26/07/2000 - 7:00
Mais de um século depois da descoberta da lâmpada, cerca de 25 milhões de brasileiros ainda vivem na escuridão. Contando apenas com a luz de velas ou de lamparinas de querosene, atividades aparentemente simples, como a comunicação com o mundo, a conservação de alimentos e até o desenvolvimento de atividades produtivas, são extremamente precárias. ?Há um grande contraste: áreas urbanizadas com modernos sistemas de energia em oposição a locais onde a eletricidade nunca chegou?, avalia José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Ciência e Tecnologia. Para tentar amenizar essas desigualdades, o governo busca respostas em um programa de incentivo às fontes renováveis de energia, como a solar, a eólica (vento) e a gerada a partir de biomassa (bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo). Entre as medidas adotadas, estão a concessão de subsídios para a implantação desses sistemas e a fixação de tarifas atraentes para projetos no segmento. ?Nossa intenção é estender os serviços de energia para todo o Brasil?, defende Marcos Aurélio de Freitas, superintendente de estudos hidrológicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os esforços oficiais receberam o aval de empresas como Shell, Siemens e Kyocera (do Grupo Yashica). Atentas ao mercado em potencial existente no Brasil, estão promovendo a descoberta de tecnologias para reforçar a presença no mercado.
?O déficit no abastecimento de energia nos anima a investir no Brasil?, explica Mário Sérgio Cassoli Dias, gerente de energia solar da Shell. A empresa reservou US$ 500 milhões para esse projeto em todo o mundo (leia no quadro entrevista com o presidente mundial da companhia, Mark Moody-Stuart). Até o final do ano, lança no Brasil sistema à base de um inusitado cartão magnético pré-pago, que permite o abastecimento mensal de energia. A casa recebe o equipamento ? painel solar ? e um kit básico com capacidade média de 10 kilowatts. Para efeito de comparação, um apartamento de 100 metros quadrados gasta cerca de 100 kilowatts por mês. O executivo garante que o custo dessa novidade não vai superar o valor gasto atualmente pelo usuário com velas e querosene para lamparinas.
As tristes estatísticas brasileiras animaram outras empresas a investir. Duas alemãs têm planos ambiciosos. A Siemmens quer instalar sua primeira fábrica no País de equipamentos de energia solar. A Wobben está ampliando sua unidade no interior de São Paulo responsável pela produção de pás e aerogeradores (turbinas) utilizados na transformação dos ventos em energia elétrica. Caminho idêntico está sendo seguido pela Kyocera Solar.
Embora o governo esteja se esforçando para impulsionar projetos alternativos, os resultados ainda são acanhados. O Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios (Prodeem) levou energia (em especial, a eólica) a pouco mais de três mil localidades do País, principalmente no Nordeste. Com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), vem conquistando agências de desenvolvimento, como as norte-americanas Upsaide e Winrock. ?Assim, se cria um mercado atraente para as empresas da área?, frisa o diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis, Armando Abreu. Quem sabe, desta forma, os brasileiros que vivem à sombra da civilização poderão começar uma nova vida.