Em seu portfólio há C&A, Extra, Carrefour, Mattel, Hering. É bem verdade que se deve levar em conta os anos de estrada da Disney. De qualquer forma, a DreamWorks tem um longo percurso a fazer fora das telas.

Ainda assim, a dentada do ogro verde animou outros estúdios a tentarem mordiscar a campeã. A Nickelodeon e a Paramount apresentaram na última sexta-feira, 13, sua munição: Rugrats em Paris ? Os Anjinhos. Nos Estados Unidos, arrecadou US$ 100 milhões em oito semanas, a mesma bilheteria do primeiro filme da série. No Brasil, a expectativa é que pelo menos 600 mil pessoas assistam às aventuras dos bebês americanos, 200 mil a mais do que no primeiro filme. ?Este crescimento é certo, pois depois do ótimo trabalho de divulgação da marca feito pela Nickelodeon e pelo SBT, que transmitem os desenhos, os anjinhos ficaram mais conhecidos?, diz César Pereira da Silva, gerente-geral da UIP Brasil, responsável pela distribuição do filme. Também em cartaz desde o dia 6 no Brasil, a febre japonesa Pokémon entra em sua terceira versão. No mercado americano, o Pokémon 3 registrou US$ 17 milhões de bilheteria em três meses de exibição, cifra bem aquém dos US$ 85,7 milhões verificados no primeiro filme da série. Por aqui, a produtora Warner Bros. prevê a mesma tendência. Ou seja, menos fãs para a versão 3.

Se não conseguem competir em pé de igualdade com DreamWorks e Disney nas bilheterias, Anjinhos e Pokémon esquentam o jogo no campo do licenciamento. Calcula-se que o primeiro movimente US$ 1 bilhão por ano com seus produtos. No caso do Pokémon, a cifra é estratosférica: US$ 17 bilhões por ano com a venda de produtos. Por aqui, os bonecos, roupas, lancheiras e cadernos com o desenho nipônico rendem R$ 150 milhões anuais. Moral da história: a Disney criou a fórmula e agora há quem ouse enfrentá-la, seja em bilheteria, seja em tecnologia ou licenciamento. O reino encantado não está mais sozinho.