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SE VOCÊ SURFOU A ONDA de bonança da BM&FBovespa e aproveitou as aberturas de capital dos últimos anos para encher sua carteira de ações, hoje um grande mico pode estar em suas mãos. É simples como no jogo de cartas, em que o objetivo é formar pares e se livrar do simpático animal. Hoje, muitos papéis vendidos a preço de ouro não têm comprador interessado e valem menos de R$ 2,00 (menos que uma passagem de ônibus em São Paulo). As construtoras foram as campeãs de desvalorização. A Brasil Brokers, que reúne dezenas de corretoras de imóveis, foi lançada em 2007 a R$ 9,50 e fechou na quarta-feira 10 a R$ 1,64, uma perda de 82,7%. Outra do mesmo setor é a Abyara, que três anos depois de estrear no mercado de capitais está valendo 78,8% menos. Os exemplos são muitos (veja quadro) e suscitam as mesmas dúvidas: O que fazer? Vender e realizar o prejuízo ou esquecer da ação até que um dia, quem sabe, ela volte a valer alguma coisa?

O momento é propício para avaliar a carteira. Se essas ações que hoje parecem um mico continuam com você, é sinal de que o desespero não o atingiu no pior momento da crise. “Quem está em uma enrascada tem que ter paciência e inteligência”, afirma Frederico Mesnik, sócio da Humaitá Investimentos. Muitas das empresas que estão no seu portfólio podem ter sofrido uma queda apenas por terem sido empurradas ladeira abaixo, embora tenham um valor escondido. Um exemplo foi o que aconteceu com a Natura, que caiu 41,3% em 2007, enquanto o Ibovespa se valorizou 43,65%. Após uma reestruturação interna, a companhia virou o jogo e encerrou o ano passado com 18% de alta, contrariando as expectativas de mercado e deixando o principal índice da BM&FBovespa a léguas de distância. Neste ano, a Natura está em alta de 10,6%. Para descobrir onde está o potencial de valorização, aproveite a temporada dos balanços, que está no início, e mergulhe nos dados das empresas. Observe o nível de endividamento e em qual moeda foi feita essa dívida. Pagar um empréstimo em dólar, neste momento, pode ser uma furada. Cheque o caixa e onde está o maior mercado comprador dos produtos. Afinal, o apetite internacional pode estrangular o nível do faturamento ao longo do ano. “Usar as regras de ouro do mercado acionário ajuda a entender a saúde financeira das empresas e se desfazer daquelas sem perspectivas de ganhos”, diz Mesnik.

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Realizar prejuízos faz parte do negócio. Não se apegue aos papéis podres ou sua carteira precisará de um socorro em pouco tempo. Se você olhou os números, avaliou as perspectivas para o setor e não encontrou nenhum atrativo para a empresa, venda a ação e refaça sua estratégia. Observe as pechinchas na BM&FBovespa para chegar mais rápido aos ganhos. Entre as barganhas está uma das empresas de Eike Batista, o Senhor X. A LLX Logística perdeu 71% do seu valor desde o lançamento. Esta é uma opção para quem confia no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nas melhorias de infraestrutura. O setor imobiliário, que espera o sinal verde do pacote habitacional do governo federal, pode ganhar novo fôlego. E aí o investidor encontra uma lista de opções baratas: Brascan, JHSF, Tenda, Inpar, entre outras. Não esqueça de olhar as estrelas Vale e Petrobras. Se você acredita que o minério de ferro pode ser reajustado ou que o petróleo atingiu o fundo do poço ao chegar aos US$ 40 o barril, essas podem ser alternativas mais seguras (e ainda baratas).

Se nenhuma dessas sugestões foi atrativa, resta percorrer os caminhos escuros da especulação. O risco é transformar o mico em uma ficha de pôquer. Pode-se arriscar a ganhar ou perder tudo de uma vez. Há investidores que se sentem seguros em conquistar pequenos ganhos. A Laep, por exemplo, oscila neste ano de R$ 0,41 a R$ 0,46, uma diferença de 10% se o especulador acertar o tempo de entrada e de saída. “A especulação é uma área para especialistas. Quem não acompanha o mercado de ações o tempo inteiro pode se machucar”, alerta Alcides Leite, especialista em mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios. Como se sabe, o mico é esperto – e sempre acaba na mão do investidor despreparado.