04/02/2009 - 8:00
MAGINE QUE SEU DINHEIRO precisa enfrentar um oceano e o comandante oferece duas alternativas para chegar até um ponto de encontro localizado no meio do mar. Você optaria pela velocidade e pelas fortes emoções de uma lancha, que às vezes precisa realizar uma manobra radical e ficar no limite do risco, ou teria a paciência de aguardar uma boa onda de vento em um veleiro e chegar ao local determinado com segurança? Os investidores têm o mesmo dilema quando aplicam em fundos de investimento. Em todas as categorias é preciso escolher entre a gestão ativa e a gestão passiva. São elas que levam a rentabilidade até o destino combinado, no caso, o índice de referência que pode ser o CDI para os fundos multimercado, renda fixa e DI, e o Ibovespa para os fundos de ações.
Há uma teoria que diz que ninguém é capaz de bater o desempenho do mercado por muito tempo. Por essa suposição, os fundos passivos teriam a probabilidade de entregar melhores resultados ao longo do tempo. É isso o que acontece com frequência nos Estados Unidos, onde os fundos ativos dificilmente conseguem rivalizar com o desempenho daqueles que copiam um índice de referência. “Vários especialistas internacionais preferem os fundos indexados”, diz a consultora de investimentos Viviane Martínez. Para saber se esse mesmo modelo se repete no Brasil, a Fundação Getulio Vargas (FGV) testou a interferência da gestão no mercado brasileiro. Foram escolhidos 68 gestoras com 644 fundos de ações, multimercados e renda fixa que tinham fundos atuantes no período de cinco anos entre 2001 e 2006. O estudo recortou um período de crises (2001 e 2003) e um de euforia (a partir de 2005). A conclusão é que, em ações e multimercados, a gestão ativa traz melhores resultados para o investidor. Ao contrário da renda fixa, na qual as interferências de uma equipe de gestão podem prejudicar os retornos. “A gestão ativa agrega valor para os fundos brasileiros, apesar de esse resultado ser contestado no resto do mundo”, afirma William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV. Os gestores de fundos americanos de ações têm à disposição diferentes índices de referência, montados com base na valorização dos papéis, no desempenho do setor ou mesmo numa seleção das maiores empresas listadas. No Brasil, o Ibovespa é praticamente o único índice utilizado.
A ESTRATÉGIA DE NAVEGAÇÃO NO OCEANO DO RISCO DEFINE
OS CUSTOS E O RETORNO OBTIDO
A gestão ativa seria, então, a melhor maneira de acumular rentabilidade? Nem sempre. Tudo vai depender do seu objetivo de investimento. Veja o exemplo de aplicações conservadoras em renda fixa, na qual o investidor pode ter uma regrinha na cabeça. Os fundos DI devem ser escolhidos quando a taxa de juros está subindo e os de renda fixa, quando a curva de juros estiver decrescente. “O DI é um bom caminho para quem não quer risco nenhum e oferece um juro real que ainda está interessante”, diz Luis Soares, superintendente da Bradesco Asset Management. Isso acontece porque os fundos DI atuam de forma passiva, com a carteira cheia de títulos públicos, proporcionando uma rentabilidade próxima à do CDI. Já os fundos de renda fixa podem optar por uma estratégia de ganhar mais investindo em títulos de dívidas de empresas “O mercado de crédito privado está crescendo, pagando bons prêmios, mas apresenta um risco maior”, afirma Soares. A atenção que o investidor deve ter é com a taxa de administração. Fundos passivos devem cobrar em sua categoria menos que os ativos, que são remunerados pelo esforço do gestor em bons resultados. Coloque também no papel o retorno líquido dado pelo fundo ativo após descontar as taxas de administração e de performance. Se os custos não valerem a pena, reveja a sua escolha.
O investidor precisa estar atento para escolher o fundo ideal. Nem todos os que trazem a palavra ativo no nome têm gestão agressiva. Assim como a falta de identificação não significa que aquele fundo seja passivo. Para encontrar a estratégia, preste atenção no prospecto e nos diferenciais que a gestora destaca. Fundos que se dizem ativos precisam ter a volatilidade e a rentabilidade diferentes das do Ibovespa, por exemplo. “Os fundos ativos são independentes e não têm o compromisso de seguir o ritmo do seu benchmark”, diz Viviane Martinez. Ao contrário dos passivos, que precisam acompanhar as oscilações do índice de referência. Caso ele fuja por um período longo, é preciso saber qual é o risco que o gestor está assumindo. A informação sobre os fundos é pública e o investidor pode ter acesso a ela pelos sites da Comissão de Valores Mobiliários, que disponibiliza a carteira com três meses de atraso, e da Anbid.