A pandemia de Covid-19 passou. Depois de as vacinas terem feito o trabalho de proteger a humanidade do coronavírus, a doença ainda mata, mas bem menos. Dos 708 mil óbitos acumulados no Brasil, apenas 136 foram notificados na penúltima semana de 2023. Parece muito? De 1º a 8 de janeiro do ano passado 157,1 mil pessoas contraíram Covid no País e 953 morreram. A queda no número de óbitos é uma notícia excelente no campo da saúde pública. O mesmo não se pode dizer para a economia global.

Os estragos causados pela crise sanitária serão duradouros. Para atenuar os efeitos mais severos da pandemia sobre a atividade econômica, governos de todo o mundo concederam trilhões de dólares na forma de créditos emergenciais. Os incentivos permitiram que diversos setores sobrevivessem mesmo na ausência de receita e deram a populações inteiras a chance de poder pagar as contas.

Foi assim no Brasil, com o auxílio emergencial. O benefício financeiro criado para garantir renda mínima a pessoas em situação vulnerável durante a pandemia repassou recursos da União a 68.280.863 de brasileiros, o que equivale a 32% da população, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social. Os recursos somaram R$ 295 bilhões. Em algum momento essa conta iria chegar. E, evidentemente, ela não vem sozinha.

Para o Institute of International Finance, o endividamento dos países crescerá em média US$ 5,3 trilhões por ano até 2027

A Covid pode ter gerado despesas extraordinárias para o governo brasileiro, assim como fez em outros países, mas ela não é culpada por todas as dívidas que economias acumulam. O que mudou com a pandemia foi o imperativo de afrouxar a relação entre receitas e despesas. Quem iria se preocupar com temas como teto de gastos ou responsabilidade fiscal quando o momento exigia salvar vidas?

A necessidade de injetar dinheiro na economia elevou a dívida de centenas de países, muitos dos quais já gastavam além da arrecadação. Hoje, a conta supera US$ 310 trilhões, segundo dados do Institute of International Finance (IIF). E a previsão é que continue crescendo, em média, US$ 5,3 trilhões anualmente até 2027.

A dívida tende a aumentar mesmo com os países gastando menos. Isso porque a pandemia também causou desarranjos na cadeia global de suprimentos, elevando as taxas de inflação — e o antídoto adotado neste caso foi o aumento dos juros.

No Brasil, como se sabe, a Selic passou de 2% ao ano para 13,75% (a mais alta do mundo em termos reais), patamar que se manteve de setembro de 2022 a julho de 2023, antes de iniciar o ciclo de quedas para os atuais 11,75%. Juros altos ajudam a conter a inflação por encarecer o crédito, o que reduz o consumo. Isso afeta especialmente os que já estão endividados, sejam pessoas, empresas ou países, pois precisam pagar mais para quitar o que tomaram emprestado.

A boa notícia é que há um consenso sobre a queda gradual das taxas de juros em todo o mundo. Ainda que os Estados Unidos devam postergar o início da redução que o mercado previa para o mês de março, é certo que haverá cortes. Mesmo que isso ocorra, é preciso entender que há limitadores para que os juros atinjam os níveis anteriores aos da pandemia. Uma razão é a dificuldade que as economias globais enfrentam para gastar menos do que arrecadam. Nos últimos anos, mesmo sem levar em conta a Covid, poucos países produziram superávit. A maioria acumula déficit. Manter os juros elevados, nesse caso, é uma forma de criar vantagens para atrair investimentos estrangeiros. Com o mundo disputando recursos, quem remunerar melhor o capital de fora tende a se tornar um destino prioritário de investidores. Se todos pensarem e agirem assim, nenhuma dívida ficará mais barata. E a pergunta que dá título a este artigo permanecerá indefinidamente sem resposta.